2 poemas da Florbela Espanca

Conheci a obra de Florbela quando era adolescente. Lembro que fiquei encantada por ela expressar seus sentimentos de uma forma tão profunda e dolorosa. Parecia que eu sentia sua dor ao ler seus poemas. Desde então virei sua fã.

Há alguns anos atrás consegui comprar sua antologia poética. O livro é “Florbela Espanca: Antologia Poética”, pela editora Martin Claret, 2015.

O livro é composto por seis obras da autora: Livro de mágoas (1919); Livro de sóror saudade (1923); Charneca em flor (1931); Reliquiae (1931, versos póstumos); Trocando olhares (1915-1917); O livro dele (1915-1917).

Nós, o Facetas, selecionamos 2 poemas do Livro de Mágoas: Tortura; Vaidade.

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,

A lúcida Verdade, o Sentimento!

– E ser, depois de vir o coração,

Um punhado de cinza esparso ao vento!…

Sonhar um verso de alto pensamento,

E puro como um ritmo de oração!

– E ser, depois de vir do coração,

O pó, o nada, o sonho dum momento…

São assim ocos, rudes os meus versos:

Rimas perdidas, vendavais dispersos,

Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me deram encontrar o verso puro,

O verso altivo e forte, estranho e duro,

Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Vaidade

Sonho que sou Poetisa eleita,

Aquela que diz tudo e tudo sabe.

Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher todo o mundo! E que deleita

Mesmo aqueles que morrem de saudade!

Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo…

Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,

E quando mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho…E não sou nada!…

Tem muito mais de Florbela para dividir com vocês. Aos poucos vamos compartilhando nossos poemas preferidos dela.

Winnie, Gomes e Angel

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