Antonieta de Barros: a educadora que criou o Dia dos Professores

Ontem, 15 de outubro, foi o Dia dos Professores. Vocês já pararam para pensar sobre a história da data comemorativa? Bem, em 1827 Dom Pedro I criou no dia 15 de outubro de 1827 uma Lei Imperial sobre o Ensino Elementar no Brasil. Mas, foi a professora Antonieta de Barros, a primeira mulher negra a assumir o posto de Deputada Estadual do Brasil, que criou o Dia do Professor e o Feriado Escolar nessa data (Lei no 145, 12 de outubro de 1948) em Santa Catarina. A data foi oficializada no país em outubro de 1963, pelo Presidente João Goulart.

Antonieta Barros. Fonte: Biografia Antonieta de Barros, professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil, autoria de Jeruse Romão, p. 18. (Publicado no site Memória Política de Santa Catarina).

Antonieta foi professora, jornalista e escritora. Nasceu em 11 de julho de 1901, em Florianópolis. A Memória Política de Santa Catarina fala o seguinte sobre Antonieta:

“Em Florianópolis, lecionou na Escola Normal Catarinense (ensinava português e literatura, a partir de 1934), no Colégio Coração de Jesus e no Colégio Dias Velho, neste último foi Diretora, de 1937 a 1945. Foi professora do atual Instituto Estadual de Educação, entre os anos de 1933 e 1951, e sua Diretora, de 1944 a 1951, nomeada por Nereu Ramos, quando se aposentou, mas continuou ensinando até o fim de sua vida”.

Destacou-se pela dedicação aos estudos; pela coragem de expressar suas ideias em uma época que as mulheres não tinham liberdade de expressão; por ter conquistado um espaço na imprensa e, por meio dele, opinar sobre as mais diversas questões; e principalmente por ter lutado pelos menos favorecidos e pela educação”.

Segue o trecho do discurso proferido por Antonieta durante a promulgação da Lei nº 145:

“Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços; é transportar às almas que o Senhor nos confiar, à força insuperável da Fé.”

Antonieta escreveu artigos para os jornais locais e escreveu o livro “Farrapos de Idéias” (conforme a regra gramatical da época) com o pseudônimo Maria da Ilha. Suas crônicas falam sobre educação, preconceito racial e a condição feminina. A pesquisadora Karla Leonora Dahse Nunes, estudou as crônicas de Antonienta. Eis aqui, uma passagem retirada do trabalho de Karla, intitulado “Antonieta de Barros: uma história” (link para acessar o trabalho completo https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/81514/187558.pdf?sequence=1), na qual foi foi publicada no Jornal O ESTADO, 16/09/1951, quando Antonienta estava no final de sua carreira como educadora:    

“Num país como o nosso em que, em geral, não se dá ao professor o conceito que o seu trabalho na educação da coletividade impõe, nega-se-lhe também, a possibilidade de poder ficar acima das dificuldades financeiras. Por isto mesmo, não é de admirar que o Magistério seja irmão muito fraco, como profissão. No entanto, justo não é também, que dele se faça apenas uma achega. E não é justo, tendo em vista a elevada causa que é a sua bandeira. O magistério é absorvente, rouba-nos a nós mesmos, escraviza-nos por completo. E a esta sua absorção, a esta escravização só se submetem os agraciados pelo Senhor, com o lindo trabalho de educar[…]”.

Segue outra passagem de Antonieta, publicado no livro “Farrapo de idéias” (1937):

“Não basta a alfabetização. È preciso que se torne acessível, a todas as criaturas a escalada deslumbradora […] Sem cultura, não se consegue a independência moral, apanágio de todos os que genuinamente livres, senhores da sua consciência, conhecedores do seu valor, integralizados na sua individualidade; a independência moral que transforma pigmeus em gigantes, e dá aos homens, força para enfrentar os mais sérios obstáculos quando se sentem escudados pela razão e pelo direito; a  independência moral que leva as criaturas a agirem individualmente, embora se quebrem todos os elos e as apontem como iconoclastas impenitentes e contra eles chovam as censuras da Rotina, cujos preconceitos foram abandonados[…] sente-se cada vez mais imperiosa a necessidade imprescindível de se conceder às massas , em toda sua plenitude, o pão do espírito[ …]”.  

A pesquisadora nos explica sobre essa passagem: “Antonieta acreditava ter conquistado sua liberdade pela cultura, pela educação e parecia acreditar que se outros a seguissem também conquistariam suas independências” (NUNES, 2001, p.80).   

Antonieta é um marco histórico da nossa Educação Brasileira. Lutou. Suas palavras ecoam os dias atuais. Bem, existe muito e muito mais de Antonieta. Mas gostaríamos de prestar essa pequena homenagem ao Dia dos Professores e à Antonieta Barros. Ela merece ser lembrada, faz parte da nossa história. Ahh minha gente, como precisamos estudar mais nossos educadores brasileiros. Procuramos por estudos e teorias educacionais fora do Brasil, e esquecemos da nossa produção, da nossa gente, do professor que está no chão da sala. Temos muito o que aprender da nossa realidade educacional brasileira, e para isso, precisamos dar voz para os nossos professores. 

Winnie, Gomes e Angel

Referências:

Memória Política de Santa Catarina: https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/68-Antonieta_de_Barros.#:~:text=Professora%2C%20jornalista%20e%20escritora%2C%20natural,popular%20no%20Brasil%2C%20s%C3%A9culo%20XX.

NUNES, Karla Leonora Dahse et al. Antonieta de Barros: um história. 2001.

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