25º Tour Cultura do Facetas – Erasmo e Pablo: “Mulher”; “Yolanda”, “Iolanda”

Olá leitores! o nosso tour de hoje é in memoriam aos cantores e compositores, o brasileiro Erasmo Carlos (1941-2022) e o cubano Pablo Milanês (1943-2022), que faleceram no último dia 22, aos 81 e 79 anos de idade, no Rio de Janeiro e Madri, respectivamente. Considerados dois do maiores artistas da música latino-americana de todos os tempos, os quais nos deixaram um valioso legado da arte à que se propuseram produzir. Por exemplo, sobre Erasmo escolhemos para comentar a canção Mulher; sobre Pablo, Yolanda, e a versão dela por Chico Buarque, Iolanda.

1 Erasmo EstevesMULHER. Segundo o critico musical José Emílio Rondeau (66 anos), o jovem era “de família humilde, trabalhou desde cedo – como office-boy, vendedor de lingerie, porteiro, recepcionista – mas não se fixou nos empregos” (1). Cursou apenas até o primeiro técnico de contabilidade. Seu gosto pela música era evidente. Em 1958 conheceu Roberto Carlos e juntos se tornaram “amigos de todas as horas”, cuja parceria já durava mais de seis décadas e produziram mais de 500 composições, algumas verdadeiros clássicos do cancioneiro brasileiro. Mas, nem sempre foi só glória. passaram por altos e baixos até chegarem aos estúdios das gravadoras. Depois às rádios, à TV e ao sucesso nacional.

Erasmo viveu intensamente a música. Lançou quase 40 discos. “Começou com a versão de Splish, Splash (1959). Mas a sua ascensão foi mesmo com Sentado à Beira do Caminho (1969), Coqueiro Verde (1970) e Cachaça Mecânica ( 1972)” (1). E assim, continuou produzindo música nas décadas seguintes, como os três discos que selecionamos: 1. “Erasmo Convida…” (1980), uma antologia de composições suas, em dueto com nomes como Rita Lee, Nara Leão, Tim Maia, Gal Gosta, Maria Bethânia, Wanderléa, Roberto Carlos, entre outros; 2. “Mulher” (1981), “Um LP contendo músicas, como a faixa-título (em parceria com Narinha) e Minha Super-Star, reveladora de um Erasmo surpreendentemente feminista; canções de cunho ecológico; e rock bem a seu estilo, como Pega na Mentira. Em 23 de agosto de 1982, ele recebia seu primeiro disco de platina exatamente pela excepcional vendagem desse disco” (1); e 3. “Amar Pra Viver ou Morrer de Amor” (1982). Mesmo Que Seja Eu, tornou-se hits nacional. Até hoje, essa música toca nas rádios/internet. Ou então, ouvimos as pessoas cantarolando: “Filosofia e poesia/É o que dizia minha vó/Antes mal acompanhada do que só…”. Em 1984, a cantora Marina (Lima), lançou essa canção no seu LP “Fullgás”, e o sucesso se repetiu como antes.

Chargista Myrria – Acrítica, 23.11.2022

“De lá para cá – completa Rondeau -, é raro a semana em que não se vê Erasmo na TV ou nos jornais, cada vez mais seguro de si, com um repertório consistente e uma presença de palco muito tranquilo” (1). Verdade. Até os seus últimos dias de vida o carioca esteve envolvido com a sua arte. Por exemplo, cinco dias antes de sua partida perpétua, foi premiado com o Grammy latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa: “O Futuro Pertence À… jovem Guarda” (2022).

Quem conviveu com Erasmo conta que o coração do “Tremendão” era de gigante bom. Pessoa muito original, sem jamais ter “perdido a ternura”; era família e sempre estava antenado aos fatos sociais. O Facetas pesquisou e encontrou essas duas dedicatórias que demonstram esse seu lado humano, não vivido apenas pela arte musical, mas pela vida, como um todo: “Mãe, gostaria de partilhar minha festa com você. Este disco é seu”. (LP “Erasmo Convida”/1980) e “Ofereço este disco à família Cousteau que dedica sua vida a todas as espécies animais, racionais ou não”. (LP “Abra Seus Olhos”/1986). Uma referência ao pesquisador francês Jacques Cousteau que esteve no Brasil em junho de 1982, quando da Expedição Amazônia.

A seguir, versos inesquecíveis de Mulher : “Mulher, mulher/Do barro que você foi gerada/Me veio inspiração/Pra decantar você nessa canção”. Até hoje, 40 anos depois, essa música é muito executada, principalmente no Dia Internacional da Mulher. Viva!.

