As maldades de Schopenhauer contras as mulheres (parte II)

     A 1ª parte aqui publicada na semana passada sobre o tema acima, aborda dois pontos: os filósofos e as mulheres e Schopenhauer e as mulheres, especificamente, dentro e fora do pensamento filosófico. O pano de fundo é a obra “A Arte de Lidar com as Mulheres”, do filósofo alemão ora analisado, com a fascinante “introdução” do também pensador, o italiano FRANCO Volpi (1952-2009), o qual dividiu a sua análise em 5 partes: vamos às 3 que ainda restam.
     
     De fracasso em fracasso – Logo após afastar-se da mãe por não aceitar o comportamento dela, o jovem Artur “tivera uma oportunidade de ouro para corrigir sua pessimista imagem do outro sexo”. Logo vem seu primeiro “castigo”. Apaixona-se por Caroline Jagemann, prima-dona no Hoftheater de Weimar, a qual, posteriormente, tornou-se amante do duque Karl August. 
     Contudo, “o amor permaneceu platônico”. Anos depois, quando se viram em Frankfurt, nada mais tinha sentido. O velho filósofo contou à sua musa, “a história dos porcos-espinhos”, publicada num de seus livros: esses animais, “para se proteger do frio do inverno com seu calor, queriam ficar bem perto uns dos outros, mas seus acúleos sempre os espantavam, obrigando-os a se afastar”. É exatamente isso que ocorre com as pessoas, quando o amor não é correspondido, comparou o mestre.
     Em 1814, no auge de sua mocidade – aos 26 anos -, Schopenhauer teve um herdeiro com uma jovem camareira, em Dresden. Mas “o filho do pecado morreu pouco depois do nascimento”. Apesar da declarada misoginia, “nosso filósofo tendia à “paixão longitudinal” e não renunciava absolutamente aos prazeres da carne. Em suma, pregava mal, mas sabia praticar muito bem”.
     Aos 30 anos, em 1818, esteve na Itália pela 1ª vez, e quando chegou a Veneza, logo aventurou-se com Teresa Fuga, “uma dama de costumes fáceis”. Foi por causa dela que o moço perdeu o encontro com o poeta inglês Byron. Porém, ficou cismado com a história contada por um tal Robert von Hornstein, que só naquele ano os 3 estiveram na mesma hospedaria: o inglês, o alemão e o italiano Leopardi. A procura de quem? De Teresa, é claro.
     Em Florença, o encrenqueiro filho de Johanna “enriqueceu o catálogo de suas conquistas”. Por lá estava uma nobre inglesa a fim de curar-se da tuberculose, quando Artur foi acometido de “profunda paixão”, e a “armadilha” do matrimônio, “a que a natureza nos conduz” estava prestes a acontecer. Porém, a doença da amada fê-lo recuar do casamento. Todavia, segundo Adele, irmã do pequeno sabichão, essa nobre, foi para sempre, o grande amor da vida dele.  
     Já em Berlim, o colecionador de fracassos amorosos, “buscou consolo nos braços da corista Caroline Richter Medon”. Queria extrair dela o néctar do verdadeiro amor. A relação foi instável, mas intensa e mantida em segredo por muito tempo. Quando esteve na Itália pela 2ª vez, por quase 1 ano, soube que Medon deu à luz um belo menino: Carl Ludwig Gustav Medon. Era tudo muito estranho. Mas em seu caderno, o marido esclareceu tudo e escreveu: “Os homens são, durante a metade de suas vidas,  fornicadores e, na outra metade, maridos traídos; e as mulheres se dividem, de acordo com isso, em traídas e traidoras”.
     Muito chateado, a princípio, ele tentou vingar-se, ao conhecer Flora Weiss, de apenas de 17 anos, filha de um comerciante de arte. Apesar dos seus quase 40 anos (1827), fez-lhe proposta de casamento. Logo ele: “CASAR-SE!” – “significa enfiar a mão em um saco, de olhos vendados, na esperança de descobrir uma enguia no meio de um monte de cobrar”, ou ainda, “dividir seus direitos ao meio é dobrar seus deveres”.  A proposta foi recusada: “Ainda é uma menina!”, respondeu o pai comerciante. ” A mocinha não quis saber de conceder a sua primavera ao enrugado pensador”.
     Em 1831, ele deixa Berlim rumo a Frankfurt, mas quer levar consigo a traidora Caroline e o fruto da traição, Gustav Medon. “Como boa mãe que era”, o frustrado Artur teve que partir sozinho. As portas que davam acesso ao seu coração estavam começando a ser fechados por fora e, por alguém  que sabia muito bem quem era: uma mulher.
     Tem mais: não satisfeito com as suas desventuras, certa feita, Schopenhauer espancou uma costureira que era sua vizinha, a senhora Caroline Marquet, que tagarelava com outras comadres, inquietando o pensador. Resultado: o processo durou 5 anos, e no fim o agressor foi condenado a pagar à vítima, “uma pensão vitalícia”. Depois que ela morreu, o culpa escreveu esse jogo de palavras: “Obit anus, abitonus”, ou seja, “A velha morreu, o ônus diminuiu”.
     Depois de se transferir definitivamente para Frankfurt, renunciou para sempre a ideia do casamento. “Porém, não às mulheres em absoluto, ou melhor: a uma ‘petite liaison si nécesaire'”. Resultado: desse relacionamento, nasceu outro filho ilegítimo, morto pouco tempo depois do parto.
     
