Jonas da Silva: “Um simbolista no Amazonas”

Capa de Álvaro Marques

Chegou a vez do nosso poema desse mês: Bertholetia excelsa, do poeta Jonas da Silva. Mas, antes, vamos às considerações biográficas/bibliográficas do autor. Até porque a edição pesquisada pelo nosso blog, da Coleção Resgate, sob coordenação do notável escritor amazonense Tenório Telles, traz duas apresentações históricas no contexto literário. Uma do professor estadual de língua portuguesa e literatura brasileira, J. Almerindo da Rosa. A outra do Doutor em Teoria da Literatura e professor da UA (hoje UFAM), autor de vários livros, Antônio Paulo Graça.

Jonas Fontenelle da Silva, nasceu na cidade de Parnaíba (PI), em 17 de dezembro de 1880, e faleceu em Manaus (AM), em 05 de junho de 1947, aos 66 anos. Veio para o Amazonas ainda criança. Depois se formou em Odontologia no Rio de Janeiro. Lá, também, publicou dois livros: Ânforas e Ulanos, aos 20 e 22 anos de idade, respectivamente. “Ele voltou a Manaus, casou, teve filhos e, então, se fez um silêncio de mais de duas décadas. Somente aos 43 anos, após a morte da esposa, lançou Czardas, sua terceira e última obra.

“Ao lado de Maranhão Sobrinho, Jonas da Silva talvez tenha sido o poeta de Manaus que produziu maior repercussão nas letras nacionais. Seus poemas se encontram tanto no clássico Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, de Andrade Muricy, quanto na Apresentação da Poesia Brasileira (antologia) de Manuel Bandeira. Aliás, o nascimento do simbolismo, no Amazonas, pode ser atribuído a Thaumaturgo Vaz e ao próprio Jonas, no raiar do século XX, ou seja, em 1900 e anos seguintes.

Sobre o nosso poeta em foco, mestre Muricy, assegura: “poeta de estro abundante, só no seu volume “Czardas” inclui matéria de dois ou três livros normais de poesia (contém quase 200 poemas). Membro da Academia Amazonense de Letras. Sua produção é brilhante, e de recursos variados, de cor e de timbre” (1). Razão pela qual continua em evidência 100 anos depois de sua origem.

Por sua vez, o professor Almerindo garante: “como simbolista, Jonas é um poeta angustiado e mergulhado no seu eu e isto pode ser comprovado em vários de seus poemas, nos quais o leitor poderá encontrar a poesia: “Revelação”, “Vida Feliz”, “Minha Alma”, etc. “Pescadores”, é outro belo soneto de Czardas que nos chama a atenção pela busca do estilo, da palavra que não traduz a ideia” (1). Assim conclui o próprio poeta Jonas quando faz comparação entre o pescador e o poeta, em sua paciente luta ante o peixe e as ideias: “uns pescam camarões, outros simples sardinhas”. Fascinante!

A palavra Czarda significa “dança húngura, com introdução de aspecto patético e melancólico, à qual se segue a parte principal, de caráter selvagem em compasso de 2/4 ou 4/4 (…) mas há também, em Czardas (“xarda”, forma recomendada por Aurélio, embora reconheça que o uso elegeu o vocabulário foneticamente estranho aos costumes vernaculares), uma curiosa nota, digamos assim, pré-modernista. É quando o poeta investe no mundo da belle époque. Sua poesia ganha em ironia e produz certo descompasso entre uma sensibilidade arcaica e o vocabulário moderno”, leciona o doutor Paulo Graça, por ou lado.

Por outro, o mesmo mestre diz: “no caso de nosso poeta, as cicatrizes da velha escola (simbolismo) ainda são maiores, pois seu contato com a nova poética se deu através de B. Lopes, escritor mais decadente que simbolista”. No entanto, o professor vê que Jonas da Silva se sobrepõe às escolas literárias que o “prendiam”, por esse prisma: “possuía inegável talento pra retomar temas e motivos já trabalhados e talvez desconfiasse de que, na província, alguma concessão ao gosto pouco desenvolvido fosse necessário”.

“O poeta ainda escreveu um soneto “amazônico”, tentação a que ninguém da época escapou. Também nele, a habilidade de com o alexandrino e a raridade de uma rima esquisita (látex/arráteis, em que a primeira palavra deve ser lida como Láteis) denunciam o gosto de exibir-se, mas também atestam a excelência do poeta. Ao fim, leve denúncia ao comércio se insinua num emaranhado sintético não de todo destituído de beleza”:

Bertholetia excelsa

Se há uma árvore feliz, decerto é a castanheira/No bosque ela resplende alta e dominadora./A árvore da balata, essa é tão sofredora,/Inspira a compaixão a hevea – a seringueira! // Ela sozinha é um bosque e enche toda a clareira…/No ouriço a natureza o seu fruto entesoura/E a colheita presente e a colheita vindoura/Ei-las todas na fronde augusta e sobranceira. // Na casca não se vê sinal de cicatrizes,/De feridas cruéis por onde escorre o látex (láteis)…/No seu orgulho é assim como as imperatrizes! // Se a posse é disputada entre explosões de nitro,/Na luta em que se queima a pólvora aos arratéis/ – O fruto é quase sangue: é negociado a litro!

Aqui, mais um excelente assunto da nossa literatura, para os nossos leitores. Um pouco da poesia de Jonas da Silva, assim como trechos dos comentários dos mestres Almerindo da Rosa e Paulo Graça. Esperamos contar com a aprovação deste artigo pelos nossos seguidores, cuja pauta versa sobre o belo poema acima.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte: 1. Silva, Jonas da. Czardas. 2ªed. rev. – Manaus: editora Valer, 1998.

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