Angela Ro Ro por si mesma

Angela Maria Diniz Gonsalves (com “s”), conhecida no meio artístico como Angela Ro Ro, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro de 1949, e nessa cidade faleceu no dia 8 deste mês, aos 75 anos. “O apelido “Ro Ro” foi dado na infância por meninos do seu bairro devido a sua voz rouca”. Aliás, a sua voz foi considerada pela revista Rolling Stone, como a 33ª maior da música brasileira. Excelente cantora, compositora e pianista.

O nosso acervo contêm apenas seis Discos e nove CDs. Os LPs são: Só nos resta viver (1980), Escândalo! (1981), Simples carinho (1982), A vida é mesmo assim (1984), Eu desatino (1985) e Prova de Amor (1988). Amor, Meu Grande Amor, dela e Ana Terra, é um dos seus grandes sucessos. Fogueira, também de sua autoria, estourou em todo o Brasil, em 1984, na voz de Maria Bethânia.

Nos encartes dos discos acima mencionados constam textos interessantes e assinados por ela. Leiamos alguns trechos. É a pura poesia (e admoestação também a si) à flor da pele. A começar assim: “O poeta não quer destruir centros urbanos, ele apenas vislumbra além dos edifícios e monumentos as planícies verdejantes da alma. O poeta não tem solução para a dor e a fome humanas, ele apenas traz lirismo e dignidade à condição humana. Por que então arrancaram seus olhos e mutilaram suas esperanças” (1).

Tem mais: “Meu querido ou minha querida, espero que você curta este disco, e viva bem! Toda e qualquer coisa nessa vida, por maior o disparate aparente, tem a sua lógica e sua razão de existir. (…) Num país como o nosso, não há melhor modo de se começar algo do que renumerando. Portanto, “RENÚNCIA” abre este rosário de canções (são 12)” (2).

No encarte “E isto é música!”, ele diz: “Julgar o trabalho de criação de uma pessoa é tarefa quase tão impossível quanto julgar suas ações e sentimentos. Elogiar genuína ou apelativamente também não passa de função fictícia e efêmera; por essas razões decidi escrever o release meu terceiro disco. Uma razão é a de que grande número de pessoas tenha abusado do direito de criticar e julgar, não só meu trabalho, mas minha pessoa a ponto de me deixarem tão só para escrever esse release” (2)

E ao garantir que faz música e poesia desde criança e permanece como tal “justamente pela beleza que me foi enviada a fazê-la”, afirma: “Levado em consideração ser apenas uma cidadã musical-universal, não espero utopicamente, ansiosa por uma compreensão filosófica ou ao menos um reles reconhecimento histórico; apenas vomito sem controle algum o que consigo destilar da vida” (2).

Em outro encarte, faz este registro: “A cada pensamento que tenho, a cada som que emito, meu desejo e interação não são de perturbar, mas sim de compartilhar com todo o universo (…). A esperança de acertar sucumbe ao erro teimoso de uma raça ingênua, porém nunca inocente. As visões e os sacrifícios de quase nada adiantaram para sobrevivência humana, apenas se tornaram cultura de uma elite de partidos, cujo o prazer é especular a salvação” (3).

No disco de 85, faz este registro: “Ser forte sem perder a ternura, frágil força do saber viver sem utopias, e tão pouco aceitar a realidade mentirosa que nos é oferecida! Buscar dentro de nós a irmandade, nos aliando então aos verdadeiramente semelhantes, tarefa cuidadosa nesse mundo de disfarces. As crianças, os animais, a natureza, o direito à vida, e a vida com direitos. Por isto eu luto, por isto eu vivo! Meu pensamento é uma tribo, minha vida uma nação, minha família todas as raças” (4).

EmProva de amor grafa: “O caos e o Cosmos, o Micro e o Macro, toda a perfeição da natureza e a fragilidade do ser humano com seus desequilíbrios me enternecem ao ponto de amar a vida. (…) Os simples, os fortes, as crianças, os selvagens e as feras andam comigo pra baixo e pra cima, e nunca se cansam e não me deixam cansar… Ninguém é condenado à solidão. A solidão é uma condição existencial. Que nunca me falte a força da ira solene para expulsar os mercadores fajutas do meu templo!” (5).

Por questão textual (espaço), deixamos de citar outras frases, inclusive aquelas, nas quais, a cantora revela que foi vitima de críticas, por polêmicas dela, dentro e fora do mundo artístico. Mas, isso passou enquanto que o seu legado musical permanecerá em nosso mundo real. Assim, esperamos que os nossos leitores gostem deste artigo.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes consultas: Os encartes dos LPs acima citados: 1. Escândalo (81); 2. Só nos resta viver (80); 3. Simples Carinho (82); 4. Eu desatino (85); E 5. Prova de amor (88), da PolyGrm e Estúdio Eldorado.

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