A música, na sua primazia, é mesmo encantadora (e formadora também) de legiões de seguidores. Por exemplo, a caixa “3 na BOSSA”, contém 5 CDs, nessa ordem: A Bossa Deles; Caminhos Sem Ter Fim; Olha Que Coisa Mais Linda; Eis Aqui Esse Sambinha; e Pra Tudo Terminar na Quarta-Feira, totalizando 70 canções, é algo magistral, ou seja, um retrato da Bossa Nova, como produção de Roberto Menescal e textos de Ruy Castro, com tradução para outros idiomas.

O encarte, com 40 páginas é um verdadeiro manual da nossa musicalidade nacional, onde estão inseridas músicas como: Apelo (Baden Powell-Vinicius de Moraes), Ilusão à Toa (Johnny Alf), Fotografia (Tom Jobim), Vagamente (Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli), Mas Que Nada (Jorge Ben), Aquarela do Brasil (Ary Barroso), A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), As Rosas Não Falam (Cartola), etc. Todas executas instrumentalmente pelos 3 na BOSSA.
Quem são, então, os 3 na Bossa? “Se houver uma canção da Bossa Nova que Os 3 na BOOSA não saiba tocar é porque ala ainda não foi composta. Eles são o pianista Edmur Hebter, a contrabaxista Elaine do Valle e o baterista Toninho Pinheiro”. As melodias emitidas por esses três músicos nos fazem viajar no tempo, na onda da música. Tem mais. Esse trabalho tem a digital da produção artística do genial Roberto Menescal, cuja biografia dispensa apresentações.
“Edmur e Elaine começaram juntos em quintetos de bailes e, assim que tiveram idade para sair à noite, tornaram-se uma atração móvel da madrugada de São Paulo. Seu extremo bom gosto e musicalidade ajudaram a tornar clássicas várias casas paulistas. Quanto a Toninho, que é uma lenda da Boss Nova em Sampa, começou nos anos 60 como baterista de Manfredo Fest e Pedrinho Mattar”. Formou o Jongo Trio. Acompanhou Elis Regina e Jair Rodrigues no show Dois na Bossa. Assim foi com César Camargo Mariano, Wilson Simonal, Dick Farney e outros.
Por sua vez, o jornalista, musicólogo, biógrafo mineiro Ruy Castro (75 anos), sabe-se que sempre fez parte do meio artístico. No trabalho ora em análise, escreveu 5 artigos, um para cada CD. Além, é claro, da Apresentação do lançamento em 2000, sob o tema: “A TRILHA SONORA DE UM PAÍS IDEAL”. A ordem dos artigos é esta: Disco 1: “A música para se ouvir a dois”; disco 2: “Canções que derretem corações”; disco 3: “A onda que se ergueu no mar”; disco 4: “O irresistível umbigo rítmico”; e disco 5: “A música que viaja na brisa”.
Diz Ruy: “Olha que coisa mais linda: a garota de Ipanema 1961 tomava Cuba-Livre, dirigia um Kharman-Ghia e voava pela Panair. Usava frasqueira, vestido-tubinho, cílio postiço, peruca, laquê. Dizia-se existencialista, adora arte abstrata e não perdia um filme da Nouvelie Vague. Seus points eram o Beco das Garrafas e Cinemateca, o Arpoador. Ia á praia com a camisa social do irmão e, sob esta um biquini que, de tão insolente , fazia o sangue dos rapazes ferver de maneira mais conveniente”.
Todo isso passou. Mas há uma exceção. Por sinal, brilhante. A música que aquela garota escutava na época continua a ser ouvida e adorada até hoje – quarenta anos depois (isso lá pelos idos do ano 2000) – como se brotasse das esferas: a Bossa Nova. (…) Acredite ou não, em números absolutos ouve-se mais Bossa Nova em 2000 do que em 1961. (…) Ouve-se Bossa Nova em salas de concerto, teatros, boates, bares, clubes, escolas, estádios, praças, praias e quiosques. Ouve-se também no cinema, no rádio e até na televisão, na trilha da novela e nos comerciais. Ouve-se como música de fundo em aviões, restaurantes, elevadores, consultórios médicos e salas de espera. Sem falar nos apartamentos: em pontos tão remotos do globo, como São Paulo, Nova York, Sidney e Tóquio, ouve-se mais discos de Bossa Nova hoje do que nunca.
“A Bossa Nova foi e é essa música. Hoje, livros são escritos a seu respeito e ela é motivo de ensaios eruditos, de teses universitárias e de discussões em seminários. Sob qualquer pretexto, intelectuais das mais diversas plumagens se reúnem para dissecá-la e falar da sua importância nos rumos da música popular. Pensando bem, com toda a seriedade com que tentam envolvê-la e desidratá-la, a Bossa Nova já deveria ter se juntado à polca, à mazurca e ao maxixe , entre outros estilos histórcos que atualmente só parecem existir nos livros. Mas, com a Bossa Nova, isso não aconteceu – porque ela tinha um algo mais, especial, que a salvou: a beleza” (1).
Por fim, ele garante que a maioria dessas 70 canções estava endo composta entre 1958 e 1962, quando metade do mundo era embalado pelo rock. Porém, elas estão aí para todos os gostos. De João Gilberto a Caetano Veloso. E assegura: “Quando ninguém tocava em tais assuntos, a Bossa Nova já pregava a paz, a saúde, a ecologia. Hoje, em que esses temas começaram a entrar na pauta nacional, a Bossa Nova voltou a ser A TRILHA SONORA DE UM PAÍS IDEAL” (1).
Fica aqui, portanto, esse registro, essa recomendação aos nossos nobres leitores, desse trabalho fonográfico magnífico, cujos músicos, sonoridades e seleção musical, fortalecem o nosso corpo e revigora a nossa vida. Esperamos que gostem!
Notinha útil – Aos que vão chegar, brevemente, em Manaus (AM) aos mesmos, nossas boas vindas a city da selva: Heitor, Winnie e David.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte: 1. “3 na BOSSA”, caixa/box com 5 CDs. SP: gravadora Deckdisc, p. 2000.