Moacir Andrade: de Manaus para o mundo

Moacir Andrade, ou melhor Moacir Couto de Andrade (1927-2016), nasceu e morreu em Manaus (AM). Passou a sua 1ª infância na cidade de Manacapuru (AM), com os pais Severino e Jovina. Mas, em 1934 a família Andrade voltou a morar em Manaus, onde o menino iniciou os seus estudos primários.

Imagem: A Crítica, 27 do 07 de 2016

No ano de 1939, Moacir já era aluno do tradicional Ginásio Amazonense Pedro II, mais conhecido como “Colégio Estadual”, situado no centro histórico manauara. De lá foi para o Liceu Industrial de Manaus (Secundário Profissional) em fevereiro de 1942, como aluno interno, “já que o menino era exímio desenhista e suas pinturas despertavam admiração às autoridades da época” (1). No Liceu ficou até fins de 1945, “quando finalizou o curso industrial que equivalia ao curso ginasial”(1).

Em 1948, ingressa como desenhista de construção da empresa Mário Novelli, que construiu o “Santuário Adriano Jorge” (1). iniciava ali, portanto, a profissão de desenhista, de pintor. Além, é claro, de Antropólogo, Ecologista, Folclorista e Sociólogo. E, um eterno apaixonado pela literatura. Só para exemplificar, em 1954, juntamente com Jorge Tufic, Antísthenes Pinto, Saul Benchimol, Farias de Carvalho, Djalma Passos, entre outros, “fundaram o Clube da Madrugada sob o pé de uma frondosa árvore em plena Praça de Polícia Militar, que denominaram de “mulateiro” ou “Banco dos Patos” (1).

Aquelas “reuniões” alicerçaram lhe ideias que se materializaram em muitas obras literárias, de sua autoria. Entre, as que mais se destacaram são: Catálogo; Desenhos; Manaus, monumentos, hábitos e costumes; Alguns aspectos da Antropologia cultural do Amazonas; Nheengatu ou narrativas amazônicas; Manaus, ruas, fachadas e varandas. Além de muitos manuais de exposições e poemas, boa parte deles deles continua inédita.

Moacir também, foi um dos fundadores da “Pinacoteca Pública do Estado, Fundação Cultural do Amazonas, Instituto Brasileiro de Antropologia da Amazônia, Sociedade para a Defesa da História e das Tradições Populares do Amazonas, Instituto Botânico do Amazonas, Academia de História do Amazonas” (1). Em Portugal, onde era membro da Academia de Artes de Lisboa, ajudou a fundar a Sociedade dos Amigos de Ferreira de Castro (autor do clássico amazônico (“A selva”); nos EUA, criou a Escola de Arte para criança; em Manaus, incansavelmente, sempre colaborou para os jornais com a publicação de artigos com temáticas eminentemente culturais.

Seu interesse com afinco pelo magistério surgiu, ainda, na sua juventude, quando foi professor da Escola Normal “São Francisco de Assis”, cujo proprietário era o mestre Fueth Paulo Mourão. Quando já homem experiente “lecionou Educação Artística na Universidade do Amazonas (hoje UFAM), Escola Técnica Federal (hoje IFAM), Colégio Estadual Amazonense e no Colégio Militar (do Exército) de Manaus, onde concebeu e construiu um Monumental Mural em Madeira” (1), o qual continua lá – bem no centro de Manaus -, para deslumbrar e encantar os visitantes (trabalho impecável!).

Moacir, foi o criador de muitos cursos gratuitos na capital e no interior do Amazonas, nos quais ensinou desenho, pintura, escultura em barro, madeira e gesso. Além de ter realizado várias exposições: foram mais de 140 delas entre 1941 a 1990, no Brasil e no exterior. Como na Biblioteca Pública do Amazonas: 1955/1956; no Museu de Arte de São Paulo: 1958; na cidade do BID (Washington-EUA): 1969; na Mini Gallery, em Ipanema, Rio de janeiro: 1972; na Galeria Orozco (México); 1974; nas cidades de Viena, Lunz, Graz e Salzbusj (Austrália): 1980; na Galeria da Embaixada da França (Brasília): 1988; na Pinacoteca Amazonense: 1990; e em tantos outros lugares mundo afora. Inclusive, foi ele o primeiro pintor a expor oficialmente as suas telas na recém inaugurada Brasília, no início dos anos 1960.

Entre 1990 e 1993, expôs sua primorosa obra na Finlândia, Portugal, França e Itália. Cabe salientar, portanto, que “seus quadros, espalhados pelo mundo, encontram-se em casas de amigos e de admiradores de suas obras, bem como nos acervos de muitos museus e pinacotecas” (1), como no Senado Brasileiro, em Portugal, Inglaterra, Equador, Alemanha ou Japão. Assim como nas Pinacotecas do Rei Charles, em Londres; do ex-Presidente Sarney; do Comando Militar da Amazônia; ou do ex-princípe Hiroito, do Japão, entre outros.

“Sobre sua personalidade artística e literária, muitos escreveram, entre eles”: Vinicius de Moraes, Jean Paul Sartre, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Álvaro Botelho Maia, Djalma Batista, Cláudio Santoro, Gabriel García Márquez, Samuel Benchimol, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Tufic, Otto Maria Carpeux, Robério Braga, Leandro Tocantins e muitos outros.

Enquanto mais se contempla as telas de Moacir, mais os nossos olhos brilham. A gente fica extasiado, deslumbrado diante de tanta beleza nelas contida. Por exemplo, em 1980, quando foi inaugurado o complexo escolar “Djalma da Cunha Batista”, o pintor doou para a escola, “As Palafitas”, um majestoso quadro de quase dois metros quadrados. Aliás, espera-se que o mesmo permaneça lá. Pois, trata-se de um bem patrimonial (e cultural) do Estado do Amazonas.

Portanto, apresentamos aqui pequenos dados da vasta biografia desse grande artista, que nasceu no dia 17 de março de 1927 e morreu aos 89 anos em 27 de julho de 2016. Se fisicamente vivo estivesse, no dia 17 deste mês, estaria completando 96 anos de idade. Mas, vivíssimas estão a sua memória e a sua criação artística. As suas palavras nos emocionam, como as do parágrafo seguinte, que as dedicamos aos nosso nobres leitores.

sobre a obra que consultamos para este tão fragmentado artigo, tão pequenino, mas autêntico, diante da grandeza e criatividade de Moacir, que assim escreveu: “Essa antologia é um livro de poema, cada biografia é uma poesia à PAZ, a VIDA. O poeta é assim, como pesquisadores abissais da alma humana, sempre pronto a captar com a sua afiada sensibilidade, as profundezas incognoscíveis desse universo polimorfo que somente ele pode navegar e colher como um beija-flor primaveril, o néctar e o perfume que se transformam nesse arguto perceber do agora-e-sempre; de luzes e sombras, de brumas, de fagulhas, explosões efêmeras manhãs de augusto sol, brilho maior de amor intenso em pura transparência” (1).

Vivas as ARTES! Viva os artistas! Vima Moacir Andrade, sempre!.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte: 1. Andrade, Moacir. Antologia Biográfica de Personalidades Ilustres do Amazonas. – Manaus: Imprensa Oficial do Estado, 1995.

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