O programa radiofônico “A Voz do Brasil” está no ar há 90 anos. Foi inaugurado em 1935, no de Getúlio Vargas. Esse programa é transmitido, a partir de Brasília, para todo o Brasil, de segunda à sexta-feira, às 19 horas e, “invade” as casas de milhões de brasileiros, principalmente o interior da Amazônia, pelo rádio e outras tecnologias digitais atuais. Tem como a música da abertura da ópera “O Guarani” de Carlos Gomes. É algo magistral da partitura inconfundível do maestro citado. Por falarmos no rádio, tem mais de um século que esse veículo de comunicação é marca registra, mais ainda, nos lugares mais longínquos do país.
Outro exemplo de beleza da execução dessa ópera – que sempre soa como nova aos ouvintes – vem do cantor Zé Ramalho. Em 1986 no disco “Opus Visionário”, a canção Zyliana , tem como música incidental “O Guarani”. A melodia dessa composição ficou linda demais! Acima de tudo quando a gente ouve estes versos: “Fecho o quarto com cimento/E veja que mundo cinzento/E como ficou o verbo amar”. É fantástico!
Antonio Carlos Gomes, nasceu em Campinas (SP), em 11 de julho de 1836, e morreu em Belém (PA), no dia 16 de setembro de 1896, aos 60 anos. Sua música de temática brasileira e estilo italiano foi inspirada em óperas de Verdi. No entanto, sua arte ultrapassou as fronteiras do Brasil, para conquistar o público europeu, acima de tudo com a sua obra-prima Il Guarany.

Apesar de ter vivido uma longa temporada na Europa, quando ficou “doente e com dificuldades financeiras, já no Brasil, compôs seu último trabalho, “Colombo”, oratória em quatro atos para coro e orquestra à qual chamou de poema vocal sinfônico e dedicou ao 4º Centenário do descobrimento da América”, por Cristóvão Colombo, em outubro de 1492.
Consta na História do Brasil, que “os modernistas de 1922 desprezaram Carlos Gomes, mas o público nacional sempre valorizou suas modinhas românticas – Bela ninfa de minh’alma, Suspiros d’alma, Quem sabe? -, a parte mais autenticamente brasileira de sua obra, e a abertura (“protofonia”) de Il Guarany. Em 1993 essa ópera, meio esquecida, voltou aos palcos europeus ao ser montada por Werner Herzog, na Ópera de Bonn, com Plácido Domingos no papel de Peri”.
Ainda sobre essa conhecida ópera, apresentamos aqui o disco: “O Guarani e outros favoritos de saber latino”, ou seja, um LP lançado pela gravadora RCA (parte do acervo do Facetas), em 1963, com regência do maestro Arthur Fiedler e a Orquestra de “Boston Pops”. Além, da abertura com “O Guarani”, consta outras peças memoráveis, é claro. Nove, ao todo.
Na contracapa, consta esta imperdível nota, da gravadora: “Boston é como um primeiro amor. Deixa impressões e lembranças que nunca podem ser apagadas, apesar do tempo e da distância. INVERNO? Granizo açoitado pelos ventos do nordeste e impelido violentamente de encontro às árvores nuas dos jardins públicos. OUTONO? Crepúsculo, o azul de aço do céu por sobre a linha do horizonte, e a cidade cintilando qual prata fina. PRIMAVERA? Chuvas de abril formando poças da Praça Copley e se escoando pelos impermeáveis negros dos guardas do trânsito.
Porém, é no VERÃO que a cidade realmente vive, quando a agitação é febril, ininterrupta, até começar a soprar, ao fim da tarde, aquela brisa que traz consigo o cheiro do mar – e o abençoado descanso. As noites de verão são particularmente adoráveis, e ainda mais em julho ao longo da margem bostoniana do rio Charles, onde um suave manto de música por sobre milhares de ouvintes espalhados num gramado diante da notável concha acústica que é a Hatch Memorial Shell.
Arthur Fiedler leva ao ar livre uma orquestra para a realização dos Concertos Esplanade anuais em julho, logo após a temporada Pops Symphony Holl. Uma instituição bostoniana, destarte, sucede a uma outra, e ambas são instituições porque cada temporada constitui-se em acontecimento tão importante para a vida de Boston quando a excepcional política e as espalhafatosas manchetes jornalísticas da cidade.
Existe algo na sonoridade e na compostura da Pops sob a regência de Arthur Fiedler que faz com que esta orquestra se empenhe na música “latina” com entusiasmo e uma verve não igualados praticamente por nenhuma outra organização musical. As cordas inflam voluptuosamente, e o ritmo palpita e despede centelhas; os metais eclodem e investem impetuosamente. Brindado com tamanha exibição de poderia, até o mais idoso dos ouvintes deve sentir o calor de uma nova vida. Note-se aqui o brilhante tratamento dispensado à abertura de “O Guarani”. E note-se também, como são executados com fulgor os acordes de outras especialidades da Boston Pops como La Sorella, España Cani, Jamaican Rhumba e Danze Piemontesi.
A orquestra constitui-se numa impressão da cidade que acompanha a lembrança de frios invernos, cálidos verões e úmidas primaveras e outonos. Porém, é uma impressão de prazer, pois Boston Pops é, na verdade, uma Orquestra para todas as estações” (1).
Show! Show! Show! Ouvir música, independente da idade, nos faz “sentir o calor de uma nova vida”, independente qual seja o gênero musical. Leitores, esperamos que gostem deste artigo.
Notinha de saudades – Se vivo estivesse, amanhã (30) o nosso patriarca João “Sabino” Gomes, estaria completando 90 anos. Porém, ele se foi aos 63 anos, vítima de uma acidente de trânsito, em Porto Velho (RO). Mas, deixou em cada um de nós, os seus descendentes, a herança de seus inquestionáveis valores éticos, morais, religiosos, etc.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: 1. LP “O Guarani e outros favoritos”, com Arthut Diedler, SP: RCA, 1963.