“O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro” (Câmara Cascudo).
O acervo literário do Facetas contém considerável produção, como livros e revistas, do mestre Gilberto Freyre. Sabemos que leitura sobre as suas ideias se faz necessária a qualquer cidadão, independentemente de ser estudante, professor ou profissional autônomo, etc.
Aqui, apenas estamos antecipando as comemorações de 125 anos de nascimento daquele que foi considerado um dos maiores antropólogos brasileiros de todos os tempos, com relevante pesquisa sobre a “introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil”. Ou seja, “formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal”.

“Enquanto o Brasil existir, existirá Gilberto Freyre”, afirma Jorge Amado, “sobre a importância de Freyre como “explicador” do Brasil, cuja obra fundamental é Casa Grande & Senzala, sacudiu gerações, provocando uma “desordem” como poucas na história mental do país. Então, leiamos os seguintes tópicos sobre esse estudioso da nossa cultura.
1. CONSERVADOR REVOLUCIONÁRIO. “A partir dele desmoronou-se a visão simplista preconceituosa que pregava a inferioridade do mestiço. Não havia solução para um país como o Brasil, condenado ao atraso social. É Gilberto Freyre, que vem celebrar nossa original formação – “Sou um maníaco da miscigenação” – e remexer no cadinho cultural onde negros, portugueses, mulatos, índios, padres, candomblé, sexo, comida e arquitetura se fundem nos trópicos em perpétuo orgia de trocas”.
2. GENIAL DÉBIL MENTAL. “Freyre nasceu no Recife a 15 de março de 1900. O pai professor de Direito, achava estranho que o filho, aos 8 anos, ainda não sabia ler nem escrever. Contratou um preceptor, o anglicano Joseph Williams, que alfabetizou o menino em inglês. Aos 17 anos, terminou o secundário. Seguiu para os EUA e bacharelou-se em Ciências Políticas e Sociais na Universidade de Baylor, Texas. De lá, para a Universidade de Colúmbia, Novo York, onde se doutorou em Antropologia. Tudo isso aos 22 anos”.
“No Brasil de 1923, quando cheguei, não havia ainda nenhuma noção do que fosse universidade. Sempre me perguntavam: Formou-se em Direito? Eu dizia não. Formou-se em Engenharia? Não. Formou-se em Medicina? Não. Mas, então que diabo você fez com o dinheiro do seu pai no estrangeiro? Eu não tinha a menor vontade de explicar nada: fiz umas bobagens, estudei umas coisas… No terreno da Antropologia, só existia a antropologia física. Tudo isso concorreu para que eu vivesse uma fase de ‘monstro’ rejeitado e ignorado”.
3. REGIONALISTA E BRASILEIRO. “Em 1926, visitando o Rio, com Sérgio Buarque de Holanda e Heitor Villa-Lobos, passa uma noite ouvindo Donga e Pixinguinha. Encantado, define: “grande noite cariocamente brasileira”. Organiza o primeiro Congresso Regionalista do Recife, de onde surge o Manifesto Regionalista, que prega a preservação do perfil cultural das diversas regiões. Para alguns, o Congresso e o Manifesto foram tão importantes quanto a Semana Modernista de 1922, em São Paulo, diferenciando-se por valorizar mais a cultura nacional”.
4. CASA GRANDE & SENZALA. “Com a Revolução de 1930, por ser amigo e chefe de gabinete do governador de Pernambuco, segue para o exílio voluntário em Portugal. Lá recebe o convite da Universidade de Stanford dos Estados Unidos, para dar curso sobre a formação do Brasil. Suas aulas ajudam a sistematizar Casa Grande & Senzala, lançado em 1933. De volta à terra, tem problemas com grupos conservadores, que classificam a obra como “pornográfica”. Engaja-se na luta contra o Estado Novo de Vargas. Sofre atentados. E elege-se deputado para a Assembleia Constituinte de 1946. Em 1949 funda o Instituto Joaquim Nabuco, um dos principais centros de pesquisas em Ciências Humanas do país. Torna-se internacionalmente consagrado”.
5. O SEGREDO DO LICOR DE PITANGA. “O mesmo Gilberto Freyre, que contrariou preconceitos e lutou por democracia, apoiou o golpe militar de 1964, o AI-5, e tinha simpatias pelo ditador português Oliveira Salazar. Justificava-se dizendo-se “conservador e revolucionário” ou “anarquista construtivo”. Caiu em desgraça nos meios universitários brasileiros e queixava-se de que sua obra era mais estudada fora do país (EUA e França, por exemplo). Mas tarde criticou o regime militar e defendeu os hippies. O amigo e também antropólogo Darcy Ribeiro ficava intrigado: “Eu sempre me perguntei por que Gilberto, tão tacanho no plano político, foi capaz de escrever um livro tão grande, tão generoso“. Freyre morreu em 18 de julho de 1987 – um mês antes de Carlos Drummond de Andrade -, quando já era considerado um mito. Deixo dezenas de livros explicando o Brasil. Porém, levou consigo um único segredo, que manteve até a morte: a receita de seu famoso e apreciado licor de pitanga” (1).
“O estudo da obra de Gilberto Freyre integra o currículo da Sorbonne e Universidade de Colúmbia”. Entre seus outros livros, destacam-se: Nordeste (1937), Açúcar (1939), O mundo que o português criou (1940), Região e Tradição (1941), Interpretação do Brasil (1945), Aventura e rotina (1953), entre tantos outros.
Apresentamos aqui algumas facetas da carreira literária e do comportamento político do pesquisador pernambucano Gilberto Freyre. Recomendamos, portanto, aos nossos fiéis leitores que visitem os livros sobre a formação social, cultural e histórica da política brasileira, tirando assim, as suas próprias conclusões.
Notinha útil – A nossa equipe agradece, oportunamente, ao simpático casal Cida e Gidelson, que moram em Camocim de São Félix (PE) por nos terem presenteado com “Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife“, de Gilberto Freyre.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
fonte consultada: 1. Andreato, Elifas. Almanaque Brasil da cultura popular. SP: NS & A/TAM, 2005.