In(justiça)

Segundo o poeta Olavo Bilac, a Língua Portuguesa é “inculta e bela”. Ela não é rica apenas pelos seus 350 ou 370 mil verbetes. Mas, acima de tudo, pela significância (ou In) de suas palavras, seja pela poesia ou pela prosa, ou ainda pela linguagem comum de sua gente, aqui no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Os nossos recursos gramaticais são fantásticos. Certa vez, um desses poetas que vivem no anonimato escreveu que a culpa, só precisa do Des, para que alguém possa ficar livre de um ato delituoso: desculpa. Assim, acontece, por exemplo com In(justiça), In(coerência), In(compreensão), In(sensatez), In(gratidão), etc. É só atribuir a cada um o prefixo In para mudar o seu sentido.

Vamos então, usar a palavra In(justiça), para a gente não se perder na vastidão da “última flor do lácio”. Vem de Ulpiano, o célebre juris consulto romano, a mais lapidar de suas máximas: “Justiça é aa vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu”. Seguindo este mesmo raciocínio, o jurista brasileiro Torrieri Guimarães, Justiça é o “equilíbrio perfeito que estabelecem a moral e a razão entre o direito e o dever, ou seja, onde o valor predominante é a igualdade”. A expressão justiça social, por exemplo, surgiu no século XIX, e por que então, padecemos (ainda) de tantas injustiças, que resultam das desigualdades humanas?

Imagem: Pixabay

O versátil pensador alemão Bertolt Brecht (1989-1956) – tantas vezes injustiçado, tanto no seu país quanto onde escolheu escrever as suas peças teatrais, ou seja, nos EUA – diz em Elogio da Dialética, estes irrefutáveis versos: “A injustiça avança hoje a passo firme;/Os tiranos fazem planos para dez mil anos./O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são/Nenhuma voz além da dos mandam/E em todos os mercados proclamam a exploração;//Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem/Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.//Quem ainda está vivo não diga: nunca/ O que é seguro não é seguro/As coisas não continuarão a ser como são/Depois de falarem os dominantes/Falarão os dominados/Quem pois ousa dizer: nunca/De quem depende que a opressão prossiga? De nós/De quem depende que ela acabe? Também de nós/O que é esmagado que se levanta!/O que está perdidos, lute!/O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha/E nunca será: ainda hoje/Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã”.

Entre nós brasileiros essa ocorrência fora observada assim, pelo notável escritor pernambucano Ariano Suassuna (1927-2014): “…que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”.

Tem mais. Assim pensava a respeito, o pacifista indiano Mahtma Gandhi (1869-1948): “Os sete pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo”.

E para finalizarmos, vamos nos encantar com este imortal soneto, “Injustiça” do poeta carioca Giuseppe Artidoro Ghiaroni (1919-2008), cujo seu eu lírico fascina o leitor dom estes 14 versos: “Tu queres que eu te esqueça de repente,/que esqueça de repente os teus carinhos,/eu que venho amando aos bocadinhos,/desde quanto te era indiferente!//Deixa-me ir esquecendo lentamente,/voltando aos poucos sobre os teus caminhos,/Arrancando um a um os teus espinhos,/Até ver uma estranha à minha frente.//Dá-me um beijo de menos cada dia,/inventando um pretexto que sorria;/de maneira que eu sabia sem saber.//pois queres que eu te esqueça de repente, e nem sei se uma vida é suficiente/para – mesmo aos pouquinhos – esquecer!”.

Gandhi bem disse estas sábias palavras: “Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, a injustiça é minha”. Muito bem nobres leitores, que em 2023, possamos ser mais justos (para além da garantia dos direitos) para dar visibilidade aos injustos. É sobre fortalecer as relações humanas com base na humanidade para que a justiça possa salvar a sociedade da dor e desesperança.

Feliz Ano Novo! São os votos do Facetas.

Gomes, Angel e Winnie.

Fonte:

O Secular Soneto

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