O Hino do Amazonas

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Imagem: Acrítica

          Tenho percebido ser cada vez menor a execução do Hino do Amazonas em solenidades – sejam oficiais, desportivas, educativas. Ao longo de 30 anos como professor tem sido esta a minha obrigação: motivar a classe estudantil, não apenas cantar, mas também aprender sobre a origem do desse Hino. Agora, então, por meio da Internet, o Facetas materializa esta campanha como efeito multiplicador, por meio dos seus leitores.

     O nosso Hino, foi concebido por dois gigantes das letras amazonenses: Cláudio Santoro, autor da música( melodia) e Jorge Tufic, autor do poema (letra). Sobre os dois apresentamos um pequeno esboço biográfico para quem ainda não os conhecia.
     CLAUDIO FRANCO DE SÁ SANTORO (1919-1989), compositor, maestro, violinista e educador. Amazonense, nascido em Manaus, a 23 de novembro de 1919 e falecido em Brasília a 27 de março de 1989, aos 70 anos. Se fisicamente vivo estivesse no dia 23 deste mês completaria 99 anos.
     Talentoso e grande conhecedor da música clássica, foi referência em vários países mundo afora. Por exemplo, no auge da carreira participou do Latin America in Berlin (1968). Suas principais composições são o Hino do Amazonas, a Paulistana nº 1 e o Canto de Amor e Paz. 
     JORGE TUFIC ALAÚZO (1930-2018), jornalista, ensaísta e poeta. Acreano, nascido no Município de Sena Madureira a 13 de outubro de 1930, onde iniciou seus estudos escolares, os quais foram concluídos em Manaus e falecido em São Paulo a 14 de fevereiro deste ano, vítima de câncer pulmonar, aos 88 anos. 
     Tufic foi um dos participantes do Clube da Madrugada – movimento ocorrido em Manaus em prol das artes e das letras amazonenses, principalmente. Algumas obras suas são Varanda de Pássaros, Quando as Noites Voavam, Coral das Abelhas, etc. 
     Segundo o poeta Zemaria Pinto, seu amigo “era uma pessoa que estava sempre à frente dos acontecimentos, dos movimentos poéticos, ele realmente conhecia tudo” (2). Isso fica evidente em abril de 2009, quando do lançamento do livro Um Hóspede Chamado Hansen (Livraria Valer, Manaus), o autor fala com simplicidade sobre sua vida e sua vasta produção literária, nesta entrevista:
     Em Tempo – Como foi sua experiência com a leitura ?
     Tufic – Foi muito importante na minha formação. Muito cedo tive contato com os livros e quando iniciei o estudo elementar aprendia rápido graças a esse contato. Depois, quando chegou a hora da leitura, que contribuiu para minha formação como escritor, eu já estava pronto. 
     Em Tempo – E a sua incursão no mundo da ficção?
     Tufic – Eu já havia tentado expressar esse meu mundo interior, um tanto memorialístico no livro O outro lado do rio das lágrimas e Filhos dos terremotos, ambos contos. Agora veio a novela: Um hóspede chamado Hansen, fruto de uma ida minha ao dermatologista. É um livro interessante e composto por 4 partes: as 3 primeiras trazem a novela e, na última, apresento 10 contos inéditos.
     Em Tempo – A Amazônia é uma referência no seu percurso intelectual. Como é que ela entra na sua vida e na sua obra?
     Tufic – Entra como cenário da minha infância e eu a acompanho vendo a cada dia o seu enterro, que alguém já classificou como o enterro mais longo de toda a sua história. Então a minha visão começa do paradisíaco para depois ser toldada (manchada, suja) pela destruição da Amazônia. E daí nasce a inspiração para produzir uma poesia com forte componente social. 
     A significância desse poeta para o mundo literário tem valor inestimável desde a década de 70: em 1976, foi agraciado com o diploma “O poeta do ano” pelo Sindicado dos Jornalistas do Estado; foi sócio-fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras em Tabatinga (AM); membro da AAL – Academia Amazonense de Letras; membro da União Brasileira de Escritores e membro do Conselho Estadual da Cultura. 
     Em 1980, foi vencedor de um concurso nacional, lançado pelo então governador do Estado, José Lindoso, para a escolha do Hino do Amazonas, cujo poema, na íntegra, é o seguinte:
     Nas paragens da história o passado
     é de guerras, pesar e alegria;
     é vitória pousando suas asas
     sobre o verde de paz que nos guia.
     Assim foi que nos tempos escuros
     da conquista apoiada ao canhão, 
     nossos povos plantaram seu berço, 
     homens livres, na planta do chão.
          Estribilho: 
          Amazonas, de bravos que doam,
          sem orgulho nem falsa nobreza,
          dos que sonham, teu canto de lenda,
          aos que lutam, mais vida e riqueza.
          Hoje o tempo se faz claridade,
          só triunfa a esperança que luta,
          não há mais o mistério e das matas
          um rumor de alvorada se escuta.
          A palavra em ação se transforma
          e a bandeira que nasce do povo
          liberdade há de ter no seu pano,
          os grilhões destruindo de  novo.
                Estribilho:
                Amazonas, de bravos que doam,
                sem orgulho nem falsa nobreza,
                aos que sonham, teu canto de lenda,
                aos que lutam, mais vida e riqueza.
                Tão radioso amanhece o futuro
                nestes rios de pranto selvagem,
                que os tambores da glória despertam
                do clarão uma eterna paisagem.
                Mas viver é destino dos fortes,
                 nos ensina, lutando, a floresta, 
                 pela vida que vibra em seus ramos,
                 pelas aves, suas cores, sua festa.
                      Estribilho:
                      Amazonas, de bravos que doam,
                      sem orgulho nem falsa nobreza,
                      aos que sonham, teu canto de lenda,
                      aos que lutam, mais vida e riqueza.
 
     Quando da notícia da morte do poeta, a ex-presidente da AAL Bosa Brito lamentou o ocorrido assim: “Sentimos muito, ele era uma pessoa muito competente e querida. É mais um intelectual respeitado que se  foi, era um excelente ´poeta. A sociedade amazonense e brasileira perde um grande poeta” (2).
     Assim, senhores leitores, o tema ora exposto aqui, tem duas finalidades básicas: 1ª) Informar (e formar), principalmente aos mais jovens sobre a grande importância cultural, intelectual, social, histórica, etc, dos mestres Santoro e Tufic, não somente pela criação do Hino, mas sobretudo, pelo conjunto da obra que deles herdamos; 2ª) Cobrar, todos nós juntos, de: administradores e administrados, colégios e colegiados, docentes e discentes, etc, da sociedade em geral, seja no contexto histórico, cívico ou patriótico, mais aprendizado, mais execução do Hino Amazonense.
Fontes
2. Morre Jorge Tufic, autor do Hino do AM, Diário do Amazonas, 15.02.2018, p. 18
3. Em Tempo entrevista Jorge Tufic, Amazonas em Tempo, 25.04.2009.
4. Petta, Nicolina Luiza de. História, 1º ano do ensino médio, Moderna, 2005.


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