2 – Pablo Milanês – YOLANDA, IOLANDA. Vamos primeiro falar do magistral Álbum Duplo “Querido Pablo“, no qual o cubano faz dueto com artistas de diferentes nacionalidades como Joan Manuel Serrat, Ana Belen, Chico Buarque, Mercedes Sosa, entre outros. Trata-se de dois discos considerados obra-prima do cancioneiro latino-americano. São 20 canções inesquecíveis. Dezoito delas são de autoria de Pablo. Uma, dele em parceria e a outra, de Nicolás Guillén. As interpretações são primorosas. Cita-se: El Tiempo, Implacable, El Que Paso, que canta com Eduardo Eute, estes versos: “Y la vida paso sin darnos cuenta/Cada paso anterior deja una huella”, ou ainda em Años com Mercedes Sosa, assim: “En cada conversacion,/Cada beso, cada abrazo/Se impone siempre um pedazo de razon” (2).

Porém, o ponto máximo da poesia cantada de Pablo, está em cada palavra, em cada verso de Yolanda. Aliás, não é apenas “uma declaração de amor”, é uma história de vidas, do autor e de sua amada Yolanda, como nos conta a história do casal, o jornalista Robson Leite, publicada em seu blog “História pelos Cantos”, publicada em setembro de 2021: “Produtora de cinema e TV em Cuba, Yolanda Benet era a esposa de Pablo em 1970. Ela acaba de dar à luz Lynn, a primeira filha do casal. Mas o cantor e compositor não pode estar presente ao parto por causa do trabalho. Milanês tinha apresentações agendadas longe de Havana”.

Foram apenas alguns dias longe da família. Mas a saudade da esposa e a vontade de estar ao lado dela naquele momento tão especial, inspiraram o poeta. E, finalmente quando retornou, tinha escrito uma das canções mais lindas e românticas do mundo. Apesar desse feito, o casamento durou pouco (1969-1973). No entanto, a música continua propagando o amor em infinitos corações, como a verdadeira Yolanda revela: “Conheci Pablo na casa de um amigo comum, em Havana. Eu tinha 23 anos – hoje 75/76 – e era continuísta de cinema. Casualmente, três dias depois começamos a trabalhar juntos em um filme e nos apaixonamos. Pablo compôs Yolanda quando nossa primeira filha tinha dez dias. Ficou chateado por ter de viajar” (3).

Quando ele regresso, disse-lhe ter feito a música para ela, e ao violão cantou: “Esto no puede ser no mas que uma canción/Quisiera fuera uma declaración de amor/Romantica sin reparar en formas tales/Que ponga freno a lo que siento a hora a raudales // Te amo/Te amo/Eternamente te amo…” A musa completa: “Pensei que aquela canção era algo íntimo, que só eu poderia compreender o que Pablo estava dizendo. Mas parece que ele fez com tanto amor que todos são capazes de entender” (3).

Foto de Alejandro Cabrera

Diz o citado jornalista que em 1984, surgiu no Brasil uma versão em português para “Yolanda”, de Chico Buarque, cuja letra “é bem fiel à proposta original de Pablo Milanês em fazer uma declaração de amor à então esposa. Para facilitar, por aqui ficou “Iolanda”, com “I” mesmo” (3). Naquele mesmo ano Simone lança Iolanda no disco “Desejos” “que ela e Chico gravaram um dueto memorável e apresentaram ao público toda beleza da poética de Pablo, com uma tradução quase fiel e com a sensibilidade costumeira (do brasileiro)”. O sucesso foi imediato e segue no repertório da cantora, a qual considera essa versão mais bonita que a letra original.

Iolanda cativou o nosso público. Essa aceitação motivou a vinda do artista cubano várias vezes ao Brasil. Outras gravações foram feitas por cantores como Ney Matogrosso, Christian e Ralf entre outros. Como também, Yolanda fez muito sucesso em outros países como México, Colômbia, Espanha, etc. Por essas e outras razões, é que tanto a Yolanda cubana como a Iolanda brasileira não saem da nossa cabeça, como estes fantásticos versos: “Quando te vi, eu bem que estava certo/De que me sentiria descoberto/A minha pele vais despindo aos poucos/Me abre o peito quando me acumulas // De amores, de amores/Eternamente de amores… // Se alguma vez me sinto derrotado/Eu abro mão do sol de cada dia/rezando o credo que tu me ensinaste/Olho teu rosto e digo à ventania/Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda” (3).

Ufa! Esperamos ter acertado na temática para prestigiar aos nossos leitores com um pouquinho da vida e da arte desses dois grandes nomes da música universal, haja vista que as artes não têm fronteiras.

Por Angeline, Francisco e Winnie.

Fontes; 1. LP “Roberto e Erasmo Carlos”, coleção História da MPB – Grandes compositores. – SP: Abril Cultural, 1982; 2. LP Duplo “Querido Pablo” – duetos. – SP: Gravadora Ariola, 1985, e 3. http://www.diariodocentrodomundo.com.br

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