Letras Brasileiras, de Oswaldo Montenegro

O genial cantor e compositor carioca Oswaldo Montenegro (67), é um desses artistas que causam inveja (no bom sentido, é óbvio), aos seus fãs e admiradores. A sua atividade artística é esplêndida, magnífica. Ele é autor de clássicos como Bandolins, Lua e Flor, Agonia, A Lista, entre outros.

Em 1997, lançou o imperdível CD “Letras Brasileiras”. São 13 músicas selecionadas de forma criteriosa, como esclarece o próprio artista. No encarte há a seguinte nota: “Infelizmente tivemos que tirar do disco uma ótima gravação: “Detalhes” (de Roberto e Erasmo) com participação de Milton Gurdes na gaita, pois Roberto Carlos não está mais autorizando ninguém a gravar essa música” (1).

Cabe, portanto, esclarecer que a ausência dessa canção não comprometeu o sucesso desse trabalho, haja vista que nele estão Sem Fantasia (Chico Buarque), Fim de Caso (Dolores Duran), Mucuripe (Fagner-Belchior), Meu Amigo, Meu Herói (Gilberto Gil), Sinal Fechado (Paulinho da Viola), João Valentão (Dorival Caymmi), Três Apitos (Noel Rosa), Letras Brasileiras (Oswaldo Montenegro), Samba da Benção (Vinicius de Moraes-Baden Powell), etc.

Sobre o CD em questão o cantor relata o seguinte: “Perdi o avião. Perdemos, Roberto Menescal tava junto. Sentamos no bar do aeroporto, pro chopp regar as histórias que ele sabe contar. Em todas, personagem e observador dos acontecimentos da nossa música.

Roberto Menescal é o melhor papo do mundo. No meio da conversa, lançou a ideia do Letras Brasileiras, um disco de canções que se notabilizaram pelos versos. Valeria tudo, de Lamartine a Chico, passando por Noel, Gil, Vinicius e todos aqueles cuja poesia é citada nas mesas de bar. Buscaríamos aquelas letras que fazem companhia, que aliviam, que divertem. Aquelas…

Menescal queria um CD simples, sem firula, apenas o violão, no máximo um músico por faixa. Mergulhamos, então, nas Letras Brasileiras. Quase nos afogamos na quantidade de coisas lindas. Que dificuldade de escolha… Quantas ficaram de fora! Que privilégio senti, vendo, de quebra, ele vestir tudo com seu violão preciso, nem uma nota a mais. Respeito ao silêncio e eu ali, tentando aprender.

Agora tá pronto. Grato aos poetas que homenageamos, a Roberto Menescal e ao piloto do avião que saiu na hora ” (1).

Por sua vez, Menescal também relata o porquê da seleção e lançamento dessa obra-prima: “No ano passado (1996), li um artigo no Jornal do Brasil, escrito por um renomado poeta brasileiro (confesso que por total ignorância, não o conheço), no qual ele dizia que nossos grandes letristas, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes, etc, não eram poetas, e sim, apenas letristas de música popular. Que a verdadeira poesia era era uma coisa maior, mais nobre, e que não podia ser confundida de maneira nenhuma com as letras das músicas.

Aquilo me levou a prestar mais atenção no que esses “letristas” escreveram durante essa brilhante trajetória da MPB, de Noel a Buarque, de Caymmi a Veloso, ou de Montenegro a um ainda desconhecido Beto Brasiliense.

Num encontro casual com Oswaldo Montenegro, lhe fiz uma proposta de realizarmos um projeto juntando essas letras num CD para mostrarmos as maravilhas que nossos “Poetas da Música” escreveram.

O disco é musicalmente muito simples para que se destaque apenas o que queremos enfocar: as letras.

Em cada faixa, convidamos um artista, músico ou cantor dividindo a mesma com o Oswaldo.

Somente Oswaldo Montenegro poderia fazer esse projeto. Ele é o grande trovador moderno da MPB” (1).

Não há exagero nessas palavras. É uma constatação. Menescal sabe o que diz. Como revelam estes versos de Paulinho da Viola, em Sina Fechado: “Quanto coisa em tinha a dizer,/ mas eu sumi na poeira das ruas/Eu também tenho algo a dizer,/ mas me foge a lembrança”. Genialíssimo!

Em 1999, grava o CD homônimo ao vivo com 18 músicas. É de beleza musical ímpar. Além de cantar, é claro, o artista comenta tintim por tintim as letras, as suas escolhas, seus criadores, etc. A produção e guitarra são de de Menescal e a flauta e o teclado são de Madalena Salles.

Na composição da música Letras Brasileiras, o própria autor, Oswaldo, grafou estes belos versos: “No mesmo mar são dez milhões de anzóis/pescando alma em dós, bordões e primas/cem mil poetas, todos eles sós”.

Aqui, mais uma vez, esperamos que os nossos seguidores aprovem esta publicação. E, pela música, você seja mais poeta, juntando-se a esses 100 mil espalhados pelo nosso imenso Brasil.

por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes: 1. CD “Letras Brasileiras”, de Oswaldo Montenegro, SP: Paradoxx Music, 1997; 2. CD ao vivo “Letras Brasileiras”, de Oswaldo Montenegro, SP: Albatroz, 1999.

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