É muito comum ouvir-se: “Venha conhecer a selva Amazônica”; “Viaje pelo Amazonas. O maior Estado da Federação, com 1,5 milhão de km2; ou ainda, como bem o disseram os editores da revista Ciência Hoje: “A Amazônia no Brasil. O Brasil na Amazônia”. No entanto, não é bem assim. Ela precisa ser estudada para então ser conhecida. Vamos ao que possa interessar aos nossos leitores.
Na semana passada, parte da equipe do Facetas rumou para Parintins (AM), distante 368 km de Manaus, e com uma população absoluta de 116 mil habitantes (lBGE/2021), numa lancha-expresso com 66 passageiros e 05 tripulantes a bordo, vindo a desembarcar na capital nacional dos bumbás, depois de 10 horas (das 05h00 às 15h00 “cortando” as águas do rio Amazonas.

O rio-mar é tão vasto, tão vasto, que seu nome está imortalizado nos versos do poema “Amazonas, Pátria D’água” do poeta Thiago de Mello. A sua imensidão é algo deslumbrante e misteriosa. Principalmente quando os olhos conseguem avistar o verde na linha do horizonte. À distância.
Ao pisar no solo da Ilha dos antigos Parintintins, o visitante, logo acha que tem a convicção que aqui é a sua segunda morada, ou seja, a morada de Chico da Silva; de Emerson Maia, autor de “Lamento de Raça”, sucesso na interpretação de David Assayag; morada dos povos da floresta; morada da criação artística que salta aos olhos da gente. Aqui, ali, acolá. Seja na pessoa da criança artesã, do artesão adulto, do artista, do compositor, etc. Não. Não só pelas magnifícas
apresentaçoes da Nação Vermelha e Branca (GARANTIDO) ou da Nação Azul e Branca (CAPRICHOSO).



Canta Chico: “O amor está no ar”. Verdade. Em Parintins, a manifestação cultural popular paira no ar, no canto, na dança, na vestimenta, na pintura, nos adereços, na faceirice das moças de cabelos negros, nas fachadas das residências, das casas comerciais, das agências bancárias, dos anúncios dos patrocinadores, das instituições municipais, estaduais e federais. Arte, arte, arte! Por toda parte. É o autêntico traduzir-se do poema de Ferreira Gullar.
Como “eu amo NY”, “Amo Sampa”, aqui não é diferente. No cais do porto, está escrito: “EU AMO PARINTINS – Cidade de Artistas”. É exatamente a adição criativa que existe entre esses seres iluminados (muitas vezes anônimos ou ignorados), que faz renascer há décadas – quase 1 século -, um espetáculo colossal, um Festival grandioso. Assim está sendo realizado mais UM, o Festival de 2023 (30 de junho e 01 e 02 de julho). Três noites festivas: sexta-feira, sábado e domingo. Com as apresentações iniciadas pelo Garantido durante os três dias e encerradas pelo Caprichoso (após observados os critérios de sorteio), quando um será o vencedor, o campeão, é claro.






Durante quase uma semana o Facetas foi às ruas, não para dançar o boi, mas para fotografar murais, painéis, sacadas, galerias, etc, totalizando 140 cliques, para selecionar, apenas as que estão aqui neste artigo. Uma façanha (para a atividade de amador), que contou com a participação de dois colegas: Licinho Pereira e Marcelo Freitas.
Porém, na ilha Tupinabarana de 227 anos de fundação, nem tudo “é divino e maravilhoso”. Sem qualquer pretensão de análise política, social e econômica, diga-se de passagem. Até porque não é esse o perfil deste blog. No entanto, não se pode ignorar a desigualdade de classes visível por aqui. A decadência social de parcela da população local é visível – nem precisa ser o observador cientista político, jornalista ou outro profissional interessado em compreender tais distorções. Seis em cada dez pessoas abordadas no trânsito (uma espécie de enquete) conduzindo motocicleta, disseram viver da informalidade e usam o veículo para adquirir o sustento da família; oito, em cada dez motos são conduzidas por pessoas não habilitadas; cinco delas não estão registradas junto ao órgão competente, isto é, circulam irregularmente, portanto é um índice assustador. Outro exemplo, é a precariedade do sinal de Internet por parte de uma operadora, que deixa seus milhares de usuários sem realizar as suas necessidades de acessos às redes todos os dias. Dessa forma, pergunta-se: cadê a ação eficaz dos poderes públicos?




Na área mais rica da cidade painéis luminosos gigantes anunciam essa incontestável frase, numa referência a cultura das danças apresentada pelos dois Bois: “Viva essa paixão – PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL”. Patrimônio sim, tanto material quanto imaterial, cujo conjunto de valores já deveria ter sido tombado pela entidade federal competente.
Mas, quem está interessado nessa “coisita”? Coisita para quem não está nem aí. Porém, o parintinense quer, mas…


Por fim, espera-se, piamente, que os interesses comerciais e políticos partidários não “engulam” a tão genuína cultura popular dessa gente que pesquisa, todos os dias: o folclore, os mitos, as lendas, entre outras temáticas. São os autóctones, que cantam e nos encantam. É assim com aquele menino criando e pintando uma garça; com aquela menina confeccionando um pulseira de coquinhos; a senhora costureira que faz uma fantasia; o integrante, seja da Marujada do Caprichoso ou seja da Batucada do Garantido; o compositor; o levantador de toada; a cunhã-poranga; o transeunte, etc, etc, etc, o público local ou “de fora” que juntos fazem o fantástico Festival de Parintins com tanta garra. O de 2023, por exemplo, em duas cores, mas numa só emoção.
Viva o Festival!
Viva Parintins!
Viva nossos leitores!

Texto de Francisco Gomes
Revisão de Winnie Barros
Fotos formatadas por Angeline Gomes.
Parabéns Dr. Francisco Gomes, texto magnífico.
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