Manaus: o Encontro das Águas

Acabamos de receber um lote de CDs que será inserido no acervo do Facetas. Entre eles estão discos de cantores locais como Abílio Farias, Nicolas Jr, Márcia Siqueira, etc, e regionais como Nilson Chaves, Fafá de Belém, Sérgio Souto, entre outros. Estávamos à procura desse material há muito tempo.

Por exemplo, o CD “Divina Comédia Cabocla 2”(1), de autoria do cantor e compositor paraense, radicado em Manaus, Nicolas Jr, é excelente. O disco contém 20 músicas. entre elas os poemas Encontro das Águas e Abraço Vindo de Nova Iorque, recitados pelo notável escritor e jornalista Joaquim Marinho; e as crônicas A Província se Defende Como Pode e O Dia dos Mortos, interpretadas pelo grande poeta e jornalista Aldísio Filgueiras, em participação especialíssima. O encarte traz ainda, um porreta e sem migué, Glossário feito por Yone, com “tradução” de termos linguísticos regionais citados nas músicas.

Foto extraída http;//suaveolens.blogspot.com/2013

Sobre esse lançamento, em 2009 (texto atualizado em janeiro de 2002), Evandro Brandão Barbosa (www.administradores.com.br), diz: “Nicolas Jr, Joaquim Marinho e Aldísio Filgueiras dão um show de inteligência, interpretação, cultura e amazoneidade nas músicas, letras, poemas e crônicas gravadas (…). Sem rebuscamentos, os artistas mostram a riqueza da cultura cabocla e escancaram a contemporaneidade, relembrando que “a província se defende como pode, e quando não pode se defender, tira o chapéu e se desmunheca e desmunheca e desmunheca e se sacode; sempre fomos assim”. Uma viagem cultural mundanizada e mundializante, sem comedimentos; política, economia, sociedade, tecnologia, entretenimento e novas ideias reúnem-se divinamente e questionam: como vamos nos atar se a Zona Franca acabar?”

Barbosa continua; “O Divina… encanta pela indução ao pensar crítico, que não se limita ao momento atual de trânsito caótico na capital, muito menos ao alvoroço das expectativas da Copa de 2014, temática que não faz parte da obra; o CD de músicas, entre os poemas apresentados por Joaquim e as crônicas de Aldísio, desnuda a realidade cabocla, entrelaçada de humanidades pensadas e vividas de formas mundializadas ontem e hoje”.

O Encontro das Águas, não é apenas um elemento da geografia do porto fluvial de Manaus (AM), ou seja, “um fenômeno que acontece na confluência entre os rio Negro, de água preta, e o rio Solimões, de água branca (em decorrência da diferença entre a temperatura e a densidade das águas e, ainda, à velocidade de suas correntezas)” (2), mas, também, um dos mais belos pontos turísticos da Amazônia Brasileira.

Tem mais: esse lugar mágico é ponto de encontros para a produção de curta metragem, de documentários, de reportagens; visitação de brasileiros e estrangeiros, de fotos (digitais e convencionais) e, principalmente, de inspiração para poetas, escritores, cantores, etc. Um desses inspirados foi o poeta cearense José Quintino da Cunha (1875-1943), nome artístico Quintino Cunha, o qual adotou Manaus como sendo a sua terra natal, é autor de “Encontro das Águas”, um dos mais belos poemas de todos já criados sobre esse lugar. No CD (que não traz seus versos escrito), não há como o ouvinte não se emocionar com a declamação do saudoso Joaquim Marinho. A seguir, a íntegra do poema em pauta:

“Vê bem, Maria aqui se cruzam: este/É o rio Negro, aquele é o Solimões./Vê bem como este contra aquele investe,/como as saudades com as recordações. // Vê como se separam duas águas,/Que se querem reunir, mas visualmente;/É um coração que quer reunir as mágoas/De um passado, às venturas de um presente. // É um simulacro só, que as águas donas/D’esta região não seguem o curso adverso,/Todas convergem para o Amazonas,/O real rei dos rios do Universo; // Para o velho Amazona, Soberano/Que, no solo brasílio, tem o Paço;/Para o Amazonas, que nasceu humano,/Porque afinal é filho de um abraço! // Olha esta água, que é negra como tinta./Posta nas mãos, é alva que faz gosto;/ Dá por visto o nanquim com que se pinta,/Nos olhos, a paisagem de um desgosto. // Aquela outra parece amarelaça,,/muito, no entanto é também limpa, engana:/É direito a virtude quando passa/Pela flexível porta da choupana. // Que profundeza extraordinária, imensa,/Que profundeza, mais que desconforme!/Este navio é uma estrela, suspensa/Neste céu d’agua, brutalmente enorme. // Se estes dois rios fôssemos, Maria,/Todas as vezes que nos encontramos,/Que Amazonas de amor não sairia/De mim, de ti, de nós que nos amamos!…” (3).

lindo, lindo, lindo demais! Certa vez a imortal Lygia Fagundes Telles, escreveu “As águas procuram o seu caminho”. No magistral poema acima, não é diferente: “Todas convergem para o Amazonas” (o maior rio do mundo), que “afinal é filho de um abraço”, e vão desaguar no Atlântico. Para tanto, são águas que passam “pela flexível porta da choupana”, onde o ribeirinho, “neste céu d’agua brutalmente enorme”, vê tudo de pertinho. Até rema, numa pequena canoa sobre as manchas d’água douradas pelo brilho do sol nascente, principalmente. “Este navio é uma estrela, suspensa”. “Que Amazonas de amor não sairia/ De mim, de ti, de nós que nos amamos!…” Amamos a vida, amamos viver e admirar o encontro das águas negra e branca que pairam sobre o horizonte dos nos olhos, em Manaus. Venha você, para cá, também. Principalmente você que vive e preserva a Natureza.

Notinha útil – Amanhã, quase 160 milhões de brasileiros estarão aptos para votar nesse segundo turno das eleições de 2022. Façamos valer a liberdade, a cidadania, a harmonia, a paz. Vamos lá exercer essa soberania universal pelo voto!

Por Angeline, Francisco e Winnie.

Fontes: 1.CD “Divina Comédia Cabocla 2”, de Nicolas Jr.: Manaus, – Novodisc, 2009; 2. Amazonas Educativo, 1ª ed. – Manuas Formato 2 Editora, 2020; e 3. http://www.pensador.com

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