“Ao que vai chegar”

No dia 9 de julho de 1980, Antônio Pecci Filho, conhecido no meio artístico como Toquinho (77), perdia o seu maior parceiro musical, Vinicius de Moraes (1913-1980). Porém, o paulistano precisava, mais do que nunca, seguir compondo e cantando para contentar os corações de seus fãs e os fãs do Poetinha. Assim o fez.

Contracapa – Foto de Pina di Cola. Detalhe de Madona Sistina, de Rafael

Em 1983, estourou em todo o Brasil com Aquarela (Guido Morra-Maurizio Fabrizio). No ano seguinte, outro sucesso nacional com a fantástica canção Ao Que Vai Chegar, de sua autoria em parceria com Mutinho. As rádios tocavam e a gente cantarolava: “Voa coração/A minha força de conduz/Que o sol de um novo amor/Em breve vai brilhar”. Além dos lindos versos, a melodia é contagiante, nos acordes do violão de Pecci.

Anos depois, descobri que a sugestiva música fora feira em homenagem ao seu filho Pedro que em breve nasceria e o cantor “preparou-lhe um berço musical e compôs Ao Que Vai Chegar , curtindo os nove meses de gestação (de sua esposa Mônica) da nova vida”, para fazer à sua irmã Jade, principalmente.

A composição é bela demais e cujos versos, na íntegra, são estes: “Voa coração/A minha força te conduz/Que o sol de um novo amor/Em breve vai brilhar/Vara a escuridão/Vai aonde a noite esconde a luz/Clareia seu caminho/Acende seu olhar // Vai aonde a aurora mora/E acorda um lindo dia/Colhe a mais bela flor/Que alguém já viu nascer/E não esqueça de trazer/Força e magia/O sonho, a fantasia/E a alegria de viver // Voa, coração/Que ele não deve demorar/E tanta coisa mais quero lhe ofertar/O brilho da paixão/Pede a uma estrela pra emprestar/E traga junto a fé/Num novo amanhecer/Convida as luas/Cheia, minguante e crescente/E de onde se planta a paz/Da paz quero a raiz/E uma casinha lá onde mora o sol poente/Pra finalmente a gente/Ser feliz” (1).

Só para exemplificar, Toquinho e Oswaldo Montenegro, são os dois artistas com o maior número de composições dedicadas ao universo das crianças. Ao Que Vai Chegar, é apenas uma delas, é óbvio. Não somente ao Pedro, hoje com quase 40 anos de idade, mais a milhões de outras pequenos que já chegaram, estão chegando e chegarão.

Outros cantores/compositores criaram canções de ninar. Dorival Caymmi, fez Acalanto, gravada, inicialmente, por Roberto Carlos, cujos versos são cantados assim: “Todos dormem/A noite também,/Só eu velo/Por você, meu bem”. É muita sensibilidade poética. São versos que marcam…

O também genial Arnaldo Antunes, ex-vocalista dos incríveis Titãs, lançou em 2021, e hoje disponível nas plataformas musicais, “O Real Resiste”, no qual está inserida a bela música Na Barriga do Vento, cuja íntegra da letra é esta: “Tem o tempo de ser um bebê/Tem um verde pra amadurecer/Pra depois ir sozinho/Seu caminho vai fazer // Tem água no rio pra beber/Tem água do céu pra chover/Tem a noite e o dia/Dando linha pra você // Filho amado/Quer voar/Quando chegar/ Sua hora estarei ao seu lado pra te impulsionar // Meu rebento/Meu bebê/Quando crescer/Na barriga do vento sua asa batendo hei de ver // Tem cavalo que faz pocotó/Tem o galo que cocorocó/E também o saci que anda numa perna só // Tem a brisa pra descabelar/O cadarço pra desamarrar/Tem papai e mãinha mais dindinha/Pra cuidar // Filho amado/Quer voar/Quando chegar/Sua hora estarei do seu lado pra te impulsionar // Meu rebento/Meu bebê/Quando crescer/Na barriga do vento sua asa batendo hei de ver” (2).

Filho, um tema inesgotável; amor, um sentimento infinito. Isso é o que se vislumbra nestes dois poemas canção. Quando, os ouvimos não há como esconder a emoção. Em cada verso, as palavras estão postas de forma certinha; em cada nota, a sonoridade contagia o ouvinte. São incríveis! Toquinho canta: “Ele não deve demorar…/Pra finalmente a gente ser feliz”; Arnaldo dedilha: “Tem um verde pra amadurecer/Pra depois ir sozinho…”. Ou ainda como canta Marisa Monte, em Seja Feliz: “Seja feliz/Com seus pais/Seja feliz/Sem raiz”.

Emprestamos, portanto, o título de Toquinho, para homenagearmos ao jovem casal Winnie e David que aguardam a chegada do Heitor. Os dois sabem que tanto os familiares pernambucanos do pai, quando os amazonenses da mãe, estão na expectativa das boas vindas ao que vai chegar, sem querermos ser redundantes. Como se confirma essa máxima, também, do já citado Arnaldo Antunes: “Neto e neta são netos, no masculino. Filho e filha são filhos, no masculino. Pai e mãe são pais, no masculino. Avô e avó são avós”. Avós no sentido lato do termo – e no plural.

O Facetas fez esta homenagem surpresa aos pais do Heitor. Porém, ela se estenderá a todos os nossos leitores: jovens, adultos e idosos. Aos que já são avós e que serão; aos bisavós; e aos tataravós. Enfim, queremos as famílias, Brasil afora, unidas pela procriação, pela união, pelo amor, pela paz, pela vida, essencialmente. Como em Ainda Bem, dos citados Arnaldo e Marisa: “Você veio pra ficar/Você que me faz feliz/Você que me faz cantar…”. Que todos sejamos felizes.

Notinha útil – O casal de amigos Fabi e Marcelo, que aguardavam a chegada do João Miguel, seriam amplamente citados neste artigo, como havíamos combinado, cujo título seria: “Aos que vão chegar”. No entanto, o Miguel nasceu antes desta edição ser publicada, é claro. Aos três, os nossos parabéns! (facetasculturais.com.br).

Por Angeline e Francisco Gomes.

Fontes: 1. Encarte do LP “Sonho Dourado”, de Toquinho. – SP: gravadora Barclay, 1984; 2. https://www.vagalume.com.br

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