“Quem padeceu de insônia/Com a sorte da Amazônia,/Na lei do machado,/Mais forte do ano passado?” (Roberto e Erasmo Carlos, 1979).

É a Amazônia “em foco” sempre, ou seja, ocorre um Encontro de Cúpula ora na América ora na Europa, e assim sucessivamente. Por exemplo, em breve teremos mais… Dessa vez “o país se prepara para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) em Belém (PA)”.
No início da década de 1990 o jornalista Roberto Gueudeville, publicou nos principais jornais brasileiros uma série de artigos com o título “Amazônia para a UNO ver”. Aqui em Manaus, principalmente, a divulgação desse material ficava a cargo do jornal A Crítica. Porém, antes de Gueudeville – em meados dos anos 1980 -, outro jornalista, Max Krichanã escreve na imprensa local o memorável artigo: “Quem és, Amazônia?”, que passamos a reproduzi-lo aqui, na íntegra, em duas partes. Pois entendemos que o seu conteúdo responde a quem interessar possa as verdades regionais.
O destacado antropólogo e educador mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997), assim se posicionou sobre a Amazônia, não apenas a brasileira, mas a floresta no seu todo que abrange outros oitos países sul-americanos, além do Brasil, é claro: “Trata-se de salvar de uma destruição perfeitamente evitável a maior das selvas virgens e de defender da poluição o mais portentoso Rio da Terra. Trata-se de salvar, enquanto é tempo, toda uma fonte prodigiosa da vida para que, ao florescer amanhã, faça da Amazônia o grande jardim terrenal que os homens do futuro desejarão ver, cheirar, sentir, admirar” (2).
Vamos, então, a “Quem és, Amazônia?”: “A História que recebemos na escola sobre a Amazônia é insípida, falsa, se comparada com a História real que escorre em cada furo, em cada lago, em cada exemplar da flora e da fauna, no comportamento de cada nativo. O Brasil é um país de superlativos, onde tudo é grande, desproporcionado, desmesurado. É um universo que tem, na Amazônia, 20 mil quilômetros de hidrovias e ocupa uma área de 500 milhões de hectares povoando de vida e de riquezas minerais de toda espécie. Como nem sempre estas exatas dimensões estão presentes em nossa mente, podemos pensar, à guisa de ilustração, que só o Estado do Amazonas corresponde a três Franças (o maior pais da Europa) juntas, com seus 150 milhões de hectares. A bacia amazônica é a mais vasta do globo terrestre, com uma superfície de seis milhões de quilômetros quadrados (a dos EUA tem 213 mil km2) e contém 1/5 da água doce do planeta, distribuída por milhares de cursos que com sua coloração variada forma uma verdadeira aquarela de águas.
Para se ter uma ideia do comprimento do Rio Amazonas, que mede 6.577 km, basta dizermos que que é maior do que a distância que separa a África da América do Sul. O percurso de barco do delta do Amazonas até a cidade de Iquitos, no Peru, é ainda maior que o percurso em linha reta de Paris até New York. Tal rio colossal tem um declive insignificante com relação ao nível do mar, é de apenas 65 metros, e possui um volume de descarga que varia, entre o período de enchente e de vazante, de 120 mil a 320 mil metros cúbicos de água por segundo.
Mas quem se importa com tudo isso? Decerto não são os urbanos da Amazônia, nem o homem do hinterland, que pacificamente coabita com os elementos da natureza. Mas o visitante, o turista, o estrangeiro, esse sim, tem capacidade de apreciar a significação da grandeza amazônica em toda a sua pujança.
Segundo o Guines Book of World Records, o livro dos recordes mundiais, o Rio Amazonas é maior do que o Rio Nilo, com 4.145 milhas e o Amazonas, com 4.195 milhas, sendo que cada uma equivale a 1.852 metros de extensão.
As culturas nativas da Amazônia consideram-na a maior obra viva deixada por Deus. Os jesuítas, ao constatarem a existência de cerca de mais de 100 idiomas, há cerca de quatro séculos atrás, tentaram mesclar e fundir as vertentes principais de linguagem falada na selva numa única grande língua que hoje se conhece como Nheengatu ou Aba-nheenga. Os resquícios desta forma primitiva de comunicação estão dispersas pelas tribos que ainda resistem à aculturação.
A cultura autóctone, rica em misticismo, ao contrário do que se pensou no século XIX, é um grande auxiliar no estudo das culturas antigas. As ideias e crenças têm relação muito estreita com os ritos cíclicos na interpretação aos fenômenos naturais (físicos e biológicos)” (1).
Senhores leitores, quando da publicação da segunda parte (conclusão), faremos então um comentário conclusivo. Inclusive sobre a ilustração que oportunamente escolhemos para dar ênfase a questão: Quem és, Amazônia? Um barco a deriva, no “Encontro das águas”, na frente da cidade de Manaus, em plena Amazônia, para a UNO ver.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fontes consultadas: 1. Cad. especial do Jornal do Commercio, Manaus, de 14.09.1986; 2. Encarte do CD “Amazônia Viva”, do Boi Garantido de Parintins, 2001; e 3. Ilustração de Clícia Vidal. Capa do livro “Manaus em Poesia”, 2. ed. de Evany Nascimento, Manaus/UEA, 2019.
Trabalho de excelência
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