29º Tour Cultural: Vozes da Amazônia

Olá, leitores! Neste mês, o Facetas fez um tour em algumas lojas do ramo de música onde adquiriu substancial número de CDs, DVDs e vinis de artistas nacionais e regionais. Entre os locais estão: Chico da Silva, Lucinha Cabral, Célia Moreno, Abílio Farias, Raízes Caboclas, Lívia Mendes, Zezinho Côrrea, Zeca Torres, Márcia Siqueira, Candinho e Inês, entre outros. Dos citados, três formam o nosso comentário de hoje. A seguir:

1 – Márcia Siqueira (marciasik@gmail.com). Ela nasceu há 40 anos em Itacoatiara (AM), onde começou a carreira musical ainda criança, após vencer um concurso de jovens talentos na igreja onde sua mãe frequentava. Aos 14 anos já era cantora da noite em Manaus. Deste então, segue ativa e brilhantemente a carreira artística como cantora e encantando a todos que a ouvem.

Por quase 10 anos (de 88/97) Ela morou em vários Estados do Norte e do Nordeste. No Piauí, por exemplo, “chegou a ter certo sucesso sob o pseudônimo de Edna Lago. De volta, ao Amazonas, em 1998 foi convidada pelo compositor Sidney Rezende para gravar a música Amor Proibido e, em 2002, lançou seu primeiro disco solo, “Canto de Caminho”, contendo nove músicas”.

“Com quatro álbuns solo no currículo (três já estão no nosso acervo), participação em disco de Maria Bethânia e shows da Amelinha, Márcia Siqueira teve a vida e a carreira retratadas no livro A Voz da Floresta, lançado em 2020. Nesse mesmo ano, a cantora se tornou a primeira mulher levantadora de toadas do Boi Bumbá Garantido, dentro da Festa de Parintins “(www12.senado.leg.br – poa Carlos Andrade, 22.11.22).

Dos três CDs dessa talentosa cantora, por nós adquiridos: “Canto de Caminho”, “Encontrar Você” e “Nada a Declarar”, selecionamos o terceiro para o nosso comentário. O CD é lindo. São 9 músicas, tais como: Apague a Luz (Rui Machado e Rainier de Carvalho), Conflito (Rui Machado e Lucinha Cabral), Nada a Declarar (Rui Machado e Sidney Rezende), etc.

Esse disco traz um encarte com produção de qualidade, contendo as composições e seis fotos do fotógrafo Ricardo Lins e um agradecimento emocionante de Márcia. Aliás, os outros dois discos também trazem seus agradecimentos pela sua nobre carreira artística – primeiramente a Deus, é óbvio. Esse é um gesto repetido por poucos artistas. É coisa de gente grande.

Rui, que além de poeta-compositor é um grande artista plástico, faz este depoimento: “Márcia, dispensa qualquer comentário a respeito de seu canto, a relação existente entre corpo e espírito é muito forte, a voz produzida pela matéria, é música da melhor qualidade, feita de sons e emoção, que alimenta a alma e nos conduz de alguma forma ao êxtase e ao prazer, fazendo nos sentir como se estivéssemos no paraíso, ou ouvindo um Uirapuru (pássara amazônico de canto envolvente e mágico), no meio da floresta. Márcia, é isto e muito mais, sendo impossível descrever o seu talento com palavras, por isso não tenho mais NADA A DECLARAR. // Vamos ouvir e viver Márcio Siqueira” (Manaus/Amazonas/Verão/2008).

É isso aí! E sem comparações. Mas, se Elis Regina media 1,48 metro de altura e foi chamada de “Pimentinha”, Márcia deve medir 1,45 metro, e devemos chamá-la de “Mormaço da Floresta” ( na poesia de Thiago de Mello).

2 – Zezinho Corrêa. José Maria Nunes Corrêa (www.cmm.am.gov.br), era amazonense do Município de Carauari, onde nasceu em 21 de maio de 1951, e faleceu em Manaus, em 6 de fevereiro de 2021, aos 69 nos, vítima da tenebrosa Covid-19. Estamos, portanto, sem ele há dois anos. Mas, a magia de seu canto, os agudos de sua voz e o balanço da sua dança estão (e estarão) conosco, sempre.

A Banda Carrapicho, da qual era vocalista, a partir dos anos 90, conquistou o Brasil e a Europa com seu “Tic Tic Tac”, de autoria do caboclo parintinense Braulino Lima. Um canto contagiante e de batida autenticamente amazônica. Zezinho se fazia presente também, além dos palcos para shows, nos teatros com apresentação de peças infanto-juvenis. Lembro-me bem, certa vez, que após uma peça no modesto teatro que funcionava dentro do Shopping Grande Circular, na Zona Leste de Manaus, ele, ao lado de Márcia Siqueira e outros atores, fez questão de abraçar cada criança. Inclusive a nossa pequena Angeline. Todas ficaram radiantes. Foi gratificante.

