“MINHAS MÃOS, MEU CAVAQUINHO”, Waldir Azevedo

   
  Waldir Azevedo era carioca da cidade do Rio de Janeiro, nascido no bairro da Piedade, a 27 de janeiro de 1923 (se fisicamente vivo estivesse, amanhã estaria completando 96 anos), e morreu na Beneficente Portuguesa em São Paulo, vítima de um aneurisma da aorta  abdominal a 20 de setembro de 1980, aos 57 anos.
     De família pobre, passou a infância e adolescência no bairro do Engenho Novo. Talentoso, ainda criança, manifestou grande interesse pela música. Tornando-se, quando adulto, além de músico, notável compositor e, “o maior tocador de cavaquinho do Brasil” (1). Elevando esse instrumento, a uma posição nobre da música brasileira, inclusive no exterior. São de sua autoria, por exemplo, Delicado, Pedacinhos do Céu, Vê se Gostas, Chiquita, Carioquinha, Brasileirinho. Esta última, apesar de ter sido lançada nos anos 50, é um clássico. Ouvida sempre.
     Aos 6 anos de idade, conseguiu comprar uma flauta transversa, “depois de juntar dinheiro capturando passarinhos e vendendo-os” (2). aos 10 anos, lá estava ele no Jardim do Méier, se apresentando ao público pela primeira vez, como flautista, tocando Trem Blindado, de João de Barro.
     Aos 15 nos, junta-se a alguns amigos que se apresentavam no próprio bairro onde moravam. Logo trocou a flauta, sucessivamente, pelo violão, bandolim, viola americana e banjo. Mas, quando o violão elétrico ganhou projeção no Brasil, deixou em desuso o cavaquinho. Nesse mesmo contexto, aos 17 anos, tocou o primeiro chorinho, Cambucá. 
     Waldir estava no auge da juventude e pretendia ser piloto de avião, mas seus problemas cardíacos, sinalizaram, não. Então, o jovem foi trabalhar na companhia elétrica do Rio de Janeiro, a Light para sobreviver, é claro. No entanto, em 1945, foi para o conjunto de César Moreno, na Rádio Mayrink Veiga. De lá migrou para o grupo Dilermando Reis, na Rádio Clube do Brasil, onde ficou por dois anos. Nessa época descobriu o cavaquinho.
      Na década de 1950 já era um destaque da nossa música, fazendo sucesso com composições aqui citadas, entre outras, que o projetaram internacionalmente. “Durante 11 anos viajou com seu conjunto para a América do Sul e Europa, incluindo duas viagens patrocinadas pelo Itamaraty na Caravana da Música Brasileira. Suas composições tiveram gravações no Japão, Alemanha e Estados Unidos, onde Percy Faith e sua orquestra atingiram a marca de um milhão de cópias vendidas com uma gravação de Delicado. Waldir chegou a participar de um programa na BBC de Londres, transmitido para 52 países” (2).
     Mas, como a vida é um enigma, ela não foi diferente para aquele imortal da música instrumental. Ele também viveu momentos de alegria e de tristeza. Uma ALEGRIA: “Em 1947, um sobrinho de apenas 10 anos insistia com o compositor para que ele tocasse num pequeno cavaquinho, que tinha uma única corda. E naquele momento nasceu o chorinho Brasileirinho, uma das músicas de maior sucesso, em todos os tempos, no Brasil” (1).
     Dois momentos tristes em sua vida: a) “Em 1964, com a morte de sua filha Miriam aos 18 anos, afastou-se da música” (2); b) Em 1971, aos 48 anos, foi morar em Brasília. Lá “sofreu um acidente com um cortador de grama. Por isso, perdeu o dedo anular (esquerdo) e foi forçado a ficar sem tocar por um ano e meio” (2). Porém, após os necessários cuidados médicos, depois de “um implante, ele recuperou os movimentos, voltando a ser o virtuose do cavaquinho” (1).  
     A primeira gravação do seu trabalho ocorreu nos estúdios Cineac Trianon, em 1949, cujo disco – um compacto simples – que continha Brasileirinho e Carioquinha.  A partir de então, produziu sempre sua arte, isto é, continuamente.
     Quando morreu estava preparando a gravação de um novo álbum, ou seja, seu 26º LP. Por ser um artista meticuloso, “ainda deixou instruções para os músicos gravadas em fita cassete” (2). “Além disso, tinha 50 discos de 78 rotações (quando em movimento o disco dura um pouco mais de 1 segundo por volta), com um total de 150 músicas gravadas. Mantinha-se em atividade constante, percorrendo o Brasil e fazendo shows ao vivo. Waldir teve um período de ostracismo, ma década de 1960, renovando seu prestígio com a recuperação do chorinho. A crítica considerou sua morte uma grande perda para a música instrumental brasileira” (1)
