O nosso poema-canção deste mês é Alucinação, faixa-título do segundo LP de Belchior (1946-2017), lançado em 1976, um dos mais importantes trabalhos de sua carreira. Só para se ter uma ideia, seis das 12 músicas nele contidas foram muito divulgas nas rádios e, até hoje, quase 50 anos depois, são ouvidas: Apenas Um Rapaz Latino Americano, Velha Roupa Colorida, Como Nossos Pais, A Palo Seco, Fotografia 3 X 4, além de Alucinação, é claro. Toda a produção artística desse cantor e compositor, era devidamente pesquisada, planejada. O genial cearense lia muito, estudava muito: Filosofia, Literatura, História, etc. Isso consta na sua biografia. Seus intérpretes e parceiros musicais também confirmam o quanto ele metódico, perfeccionista. Outros clássicos de sua discografia, são: Medo de Avião, Paralelas, Divina Comédia Humana, entre outras.

Alucinação, por exemplo, “reflete a visão de uma pessoa vindo de fora, que observa a rotina caótica de uma capital como São Paulo (isso na década de 1970), onde Belchior escreve a canção: pessoas marginalizadas, solidão, violência, tráfego, a efervescência da juventude” (1). Esse observação deixava o visitante “fora de si”; “sem ambiente”; era de alucinar… “Presente no álbum de mesmo nome, a canção traz o célebre verso: “Amar e mudar as coisas me interessa mais” (1).
A seguir, a íntegra desse magnífico poema-cação: “Eu não estou interessado em nenhuma teoria/Em nenhuma fantasia, nem no algo mais/Nem em tinta pro meu rosto, ou oba-oba, ou melodia/Para acompanhar bocejos, sonhos matinais // Eu não estou interessado em nenhuma teoria/Nem nessas coisas do oriente, romances astrais/A minha alucinação é suportar o dia a dia/E meu delírio é a experiência com coisas reais // Um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha/blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais/Garotas dentro da noite, revólver, cheira cachorro/Os humilhados do parque com os seus jornais/Carneiros, mesa, trabalho, meu corpo que cai do oitavo andar // E a solidão das pessoas dessas capitais/A violência da noite, o movimento do tráfego // Um rapaz delicado e alegre que canta e requebra, é demais!/Cravos, espinhas no rosto, rock, hot dog, “play it cool, baby” // Doze jovens coloridos, dois policiais/Cumprindo o seu duro dever e defendendo o seu amor e nossa vida/ Cumprindo o seu duro dever e defendendo o seu amor e nossa vida/Mas eu não estou interessado em nenhuma teoria/Em nenhuma fantasia, nem no algo mais/Longe, o profeta do terror que a laranja mecânica anuncia/Amar e mudar as coisas, me interessa mais/Amar e mudar as coisas/Amar e mudar as coisas me interessa mais/Um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha/blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais/Garotas dentro da noite, revólver, cheira cachorro/Os humilhados do parque com os seus jornais/Carneiros, mesa, trabalho, meu corpo que cai do oitavo andar // E a solidão das pessoas dessas capitais/A violência da noite, o movimento do tráfego/Um rapaz delicado e alegre que canta e requebra, é demais!/Cravos, espinhas no rosto, rock, hot dog, “play it cool, baby”/Doze jovens coloridos, dois policiais // Cumprindo o seu duro dever e defendendo o seu amor e nossa vida/Cumprindo o seu duro dever e defendendo o seu amor e nossa vida // Mas eu não estou interessado em nenhuma teoria/Em nenhuma fantasia, nem no algo mais/Longe, o profeta do terror que o laranja mecânica anuncia/Amar e mudar as coisas me interessa mais/Amar e mudar as coisas,/Amar e mudar as coisas me interessa mais” (2).
A sensação que se tem é a de que esta canção acabou de ser lançada, dado o seu grau de atualidade. esperamos que gostem da nossa iniciativa, ou seja, do Facetas ter revivido esta canção, ou seja, trazido à nossa memória.
Duas notinhas de pesar – . Esta letra nos diz tudo sobre a estrela Gal Gosta. Do LP “Fantasia”, de 1981, Estrela, Estrela, de Vitor Ramil. Leia a íntegra da composição.

“Estrela, estrela/Como ser assim/Tão só, tão só/ E nunca sofrer/Brilhar, brilhar/Quase sem querer/Deixar, deixar/ Ser o que se é/É bom saber/Que és parte de mim/Assim como és/Parte das manhãs/Eu canto, eu canto/Por poder te ver/No céu, no céu como um balão/Eu canto e sei/Que também me vês/Aqui, aqui como essa canção”.
Foto do encarte do LP acima citado.

Quanto a você Boldrin, a memória da tua alegria há se perpetuar entre nós, assim como as tuas canções, os teus causos, as tuas tantas estórias, as tuas modas, como estes versos do “Disco da Moda”, da canção “A Moda do Fim do Mundo”:
“Você fique de oreia no rádio
Você fique de oio no jorná
Porque, vou te contar,
No dia que o mundo se acabá…”
Nós, os teus fãs, vamos pegar a viola e cantar:
“Boldrin, você será para sempre eterno, nos nossos corações”.
Notinha útil – Os parabéns do Facetas vão para as acadêmicas Aline da Silva Pereira, Victorya Drumond e Daiane Gonçalves de Ávila, do terceiro período de Arquitetura e Urbanismo do IFRO – Campus de Vilhena (RO), as quais conceberam e montaram “uma maquete de jardim inspirado no (fantástico) trabalho do (arquiteto) Burle Marx. Por sinal, esse notável paisagista já foi tema de artigo deste blog. Logo lá em Vilhena, cuja cidade tem uma beleza arquitetônica inconfundível. Será sempre, um ótimo lugar para ser admirado e se morar bem!
Por Angel, Francisco e Winnie.
Fontes: 1. www. m.letras.mus.; 2. LP “Alucinação” de Belchior, SP: PolyGram/Philips, 1976.