     “Dulcis in fundo” – Na velhice, uma surpresa. Enquanto “o Nilo está chegando ao Cairo” (palavras sobre ele mesmo; sobre o fim da própria vida), por achar que estava”libertado” das correntes do sexo, “o Cupido lançou uma última, inócua flecha: uma jovem escultora, Elisabeth Ney, com o intuito de realizar um busto do sábio, visitou-o no outono de 1859 (ele com 71 anos) e se estabeleceu em sua casa por quase um mês. “O ancião ficou entusiasmado. A jovem artista fez vacilar nele a imagem pessimista que alimentava sobre a mulher desde os conflitos com a mãe e teorizada durante muitos anos em bases pseudometafísicas. 
     Por fim, teria dito que a mulher consegue destacar-se mais do que o homem.  Segundo ele, o homem marca “um limite”, a mulher, por sua vez, “se desenvolve cada vez mais”.
     A mulher sem qualidades – “A arte de lidar com as mulheres” “é um florilégio de sentenças em que Schopenhauer expõe sua concepção da mulher”, com escritos editados e inéditos, sobretudo a célebre “Metafísica do amor sexual”.
     Explica FRANCO que o resultado do presente “manual” vem de um apanhado de temas de diversas obras daquele pensador. “Não somente isso: a antropologia schopenhauerriana do comportamento feminino, que nas intenções é científicas e objetiva, trai, na verdade, toda a preocupação de quem foi atingido em sua parte mais sensível e escreve cum ira et studio.  
     Verdadeiramente, as observações de Artur, “tornam-se mais um catálogo de conselhos para advertir o sexo masculino das fatais insídias, dos riscos e dos extenuantes conflitos que inevitavelmente estão ocultos no relacionamento com as mulheres”.
      Ao término de sua análise, Volpi admite ser fácil para o mundo atual, compreender porque Schopenhauer  ignorou em seu repertório “a inexaurível riqueza do eterno feminino”, como conceitos do tipo: “femme fatale, femme fragile ou femme vamp” . “Enfim: a sua mulher é uma mulher sem qualidades. Mas por outro lado, deixou “proposições ricas de amenidades”.
     Seja  como for, o estudioso teve tempo suficiente para rever suas concepções. Não o fez. Deixando, portanto, um tratado (de caráter filosófico, sociológico e antropológico) perfeito para os que pretendem, até hoje, desvalorizar a mulher em todos os aspectos, em todos os sentidos. Fica a critério de cada um, de cada uma,  que nos acompanha semanalmente, concluir seu pensamento. O tema está lançado. Não para polemizar, mas para conciliar. E que todos possam viver harmoniosamente: em PAZ.
    “O CORAÇÃO DE UMA MULHER É UM OCEANO PROFUNDO  E CHEIO DE MISTÉRIOS“.
                                                              (personagem do Titanic, de Spielberg)
     Pesquisa: Francisco Gomes. Texto: Winnie Gomes
     Fontes
     1. Slideshare.net
     2. A Arte de lidar com as mulheres, de Artur Schopenhauer, com introdução de FRANCO Volpi.
     3. Os grandes clássicos da Literatura, volume 3, brasileira, SP, 1982.

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