     Na contracapa do disco MINHAS MÃOS, MEU CAVAQUINHO, cujo título deste artigo e foto foram por nós do Facetas, emprestados da gravadora, traz os seguintes esclarecimentos assinados pelo próprio Waldir:
     “A você que adquiriu este LP, desejo fazer alguns esclarecimentos. A foto que vocês encontram nesta contra-capa é um quadro da pintora NOVELINO (Cléa Maia Novelino) inspirada em mim e premiada com o “Medalhão Bronzeado – Youth For Understanding”, no XI São Feminino da Sociedade Brasileira de Belas Artes, com o título Minhas Mãos, Meu Cavaquinho – Waldir Azevedo”.
     Sensibilizado e agradecido à grande artista NOVELINO, fiz um choro com o mesmo título do quadro e batizei este disco.  
     O outro esclarecimento se prende ao mesmo choro, que no final da música, como vocês podem ouvir neste LP, um trecho da “Ave Maria” em agradecimento a Deus por ter permitido que eu voltasse a tocar depois de um acidente em um dos dedos da minha mão esquerda, que tudo fazia crer eu ter de encerrar minha carreira. 
     Agradeço a todos e ´principalmente aos amigos abaixo (estão relacionados os nomes que compõem a ficha técnica e os músicos) que tornaram possível a realização deste disco” (3).
     O disco em questão é de uma beleza ímpar e indispensável de ser ouvido. São 12 faixas, sendo: Só Nostalgia, Uma Saudade, Sem Pretensões, Arrasta-Pé, Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, Choro Novo em Dó e Marcha de Espera, todas de Waldir. E, ainda: Frevo da Lira (Waldir Azevedo – Luiz Lira), Chorando para Pixinguinha (Toquinho e Vinicius de Moraes), Paisagem (Hamilton Costa), Assim Traduzi Você (Avendano Junior) e Lembrando Chopin (Waldir Azevedo (Waldir Azevedo – Hamilton Costa).
     Ouçamos mais Pixinguinha, Altamiro Carrilho, César Camargo Mariano, Pedrinho Mattar, Waldir Azevedo, Arthur Moreira Lima, e tantos outros monstros sagrados da música instrumental ou não. Todos os gêneros musicais são fantásticos, principalmente os representados por esses e outros mestres da música nacional e internacional.
     REVOLTA E TRISTEZA
     O Facetas, antenado como sempre, não pode deixar de manifestar suas revolta e tristeza sobre o que ocorreu ontem em Minas Gerais. Mariana não foi a primeira e Bromadinho não será a última tragédia desse porte, no contexto ambiental. A Natureza só está cobrando do homem malfeitor a agressão que vem sofrendo há décadas. Essas políticas perversas e desastrosas não podem mais continuar, seja no Brasil ou fora dele. Os versos abaixo falam por si e nos levam – urgentemente – a refletir e unir forças sociais para evitar esses projetos nefastos: Agora vem o presidente da Vale com aquela estória de “mamãe lá vem a chuva”.
     “Não sou contra o progresso/Mas apelo pro bom senso/Um erro não conserta o outro/Isso é o que eu penso” (O PROGRESSO, 1976, Roberto e Erasmo Carlos).
     “O que será o futuro que hoje se faz/A Natureza, crianças e animais?
                           (O ANO PASSADO, 1979, Roberto e Erasmo Carlos).
     “Enquanto os homens exercem
                                           Seus podres poderes
                                                             Morrer e matar de fome
                                                                                    de raiva e de sede
                                                                                                   São tantas vezes
                                                                                                                    gestos naturais”
                                   
                                                                  (PODRES PODERES, 1984, Caetano Veloso).  
     Pesquisa, texto e arte: Francisco e Angeline Gomes
     Fontes
     1. Dicionário  Biográfico Universal Três, vol. 1, SP, 1984, p. 122
     2. www. institutowaldirazevedo. com.br
     3. LP Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, de Waldir Azevedo,  gravadora Chantecler, p. 1977.

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