Não é porque, fisicamente a sua pessoa se foi, que estamos escrevendo postumamente estas palavras. Toda a nossa sociedade local sabia ( e sabe) da sua grandeza humana e de talento artístico. Por exemplo, o CD Acústico por ele gravado ao vivo no Teatro Amazonas, em 2002, é uma obra-prima. A produção musical de Carlos Bandeira é coisa de primeiro mundo. O repertório, impecável. São 14 clássicos, sejam nacionais ou regionais, como: Sentimental Demais (Jair Amorim e Evaldo Gouveia), Besa-me (Flávio Venturini e Murilo Antunes), Amazonas (Chico da Silva), Corsário (João Bosco e Aldir Blanc), Dono dos Teus Olhos (Humberto Teixeira), Andança (Edmundo Rosa Couto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós), entre outros.

À época do lançamento deste disco, era Secretário de Estado da Cultura Amazonense, Robério Braga, o qual escreveu: “As vozes da floresta vão ecoar no país sob os aplausos do povo baré (…). A primeira grande luz que vai ao palco do Teatro Amazonas lançar seu novo trabalho, é uma grande Estrela do Amazonas: Zezinho Corrêa” (2).

E o próprio Zezinho diz estes versos: “Minha voz é uma/ Flecha misteriosa,/ Forte e veloz,/ Atinge o coração/ Mais distante e/ Não mata./ Jorra um líquido/ Suave, doce/ Como se fosse/ O elixir mais/ Emocionante/ Da vida” (2).

A nossa vida segue e a memória desse grande ser, grande artista, também.

3- Candinho e Inês. (candinhoeines@ig.com.br) Há 40 anos, esse casal de cantores amazonenses nos encantam com suas composições, suas melodias, suas vozes. Os dois começaram as suas carreiras musicais participando de festivais universitários ou não. Hoje, são referências no meio artístico. Por exemplo, “Cadinho é um dos mais férteis compositores amazonenses, suas composições retratam a realidade do homem no contexto universal e regional, numa abordagem, ora voltada para a temática social ora, para suas paixões, conflitos e sonhos de liberdade trabalhados numa linguagem poética, carregada de lirismo” (3).

A dupla só passou a ter maior reconhecimento no cenário da música local, a partir de 1986, com lançamento do álbum duplo “Nossa Música”, de 20 artistas, com a canção Renovação, que é um primor de letra e melodia. A voz da cantora é gostosa demais de se ouvir. “Inês, traz no seu canto força e suavidade, elementos que se afinam e se harmonizam com o estilo das canções de Candinho (…), que segue uma linha eclética com influências de Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Taiguara. Inês como intérprete, possui traços fortes de Elis Regina, Diana Pequeno e Zizi Possi” (3- http://www.last.fm), isto é, bem ao autêntico estilo MPB.

“Faróis” é um CD apaixonante. O encarte, em 12 páginas e 15 fotos do casal, é graficamente perfeito. Além, é claro, das composições. São 13 músicas belíssimas, todas da autoria de Cadinho, como: Pérolas e Pétalas, Lavadeira, Quando A Alma Canta, Raízes e, principalmente, Renovação, cujo refrão é assim: “Canta, coração/ Por essa voz que canta em mim,/ E esse desejo sem medida e paciência,/ Quase já desesperado de esperar/ Todo esse tempo e esse grito/ Sufocado na garganta sem sair”. Tem ainda este memorável verso, da segunda estrofe: “Cantar de braços dados, levantar a mão”.

Não deixe, portanto, de ouvir “Faróis”, ele trará, com certeza, novos feixes de luzes para os faróis da tua vida. Das nossas vidas. Aliás, nós, do Facetas, com este artigo, atingimos a edição de número 400. Sem o incentivo dos nossos amigos leitores, não teríamos chegado tão longe nesses 7, 8 anos. A nossa gratidão é imensurável! Gracias, gracias, gracias.

Notinha útil – No último dia 21 deste mês foi comemorado o Dia Mundial da Poesia, segundo a UNESCO. Aqui, a nossa homenagem a todos os criadores e amantes da criação poética, com estes dois versos de Jura Secreta, da cantora e compositora carioca Sueli Costa, qua faleceu no Rio de Janeiro, no último dia 03 deste mês, aos 79 anos: “Só uma palavra me devora/ Aquela que meu coração não diz”. (www.facetasculturais.com.br).

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes: 1. CD “Nada a Declarar”, de Márcia Siqueira. Manaus: – Baruk Produções, 2008; 2. CD “Acustico”, de Zezinho Corrêa. Manaus: – Espelho da Lua Discos, 2002; e 3. CD “Faróis”, de Cadinho e Inês. Manaus: – Estúdio 301, 2006.

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