“Breve história externa da Língua Portuguesa”

A língua portuguesa é mesmo a “última flor do Lácio, inculta e bela (…), esplendor e sepultura (…), desconhecida e obscura”, como versou o poeta Olavo Bilac. Porém, há sempre alguém disposto a fazer com que o idioma seja belo, culto, castiço . Por exemplo, o filólogo e professor pernambucano Evanildo Bechara (95), ao lançar Gramática Escolar da Língua Portuguesa, fez constar na sua obra uma “breve história externa da língua portuguesa”. Outra relato interessante é “Noções elementares de versificação”. Ambas são indispensáveis tanto para o nosso como para o conhecimento dos nossos seguidores.

Nas “orelhas” do livro em análise a editora faz esta observação: “há duas maneiras de aprender qualquer coisa: uma, leve, suave, com informações corretas mas superficiais, que, pelo incompletude da lição, não indo aos assuntos a ela correlatos, acaba sendo insuficiente para permitir a fixação da aprendizagem. É um método que pode agradar, e até divertir o leitor menos exigente; mas não lhe garante o sucesso do conhecimento.

A segunda maneira é aquela que procura dar um passo à frente da resposta breve e imediata: estabelece relações entre a dúvida apresentada e os outros assuntos afins, de modo que, aprofundando um pouco mais a lição, amplia o conhecimento e garante sua permanência, porque não se contenta em ficar na superfície dos problemas e das dúvidas”. Isto significa que: “a primeira ensina, no mar de dúvidas, a manter-se à superfície; não afunda, mas não sai do lugar. A segunda, além de permitir à pessoas permanecer à superfície, ensina-lhe dar braçadas, ir mais além”. Por assim dizer, não há aprendizado mínimo e correto sem estudar o vernáculo com afinco.

Portanto, continua a Lucerna, a “obra do prof. Evanildo Bechara visa a preparar o leitor para utilizar com eficiência e correção, falando ou escrevendo, esse instrumento maravilhoso e fundamental de comunicação, a linguagem humana”. É exatamente esse ensinamento que extraímos tanto para nós, do Facetas, como para nossos leitores.

Segundo o mestre em questão, “a língua portuguesa é a continuação ininterrupta, no tempo e no espaço, do latim levado à Península Ibérica pela expansão do império romano, no início do século III a.C., quando do processo de romanização dos povos lusitanos e galaicos” (1). Os séculos foram passando e esse idioma foi ganhando cada vez mais espaço. Por exemplo, “entre os séculos XV e XVI, Portugal ocupou lugar de relevo no ciclo das grandes navegações”. Daí a propagação (e manutenção) desse idioma pelo povo ibérico.

“Do ponto de vista linguístico o português contemporâneo, fixado no decorrer do séc. XVIII, chega ao século seguinte sob o influxo de novas ideias estéticas, mas sem sofrer mudanças no sistema gramatical que lhe garantam, neste sentido, nova feição e nova fase histórica”. Chegou ao Brasil em 1500. Mas, “só em 1534 foi introduzida a língua portuguesa com início efetivo da colonização, com o regime das capitanias hereditárias. Conclui-se que a língua que chegou ao Brasil pertence à fase de transição entre a arcaica e moderna, já alicerçada literalmente” (1). muito, muito distante daqueles 300 anos a.C.

No Brasil dessa época já havia uma variedade de 300 falares indígenas. Hoje reduzidos a cerca de 170. Segundo o estudioso em foco. Depois, é óbvio, veio “a contribuição das línguas africanas em suas duas principais correntes para o Brasil: ao Norte, de procedência sudanesa, e ao Sul, de procedência Banto”. Foi nesse processo que a cultura portuguesa foi predominando sobre a “língua geral” de falares nativos e africanos. Daí veio a chamada “consciência do português como língua nacional e língua materna”(1).

Mestre Bechara, ao se reportar sobre a Lusofonia e seu futuro, enaltece a todos que mantêm vivo esse idioma: “os escritores ( poetas, filósofos, entre outros) dos século XIX e XX de todos os quadrantes da Lusofonia souberam garantir este patrimônio linguístico herdado de tanta tradução literária” (1). Seja em Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, etc. Onde “a língua portuguesa, patrimônio cultural de todas estas nações, tem sido, e esperamos seja por muito tempo, expressão da sensibilidade e da razão, do sonho e das grandes realizações” (1).

Patrimônio de todos e elo fraterno da Lusofonia de cerca de 200 milhões (há 20 anos) de falantes espalhados por todos os continentes, continuaremos a formular os votos de Antônio Ferreira, no séc. XVI: Floresça, fale, cante, ouça-se e viva/ A portuguesa língua, e já onde for,/ Senhora vá de si, soberba e altiva!” (1).

Sabe-se ser aqui o resumo do resumo. Mas, uma verdadeira aula sobre o nosso vernáculo lecionada pelo professor Evanildo Bechara, aula essa, a qual deve ser conferida pelos vossos nobres seguidores.

A outra lição proposta pelo mestre ora citado é sobre “noções elementares de versificação”, como: Poesia e Prosa (verso, rima, metro, etc), Recitação, Pausa Final, principalmente. São conceitos (estudos) tão úteis ao nosso conhecimento, que vão ganhar um artigo próprio. Aguardem!

Notinha útil – O Facetas já publicou um artigo sobre ela. A mineira Clara Francisca Gonçalves Pinheiro. Ou melhor, a cantora Clara Nunes, que no último dia 2 de abril, lembramos os 40 anos de sua morte, ocorrida no dia 02.04.1983. Porém, a sua voz, a sua dança e a sua arte, permanecem vivas em nós. Um de seus discos, o LP “As forças da natureza”, lançado em 1977 cuja canção homônima, de autoria de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro, é linda demais. A produção gráfica da capa e contracapa é impecável. Porém, Canto das Três Raças (Mauro Duarte e Paulo Cesar Pinheiro), de 1976 é um clássico do cancioneiro nacional: “ninguém ouviu/Um soluçar de dor/No canto do Brasil…” Quando da sua eterna partida, todos soluçamos em todos os cantos – de cantar e de lugar do país. Mas, aqui estamos (e estaremos) para preservar a sua memória.

Fonte: 1. Bechara, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. – 1ª ed. RJ: Lucerna, 2001.

Deixe um comentário