O segredo musical de Mutinho

Você sabe quem é Lupicínio Moraes Rodrigues? É o baterista, cantor e compositor gaúcho nascido em Porto Alegre em 4 de fevereiro de 1941. Portanto, ontem completou 82 anos de idade. Sobrinho do inesquecível cantor e compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974), conhecido como Mutinho no meio artístico, é autor de inúmeras canções, como Sonho de Heloísa, Azul de Maio, Sem Saída, Meu Segredo (título do CD), entre outras. Desde de muito jovem, esteve cercado por músicos e cantores. Possuindo, portanto, “diversos parceiros como Vinicius de Moraes, Toquinho e Tom Jobim. E também é considerado como intérprete de Caetano Veloso devido sua voz ser parecida com a do baiano” (1).

Mutinho (1962), aos 21 anos. Início da carreira

Em 1968, se apresentou em Buenos Aires. Em seguida, foi para o Rio de Janeiro, a convite da famosa pianista Tania Maria, para tocar em São Paulo, onde ele reside até hoje. Depois passou a acompanhar Elis Regina, Pery Ribeiro, Leny Andrade e outros. Em 1972, “foi convidado para juntar-se a Vinicius e Toquinho, e o Quarteto em Cy, no Segundo Circuito Universitário no Rio de Janeiro” (1). Ainda com esse grupo, seguiu para o Uruguai, Argentina, Equador, México e Venezuela. Em 1976 esteve no Olimpya de Paris e no Sistina de Roma, ao lado de Vinicius, Toquinho e Maria Creuza.

Em 1977, acompanhou Tom Jobim, mais os três acima citados, “em temporada de 8 meses no Canecão, Rio de Janeiro. Em razão do sucesso o espetáculo estendeu-se para outros países: Argentina (Buenos Aires); França (Paris); Itália (Roma, Milão, Firenze) chegando até ao Oriente Médio”; esteve no Japão, onde gravaram discos com o cantor Sadao Watanabe. Após a morte de Vinicius, em 1980, Mutinho seguiu com Toquinho até 1996. Atualmente, apresenta-se no Piano-Bar “Baretto”, em São Paulo.

Eis aqui, pelo menos, duas curiosidades musicais sobre o artista, ora em análise: 1ª). “Ao contrário do que muitos poderiam, pensar, em suas canções Mutinho ficava encarregado de fazer a música, harmonia, enquanto que seus parceiros, a letra. Foi o caso de Toquinho, que na maioria das composições escreveu as letras. 2ª). Outro fato é que, muitas pessoas acham que sucessos, como Turbilhão e Escravo da Alegria, foram compostos por Vinicius e Toquinho, não sabendo da presença de Mutinho em diversas obras”.

Em agosto de 2017, João Máximo, publicou o artigo: “Crítica: Lacuna de Mutinho é finalmente reparada”, assim: “‘Meu Segredo’ traz 15 das canções do compositor, algumas inéditas, todas de qualidade” (2). E, completa: “A questão não é só saber por que só agora, aos 76 anos, o gaúcho Mutinho ganha seu primeiro disco autoral – o baterista das estrelas chega enfim ao disco solo -, mas tentar entender por que, sendo tão bom ou melhor compositor que baterista, é tão reconhecido pelos músicos e tão pouco conhecido pelo público” (2).

O CD em questão é uma obra-prima da música brasileira. Todas as quinze composições são excelentes. O encarte é um livreto primoroso. Pois, além de trazer a íntegra de todas as canções, ilustra dezenas de fotos dos 60 anos de carreira do artista, junto a familiares e notáveis da MPB. Para completar a riqueza artística do trabalho, o músico, faz um relato da história de cada letra contida no disco. É simplesmente fantástico! Geralmente, a gente não fica sabendo o porquê das composições. Aqui, é diferente.

A apresentação de “Meu Segredo”, é feita por Carlos Chagas (fevereiro/2017), cujo relato é o seguinte. Escrito com alma. Com sentimento. Com poesia: “O Universo é som. Existe notas musicais em tudo. Na harmonia das esferas, nas vibrações das moléculas e átomos, no canto das baleias e golfinhos, na fala humana em seus padrões rítmicos, na geometria sagrada das grandes catedrais. Assim como existem em certos acordes do vento, sibilando ou rugindo por onde ele passa, nos murmúrios e arroubos das águas, no “adágio” das brisas soprando nas folhas, na percussão das pessoas sobre o chão e até mesmo no “allegro” de aplausos com que são festejados os grandes artistas.

Mutinho nasceu com a sensibilidade de que vivemos rodeados de música, e assim cresceu. Primeiro, para marcar as cadências que formam os ritmos com que notas e acordes produzem canções. Fez isso através dos metais, das madeiras e peles que se combinam e formam uma bateria. Mas cumpriu em paralelo o outro lado e buscou harmonia com o corpo abraçado nos seus violões para compor melodias de alto padrão. O DNA conspirou a favor da vertente do tio, Lupicínio Rodrigues. E o destino e o tempo se encarregaram de o aproximar de nomes consagrados como Tom, Vinicius, Toquinho e outros ícones da nossa música, com quem viajou as estradas do mundo.

Este disco é o resultado de uma vivência inundada de sons e harmonias, agrega o talento de cantores e músicos que sintetizam vertentes ao que de melhor se produziu e produz no Brasil nessa arte. Pode ser, portanto, considerado um presente para aquelas pessoas que não apenas gostam de música, mas que precisam dela para viver bem” (3).

Criação e arte de Elifas Andreato. Capa do disco

Apenas para exemplificar a obra: “A noite parece cansada/E o dia acorda vadio/E aquele guri na estrada/Me lembra as noites de frio/Seguindo a estrela dourada (Estrela Dourada, de Mutinho e Márcio Mutalupi). Segundo o autor, “esta canção conta a história de uma pessoa sonhadora que, escalada pelos percalços da vida, manteve seus pés no chão, agarrou-se à profissão e à paixão pela música, desde as noites de frio no Sul do país até os palcos de todo o mundo, mantendo sua humildade e seu caráter”. É a homenagem que recebi carinhosamente de meu filho e parceiro Márcio Mutalupi. Também inédita” (3).

Por favor, nobres leitores, ouçam “Meu Segredo”. Ouçam Mutinho. Trata-se de um CD imperdível. Os senhores, as senhoras, não se decepcionarão. Pelo contrário: “O Universo é som. Existem notas musicais em tudo”. Em tudo mesmo, como diz Carlos Chagas. O segredo musical de Mutinho não consiste em algo misterioso, mas sim, no conteúdo valioso do seu trabalho. Pela excelente qualidade de suas letras, suas melodias e seus arranjos, aqui comentados. Por mérito, é claro. Aos 76 anos de vida. Assim como fez Cora Coralina, na poesia. Quando a terceira idade estaria bem vivida. Esperamos, portanto, mais uma vez, que gostem de mais esta postagem do Facetas.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes: 1. pt.everybodywiki.com; 2. https//oglobo.globo.com; e 3. CD “Meu Segredo”, de Mutinho, Kuarup (www.kuarup.com.br), RJ, 2017.

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