“O Bem-Amado”, de Dias Gomes

Recentemente compramos, ao mesmo tempo: o disco da trilha sonora da novela “O bem-amado”(1973), o livro com o texto integral (2010) da peça teatral de “O bem-amado” de Dias Gomes, e a obra “SOM LIVRE: uma biografia do ouvido brasileiro” (2024), do escritor Hugo Sukmen, que, entre outros assuntos, fala sobre a criação artística do novelista baiano.

Fizemos, portanto, uma acurada leitura dos conteúdos para este artigo sobre a arte criativa de Alfredo de Freitas Dias Gomes (19.10.22-18.05.99). “Dias Gomes nasceu em Salvador em 22. Passou a residir no Rio de Janeiro em 1935, onde trabalhou no teatro, no rádio e na televisão, obtendo grande sucesso de público e de crítica, apesar da censura da ditadura militar. Foi um sagaz questionador da realidade brasileira, com um olhar lúcido e crítico para as desigualdades e os absurdos de uma sociedade que passava por intensas transformações. Em 1991 conquistou um merecido lugar na Academia Brasileira de Letras. Morreu oito anos depois, vítima de um acidente de carro, em São Paulo” (1).

Segundo Hugo Sukman, “para a trilha sonora da primeira nova em cores da Globo, O bem-amado (1973), clássico teatral de Dias Gomes, foi convocado o decano dos compositores brasileiros, Vinicius de Moraes, e seu jovem parceiro musical Toquinho” (2), resultando em “uma trilha espetacular”, confirma José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. O LP tem 11 músicas, sendo 9 delas de autoria da dupla; uma de Toquinho e uma, versão de Vinicius, do italiano Sergio Endrigo. As interpretações são de Vinicius eToquinho, Maria Creusa, Toquinho e Maria Creusa, Toquinho, Coral Som Livre, Nora Ney e Orquestra Som Livre. Entre as canções, estão as inesquecíveis: Paiol de Pólvora (censurada, inicialmente), Patota de Ipanema e Cotidiano nº 2.

“Assim como a novela, a trilha trilha sonora enfrentou problemas com a censura. A abertura seria com “Paiol de Pólvora”. Mas a canção foi proibida por causa do verso “Estamos presos no paiol de pólvora” e por todas as metáforas sobre a situação política brasileira que a novela a trilha suscitavam” (2). Toquinho preciso fazer mudanças na música original para ser liberada.

O livro com o texto integral da peça de teatro homônima, é também, muito interessante. Até porque o prefácio vem assinado por Ferreira Gullar, o qual assegura ser “certamente uma das melhores comédias do teatro brasileiro”. E, ao citar o autor, diz: “De fato, como Dias observa, a ditadura só fez estimular a proliferação dos Odoricos”, com “a farsa sociopolítico-patológica em novos quadros”. Tem mais: a apresentação da peça escrita é feita pelo próprio Dias, datada de 10.04.91, onde afirma ser o elenco maravilhoso, liderado pelo fabuloso Paulo Gracindo, como Odorico Paraguaçu, “um personagem definitivamente inserido no imaginário popular brasileiro” (1).

“O Bem-Amado (cuja primeira versão é de 1962) é a divertidíssima peça teatral que se transformou em telenovela – a primeira a cores no país – seriado de televisão e agora (2010) também em longa- metragem (dirigido por Guel Arraes), alcançando grande popularidade. A peça enfoca a candidatura e eleição de Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, a fictícia cidadezinha litorânea da Bahia.

Dias Gomes retrata o típico político astuto que faz de tudo para atingir seus objetivos. E, na condição de novo prefeito, o que Odorico mais deseja (com o seu neologismo “pratrasmente”) é inaugurar a sua grandiosa obra política, o primeiro cemitério (“vertical de muitos andares”) de Sucupira, para enfim cair nas graças do povo. Mas quem disse que é fácil aparecer um cidadão digno o bastante para bater as botas e estrear o campo-santo? Diante desse impasse, nosso protagonista não pode continuar de braços cruzados, e chega ao cúmulo de nomear Zeca Diabo , “famoso fazer de defuntos”, delegado da cidade” (1).

Senhores leitores, passado mais de meio século dessa “constatação política brasileira” do genial Dias Gomes, como você acha que anda a realidade sociopolítica do Brasil atualmente?

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes consultadas: 1. LP trilha da novela “O bem-amado”, RJ: Som Livre, 1973; 2. Texto integral da peça de teatro “O bem -amado”, RJ: Pocket Ouro, 2010; e 3. Sukman, Hugo. Som Livre: uma biografia do ouvido brasileiro. – 1ª ed. – RJ: Globo Livros, 2024.

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