Rita Lee: nossa ovelha negra

Quando eu tinha uns 8, 9 anos de idade comecei a fuçar a coleção de CDs do meu pai e me deparei com uma coleção de cantores e compositores famosos da MPB. Nessa coleção, conheci Cartola, Pixinguinha, Djavan, Toquinho, dentre outros. Lembro que fiquei fascinada com o som de uma tal de Rita Lee, não parava de ouvir o CD com as principais músicas dela. Lembro que as minhas músicas preferidas eram “Desculpa o auê” e “Nem luxo nem lixo”. Segunda-feira (08.05) quando soube da notícia do falecimento de Rita passei o dia cantarolando essas duas músicas.

Rita Lee nos deixou um vasto legado para a MPB, afinal, só de álbuns de estúdio foram 22; álbuns ao vivo, 6; álbuns de compilação, 21; álbuns de vídeo, 7. Eu ganhei do meu pai a coleção de Rita Lee com 21 cds, e confesso que ainda não desfrutei de toda sua obra. Mas, o pouco que conheço posso afirmar que o som de Rita me proporciona prazer, gosto das melodias, das letras, da rebeldia, do encontro do rock com a MPB. Rita sempre será Rita.

Você sabiam que Rita escreveu um livro sobre sua vida? Pois é, publicou em 2016, intitulado “Rita Lee: uma autobiografia”. Após a sua morte, o livro está no top 200 entre os livros mais vendidos da Amazon, de acordo com a matéria do IG (ler aqui) .

Sobre o livro, o jornalista Guilherme Samora, estudioso da obra de Rita disse que: “Do primeiro disco voador ao último porre, Rita é consistente. Corajosa. Sem culpa nenhuma. Tanto que, ao ler o livro, várias vezes temos a sensação de estar diante de uma bio não autorizada, tamanha a honestidade nas histórias. A infância e os primeiros passos na vida artística; sua prisão em 1976; o encontro de almas com Roberto de Carvalho; o nascimento dos filhos, das músicas e dos discos clássicos; os tropeços e as glórias. Está tudo lá. E você pode ter certeza: essa é a obra mais pessoal que ela poderia entregar de presente para nós. Rita cuidou de tudo. Escreveu, escolheu as fotos e criou as legendas e até decidiu a ordem das imagens , fez a capa, pensou na contracapa, nas orelhas… Entregou o livro assim: prontinho. Sua essência está nessas páginas. E é exatamente desse modo que a Globo Livros coloca a autobiografia da nossa estrela maior no mercado.” (Fonte: Amazon)

Para quem deseja assistir os shows e entrevistas, recomendo o canal oficial do Youtube, Rita Lee (clica aqui para acessar). Aproveito para compartilhar o show completo.

Ainda, recomendo o vídeo do crítico musical Régis Tadeu que faz uma análise sobre a trajetória musical.

Hoje, nos dia das mães, o filho de Rita, Antonio Lee, compartilhou na sua rede social o último autógrafo dela.

Na legenda da foto, escreveu o seguinte:

“Esse foi o último autógrafo da minha mãe. Quando eu era pequeno, não entendia muito bem esse ritual. Pessoas surgiam do nada com papel e caneta, mãos meio trêmulas. Ficavam hipnotizadas enquanto minha mãe fazia uns rabiscos. Depois, pegavam o papel de volta e saíam chorando, emocionadas. Por que um papel com um nome assinado causava tanta comoção?

Com o tempo, o autógrafo foi cedendo espaço para as selfies no celular e vídeos mandando recado. Mas, hoje, mais do que nunca, eu entendo o barato do autógrafo. O autógrafo é analógico. É uma relíquia, um pedaço daquele momento, uma prova viva com reconhecimento de firma que o encontro realmente aconteceu.

Nunca vi minha mãe nega rum autógrafo. O pior que podia acontecer a um fã era chegar sem papel nem caneta e ela soltar o famoso: ‘pô, bicho!?’

Um dia, enquanto visitava ela no hospital com meu filho Arthur, de 5 anos, o assunto veio à tona. Eu comentei que a vovó Rita tinha um autógrafo muito legal, com desenho de disco voador e tudo! Ele ficou animado: ‘Eu quero um autógrafo da vovó Rita’. E ela, claro, não negou. Coloquei no colo dela um papel e uma caneta. As mãos estavam fracas, o punho já não tinha a mesma flexibilidade de antes. Mas ela se lançou no desafio. Primeiro, fez a dedicatória e a assinatura. Depois, o disco voador, provavelmente seu assunto preferido. Ela sempre se dedicava mais nessa parte. Enquanto terminava o desenho, reclamou que a mão não obedecia como queria. Não satisfeita com o disco, tentou desenhar outro mais para a direita, só para provar a si mesma que conseguia fazer um melhor. Até que desabafou: ‘a mão não tá indo, saco!’.

São mais de 50 anos dessa troca entre ídolo e fã. Foram milhares de vezes repetindo esse mesmo gesto. Milhares de folhas de papel espalhadas por aí que marcam um momento em que ela esteve presente. E sem saber que aquela seria a última vez, foi lá e assinou seu nome tão lindo. Dedicado a um grande fã que vai sentir muitas saudades da vovó.

Feliz dia das Mães mais dolorido do mundo, Mãezinha”.

Ufa! Quanta emoção. Rita Lee, nossa ovelha negra. Espero que essa nova geração tenha a oportunidade de conhecer a obra de Rita para conhecer umas das principais cantoras e compositoras da MPB e do Rock Brasileiro. Por aqui, na equipe do Facetas, ela sempre estará presente.

Winnie, Gomes e Angel

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