“O mundo de Mário Schenberg”

Há exatos 40 anos foi lançado o disco “Dia Dorim Noite Neon” (1985) por Gilberto Gil. Na música Oração pela libertação da África do Sul, o versátil artista canta estes inesquecíveis versos: “Já que o vermelho tem sido todo sangue derramado/Todo corpo, todo irmão chicoteado, Yô/Senhor da selva africana irmã da selva/Americana nossa selva brasileira de tupã/Senhor irmão de tupã fazei/ com que o chicote seja por fim pendurado/Revogai da intolerância a lei/devolvei o chão a quem no chão foi criado”. Antes do início da interpretação, Gil declama estas palavras: “Esta música é dedicada ao físico nuclear Mário Schenberg”.

Mário…? Isso mesmo: Schenberg. Será ele um cientista alemão? O tempo passou mas a música ficou, ou melhor, a frase citada acima. E, como a nossa equipe vive sempre pesquisando a biografia de poetas, escritores, pensadores, etc, encontrou, recentemente, a seguinte síntese de Elifas Andreato sobre…

“Sempre de charuto na mão, simples, acolhedor, avesso a formalismos: descrição de um dos dez maiores físicos do mundo, segundo Albert Einstein na década de 1940. O pernambucano Mário Schenberg (1914-1990) trabalhou com dois Prêmio Nobel, o italiano Enrico Fermi e o austríaco Wolfgang Pauli, e contato ainda com Joliot Curie e Einstein. Em parceria com o russo George Gamow, um dos formuladores da teoria do Big Bang sobre a formação do Universo, Schenberg fez sua maior descoberta: explicou a formação das supernovas, estrelas que ao explodir brilham com intensidade de galáxia, liberando colossal energia.

Schenberg estudou no Recife (onde nasceu) e se transferiu em 1933 para a Politécnica de São Paulo. Trabalhou na Europa e Estados Unidos. Introduziu no Brasil cursos de cálculo e computação; e modernizou o ensino de Física, quando dirigia o Departamento de Física (hoje Instituto de Física) da Universidade de São Paulo.

Havia nele também o Mário humorista; estudioso da arte; e militante político. Foi um dos mais importantes críticos de arte do país e deputado federal pelo PCB em 1946, Cassado pouco depois. Sofreu com o golpe militar de 1964, preso até 1965. O eclético Schenberg morreu em São Paulo (capital) em 10 de novembro de 1990, aos 76 anos. Ele dizia: “Saber que não vou durar para sempre me é consolador. A morte é fator essencial de mudança e fonte de vida” (1).

Além de físico renomado, engenheiro e matemático, era professor universitário. Foi, inclusive, um dos primeiros civis a apoiar a campanha do “Petróleo é nosso” no governo de Juscelino Kubistchek. “Participou da luta em defesa dos minerais atômicos, procurando impedir a exportação deles” (2). Foi professor da USP quando tinha apenas 23 anos de idade, onde lecionou de l937 até 1969, quando foi cassado e aposentado por força do repressor AI-5.

No entanto, jamais deixou de assídua participação política partidária e social. Assim, como era grande o seu interesse pelo universo das artes plásticas. Durante seu exílio na Bélgica, “ajudou a fundar o Movimento Mundial da Paz. Mas, rancorosa, a ditadura militar brasileira incluiu o seu nome em seis processos pelas leis de segurança, razão pela qual esteve preso algumas vezes e escondido em outras, enquanto mantinha duras batalhas judiciais contra o regime” (2). Porém, foi absolvido de todas as acusações militares que pesavam contra si.

Após se aposentar da cátedra de professor, no início dos anos 70, viajou pelo exterior, sobretudo pela Europa, onde era muito respeitado como cientista. Por ser um apaixonado pelas plásticas, mantém amizade com amizade com vários artistas. “Organizou e promoveu várias exposições, inclusive bienais. Por exemplo, em 1983, ganha o Prêmio do Conselho Nacional de Pesquisa para Ciência e Tecnologia; em 1984, foi homenageado com um Simpósio Internacional pelos seus 70 anos de vida.

O pesquisador se foi em 1990, “não sem antes deixar uma herança de peso para a Ciência, no Brasil. Foi pioneiro nos estudos de Física Teórica e suas análises sobre Astrofísica são publicados em livros didáticos; existem laboratórios e prédios batizados com seu nome. Na década de 1990 foi realizada a exposição “O MUNDO DE MÁRIO SCHENBERG” sobre sua vida e suas atividades; existem grupos de estudo sobre seu legado até hoje, e ele continua sendo inspiração como personalidade multidisciplinar, que conseguiu unir os conhecimentos em Física às artes, à filosofia e à política, tornando-se um ser humano de pensamento completo. Suas ideias provam-se muito à frente do seu tempo, quando defendia o fim da era tecnicista e a hora da aproximação do homem com a Natureza” (3)

Senhores, aqui, mais uma vez, o Facetas brinda aos seus leitores com estes pequenos traços desse ilustre pernambucano que muito contribuiu para a Física brasileira e mundial. Também, soube, com maestria unir arte vs ciência para promover a PAZ que a humanidade tanto almeja. Parafraseando Gil, dedicamos este artigo à memória do físico nuclear Mário Schenberg.

Notinha útil – A nossa caçula e integrante desde blog, a universitária Angeline Gomes, encontra-se no Recife (PE), para participar, de 16 a 21 de fevereiro de 2025, do encontro: ESCOLA DE VERÃO EM CIÊNCIAS FARMACÉUTICAS, promovido pela UFPE”. À mesma e demais integrantes da Jornada, desejamos muto sucesso (www.facetasculturais.com.br).

Por Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes consultadas: 1. Elifas, Andreato, Almanaque Abril da Cultura Popular. SP: NS & A/TAM, 2005; 2. Dicionário Biográfico Universal Três. vol. 11, SP: Três Livros e Fascículos, 1984; e 3. www

Deixe um comentário