Gaúcho da cidade de Cruz Alta, Erico Verismo (1905-1975), foi um dos maiores escritores brasileiros. Meio século depois de morto, seu legado literário continua vivíssimo. Entre outras atividades por ele exercidas ao longo da vida, foi a de professor de Literatura Brasileira na U. de Berkeley, Califórnia, EUA, de 1943 a 1948, onde, inclusive, ganhou o título de Doutor. Como escritor, foi um dos mais lidos fora do Brasil, tendo as suas obras publicadas em inglês e espanhol. Dedicava-se ainda, ao desenho, à música e à leitura das obras de Machado de Assis, Jonathan Swift, Oscar Wilde e Anatole France. Começou a carreira literária escrevendo contos em Porto Alegre, e os publicando no Diário de Notícias e no Correio do Povo, na década de 1930.
Em 1932 publica o seu 1º livro, Fantoche, e no ano seguinte comprova seu inegável talento com Clarissa. Aos 30 anos de idade, em 1935, ganha o prémio “Graça Aranha” da ABL com Caminhos Cruzados. Depois veio o prêmio “Machado de Assis” da Companhia Editora Nacional, com Música ao Longe. Pelo MEC, foi premiado com Tibicuera, livro infantil, cuja leitura é imperdível.

Também escreveu e publicou trabalhos de caráter político: O Senhor Embaixador; O Prisioneiro; Incidente em Antares, etc. Outras obras de sua autoria e de fundamental importância são: Olhai os lírios do campo (1938) e Israel em abril (1969). Porém, a sua obra-prima, composta em três partes: iniciada com O Continente, 1949, prosseguindo com O Retrato, 1951, e finalizada com O Arquipélago, 1961, que recebeu o nome geral é O TEMPO E O VENTO.
Em 1985 a Editora Globo lança esses três livros, “que contam a saga do Rio Grande do Sul e do Brasil desde o século 17 até o fim do Estado Novo”, em dois volumes de tamanho enciclopédico, ou seja, de 31 X 23 centímetros, em 995 páginas, pesando cerca de 3,5 quilos, só para mencionar esse grandioso trabalho. Tem mais. As 56 ilustrações (em estilo impecável) são de criação do mestre, também gaúcho, Nelson Boeira Faedrich (1912-1994), que segundo Veríssimo era “um poeta da linha”, devido a perfeita qualidade editorial de seus desenhos.
Para a reedição dessa obra, os seus idealizadores contaram com a anuência de Mafalda Volpe Veríssimo, viúva do escritor e dos filhos, Clarissa Veríssimo Jaffe e Luís Fernando Veríssimo. O ano de 1985 foi escolhido propositalmente, por conta de fatos importantes, do país e da sua História, como: os 80 anos de nascimento de Erico e os 10 anos de sua morte; e os 150 anos da Revolução Farroupilha (1850-1985), isto é, da Guerra dos Farrapos. A edição comemorativa ora comentada, teve apenas 300 unidades publicadas em encadernação especial. Diga-se de passagem, que o acervo do Facetas possui os volumes I e II. Coisa rara!
Segundo os seus editores “o lançamento da trilogia completa (volume I: O Continente e O Retrato; e o volume II: O Arquipélago; Personagens; e a Genealogia da Família Terra-Cambará), também pretende homenagear aqueles que, através de anos de leituras e releituras, se apaixonaram pela obra e transformaram personagens como Ana Terra, Capitão Rodrigo, Bibiana, Bolívar , Fandango Maria Valéria e outros em figurinhas tão reais quanto as outras, de carne e osso, que ajudam a fazer a História do Rio Grande do Sul e deste país.
E também é uma homenagem – com uma ponta de inveja -àquelas pessoas que descobrirão o fascínio de O tempo e o vento pela primeira leitura e só agora vão conhecer a história dos Terras, dos Cambarás e de Santa Fé”. Nesse contexto justifica-se muito bem a seguinte citação do autor: “Este é o livro mais franco e mais livre de inibições que escrevi em toda a minha vida” (1).
O professor, historiador e escritor, também gaúcho, Mozart Pereira Soares (1915-2006), ao analisar o escrito de seu conterrâneo, no texto: “A mulher na obra de Erico Veríssimo”, diz: “Com esta obra – O tempo e o vento – ele experimenta a sua “revulsão do interior”, semelhante à de Machado de Assis frente ao seu Memórias póstumas de Machado de Assis. Tudo o que publicara anteriormente passa a ter o significado de uma fase preparatória para este momento que lhe valeu a conquista do posto de grande romancista, não só nacional, como continental. O eixo literário do Brasil, em matéria de romance, que antes parecia estar no Nordeste, com Graciliano Ramos, se desloca para o Sul”.
Por fim, o mesmo mestre assegura: “O tempo e o vento se decompõe em três momentos, cada um deles dominado por uma destas figuras de sua trindade feminina: o da epopeia, que apanha os primórdios do Continente com Ana Terra; o da História, abrangendo o fim do Império e os primeiros anos da República, sob a tutela de Bibiana, e o terceiro, o da crônica da sociedade contemporânea que tem como centro Maria Valéria” (1).
Considerando-se que “o povo andava sempre em busca dum Pai”, Veríssimo finaliza O retrato assim: “No Brasil Imperial, Pedro II, barbudo e bondoso, preenchera sua funções paternais à maravilha. O Estado Novo produzira o Pai dos Pobres. Na Rússia czarista o povo chamava Paizinho Nicolau II, que os bolchevistas acabaram o depondo e fuzilando. No fundo, o comunismo talvez não passasse de duma revolta contra o Pai. Joaozinho e Ritinha revelavam-se contra o pai, que, sem meio para prover-lhes a subsistência, os abandonara à fome e às feras em meio da floresta. Mas a busca do pai assim mesmo continuava. Stalin era agora considerado o Pai do Proletariado. E em nome daquele pai georgiano, simbólico e remoto, Eduardo negava o pai legítimo” (1).
Aos nossos leitores sem tempo para analisar esse manual da nossa literatura, contendo, possivelmente, um milhão de palavras. Eis aqui, uma síntese cuidadosamente feita para você, com citações de Veríssimo, assim como as considerações do mestre Mozart. Ficando, portanto, a critério de cada leitor(a) escolher quem o atual “Pai” do Brasil, historicamente falando.
Notinha de pesar – O Facetas lamenta profundamente o falecimento, nesta semana, dos dois gênios brasileiros: o das letras, professor pernambucano Evanildo Bechara ( 26.02.1928-22.05.2025); e o das lentes, fotógrafo mineiro Sebastião Salgado (08.02.1944-23.05.2025). O legado cultural dos DOIS há de perdurar por muito tempo, seja entre nós, seja nas gerações futuras (www.facetasculturais.com.br).
Notinha útil – O nosso leitor, O bancário Zeca Silva, da cidade de Vilhena (RO), nos fez lembrar dos 80 anos de idade do grande sambista brasileiro, de Parintins (AM), Chico da Silva, cuja data ocorreu no dia 08 desde mês. “Sonhos de menino/É crescer, ganhar o mundo”. A esse artista maravilhoso que cresceu, ganhou o Brasil com as suas melodias e letras contagiantes, o nosso blog deseja-lhe muita saúde e vida longa (www.facetas culturais. com.br).
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: 1. Veríssimo, Erico. O tempo e o vento. RJ: Ed. Globo, ed. especial em 2 tomos, 1985