“Amor é fogo que arde sem se ver;/É ferida que dói e não se sente;/É um contentamento desconte;/É dor que desatina sem doer” (Camões).
Tanto Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), quanto Cecília Meireles (1901-1964), dispensam apresentação. Sejam como cronistas, poetas ou contistas. São marca registrada e de grande popularidade da literatura brasileira, entre outros nomes, é claro. Assim sendo, dividimos este artigo em duas partes. Ambas “Falando de amor”.
Cecília Meireles. Nos trechos a seguir, “nos fala, numa prosa poética, sobre a felicidade que pode existir em todos nós”. O texto Arte de ser feliz é uma crônica. A crônica é um gênero textual em que são abordados temas do cotidiano. Entre outras características, pode ser humorística, lírica, crítica. reflexiva. Vamos aos fragmentos:
“Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. […] ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino” (1).
“Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela (de cada um de nós), uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim” (1).
Só lembrando: os tempos verbais empregados nos parágrafos acima, “estão no presente do indicativo”, no momento atual, presente. Outro ponto interessante é a questão da felicidade, ou seja, “é importante que todas as pessoas saibam olhar com atenção o que as cerca, para que aprendam a ver o lado bom das coisas, mesmo quando as situações não são totalmente satisfatórias”, assegura a autora Leila.

2 – Carlos Drummond de Andrade. No livro A cor de cada um, há este belíssimo texto intitulado “Maneira de amar”, assim: “O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava o gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido oi girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido? Não”, respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso e gostava” (1).
Senhores, a leitura é algo prazeroso. E quando as palavras vida, amor, felicidade, flores, etc, veem da seara dos cronistas acima citados, o contentamento toma conta da gente e nos encantam.
Notinha útil – Ontem Manaus, a capital do Amazonas, comemorou os seus 356 anos de fundação. Assim, o poeta Carlos Almir Ferreira versou: “Assim que pude ver o sol/saindo do rio Negro,/é que vi o teu segredo/de loucura e de beleza,/o porquê de te amar,/de gostar de ti,/Manaus…” (www.facetasculturais.com.br).
Por Angeline e F. Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: 1. Sarmento, Leila Lauar. Português: Leitura, Produção e Gramática – 2 ed. – SP: 2006.