Em meados de 1990, o então acadêmico de Ciências Sociais (a formatura ocorreu em julho/97) da Universidade do Amazonas (hoje UFAM), Adélcio Lima de Oliveira – atualmente é um excelente servidor municipal da capital Manauara -, acompanhado por outros colegas de sua turma, fez uma “Excursão ao Teatro Amazonas”, em cumprimento à grade curricular do curso. No final, deveriam produzir um Relatório, o qual seria entregue ao Departamento de História, da Instituição. A guia turística foi Liz Melo Veigo. O acervo de “documentos amazônicos” do Facetas possui uma cópia datilografada, o que era de praxe, na época, dessa interessante pesquisa, da qual extraímos alguns trechos, para este artigo.
Relatam esses visitantes àquele monumento que a primeira ideia para a construção de um teatro em Manaus, surgiu “de um projeto apresentado pelo deputado A. J. Fernandes Jr. na Assembleia Provincial do Amazonas, no dia 21 de maio de 1881” , com crédito financeiro especial de 60 contos de réis que seriam liberados nos exercícios de 1881/82 destinados à “construção de um teatro em alvenaria” em terreno próprio na área fronteiriça à Praça São Sebastião. Logo surgiram entre os legisladores os pros e os contras à proposta. Mas, “no dia 14 de junho de 1881, foi sancionada a lei nº 346 que autorizava o Presidente da Província, Alarico José Furtado, despender até 120 contos” para a construção pretendida. Um ano depois, em maio de 1882, José Paranaguá, cumprindo nova lei, fixa em 30 contos para o início da obra, cujo valor já atingia a cifra de 250 contos de réis.
Seguiram-se, portanto, os trâmites contratuais, quando então, “foi aberto Termo de Concorrência” proposto por apenas duas firmas, “no (astronômico) valor de 500 contos de réis”. Porém, o contrato oficial para início dos trabalhos só foi firmado em outubro de 1883, sob “o encargo da empresa italiana Rossi & Irmãos” que começaram os serviços em 14 de fevereiro de 1884.
Mas, diante de uma série de alegações nada convincentes ao povo, tanto pelo governo quanto pelos construtores, por quase dez anos, os trabalhos não saiam da estaca zero. “Foi, porém, que Eduardo Ribeiro quem, a partir de 1892, deu impulso à construção, que caminhava em ritmo moroso. Ele liquidou o contrato com a firma empreiteira; importou técnicos em edificações, sem medir esforços (…). Em 1894 era assinado um novo contrato. Agora, com Crispim do Amaral, responsável pela decoração, mobiliária, etc”. Para tais, entre outras, atividades foi liberado o montante de 120 contos de réis.

Ainda nessa fase foi trazido de Roma, o pintor Domenico Di Angeles, auxiliado pelo também artista, Silvio Centrorante para a decoração teatral, como um todo. “A casa Capezot, de Paris, foi autora do “plafond” da sala de espetáculos, uma alegoria à música, à tragédia e à dança, e motivo de realização das óperas Tosca, Condor, Guarani e Escravo, todas do brasileiro Carlos Gomes. No Salão Nobre, por exemplo, uns paneis que representam a cena final de “O Guarani”; um igarapé; um aspecto de Manaus; uma pesca no rio Negro; Uma imagem da madrugada amazônica; uma visão do rio Amazonas” .
Por fim, consta que “o auto de inauguração do teatro deu-se no dia 31 de dezembro de 1896, contando com a presença do governador Fileto Pires (1866-1917), do vice Ramalho Jr (1866-1952) e das pessoas mais influentes do Amazonas”. As músicas executadas no ato inaugural foram tocadas pela Companhia Lírica Italiana, pelos principais artistas do seu elenco”. Só para se ter uma ideia, os gastos de verbas públicas custaram “no preço total da obra 10 mil contos de réis”.
Apesar de inaugurado a majestosa casa de espetáculos, as obras – internas e externas – do teatro “não estavam totalmente concluídas”, ou seja, o erário público ainda iria injetar mais dinheiro. “Mas, o importante é que o soberbo prédio já oferecia, aos amantes da arte cênica, o que há muito ansiavam”. No entanto, o seu apogeu se deu nos anos de 1907 e 1908, no período áureo da borracha, época em que muitas “celebridades por ali passaram”, entre elas, citamos: Giovani Emanuelle, Guiomar Novaes, Bidu Sayão, Constantino Prampolini. Porém, a sua decadência foi constatada a partir do início de 1909, junto com a queda da produção do látex. Situação agravada ainda mais, pela incúria de alguns governantes.
O relato traz ainda algumas anotações complementares, como: as duas estátuas de bronze na frente do palácio; sua altura de 23 metros por 24 metros de largura; as duas iaras de água doce que simbolizam o rio Amazonas; o espaço da plateia que comporta 700 espectadores; as galerias estãos dispostas em 4 andares, sustentados por 44 colunas de mármores que vieram da Inglaterra; são 90 camarotes. O principal com espaço para 15 pessoas, os demais, apenas seis, cada; o palco mede 12 metros de largura por 14 de comprimento; o domo (abóbada, cúpula, torre) nas cores verde e amarela, tem 6 metros de altura e é formado por 36 mil peças (“escamas”), entre muitos outros detalhes arquitetônicos.
Esse “desprezo” às práticas de espetáculos, shows, saraus, no Teatro Amazonas perdurou por décadas. Somente nos anos 70, o governador Plínio Coelho deu início a uma reforma estrutural do TA, a qual foi concluída por Gilberto Mestrinho, em meados dos anos 80. De lá para cá, os governadores seguintes veem mantendo aquele centro cultural funcionando a contento. Só atualizando os dados do citado Relatório que já tem 30 anos.
Senhores leitores, passados mais de 120 anos da inauguração do TA, ele está lá, fincado no centro histórico de Manaus. É um dos mais importantes do Brasil. Está, portanto ,de portas abertas para as vossas visitas. A Orquestra Sinfônica do Amazonas é excelente. Podem conferir. Este o Relatório, ou melhor, o resumo dele. Somos gratos a todos que nos prestigiam.
Notinha útil – Hoje, o jovem Heitor, lá no Recife (PE), está completando mais UM mês de bela vida. Ao mesmo, os nossos parabéns! Muita saúde!
Notinha útil 2 – Auschwitz! Auschwitz! Auschwitz! No último dia 27 de janeiro de 2025, foram lembrados, em vários países, os 80 anos das atrocidades lá praticadas durante a 2ª Guerra Mundial por seres desumanos. Naquele ano (1945), o velho Bertolt e atual Brecht, declamava estes contundentes versos : “Nós vos pedimos com insistência/não digam nunca:/isso é natural!/Diante dos acontecimentos de cada dia,/numa época em que reina a confusão/em que corre o sangue/em que o arbitrário de força de lei,/em que a humanidade se desumaniza/não digam nunca: isso é natural/para que nada possa ser imutável!”. Recado dado por este blog (www.facetasculturais.com.br).
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: Relatório “Excursão ao Teatro Amazonas”, dos alunos de Ciências Socias da UA, Manaus, julho/1997, 2º semestre.