“Max Carphentier, A Selva, o Amor, Deus”

“Garimpando” aqui ou ali, seja num simples sebo ou numa livraria como a Saraiva, Leitura, etc, nós, do Facetas, vamos intensificando a nossa leitura e enriquecendo o nosso acervo. Foi assim, que adquirimos Tiara do Verde Amor, do poeta amazonense Max Carphentier (78 anos). Portanto, é sobre essa obra o nosso artigo de poesia deste mês.

A sua vasta biografia/bibliografia dispensa delongas. Porém, sabe-se que em breve ele estará completando meio século de carreira literária, da Amazônia. Por exemplo, seu primeiro livro de poesia, Quarta Esfera, foi lançado em 1975; em 1978, foi a vez de Vitrais da Busca (contos); em 1979, lança O Sermão da Selva (poesia); em 1998, foi publicado Tiara do Verde Amor, e assim sucessivamente.

O trabalho em questão, isto é, Tiara do Verde Amor (Tríplice Coroa de Sonetos), está, por assim dizer, dividida em: A Coroa de Anunciação, A Coroa Mitológica e A Coroa das Águas, totalizando 55 (indispensáveis) poemas. Traz também, valiosas considerações a respeito de conhecidos poetas como Paulo Rónai, Antônio Carlos Villaça e L. Ruas.

Segundo Rónai: “é acontecimento raro a gente cruzar com um poeta autêntico. Pois foi o que se deu comigo ao ler Tiara do Verde Amor, de Max Carphentier, inteiramente identificado como a natureza exuberante de sua província, que se faz porta-voz dos bichos, das plantas e das águas amazonenses interpretando suas queixas e seus receios numa coleção de poemas de inspiração profunda. Com paixão contida põe as formas consagradas do soneto ao serviço de uma mensagem moderna, um apelo ecológico de conteúdo concreto e intensa força lírica. Seu livro, repertório palpitante dos tesouros naturais ameaçados da Amazônia, merece leitura, meditação e divulgação em todo Brasil.

O também poeta e inesquecível L. Ruas é preciso, quando diz: “É necessário para salvarmos a Amazônia que a amemos profunda e sinceramente antes de pensarmos no que fazer com ela. O amor é capaz e só ele será capaz de nos indicar os verdadeiros caminhos para que saibamos usá-la o utilizá-la devidamente e respeitosamente, assim como os que se amam e sabem se usar sem se maltratar nem física nem espiritualmente. E nem se trata de um amor platônico, idealista, nefelibata ou romântico. Este amor deve estar presente e ser a chama que há de iluminar os caminhos de todos: cientistas, técnicos, agrônomos, agricultores, sociólogos políticos… Sem este verdadeiro amor – amor cósmico, telúrico, amor de água e verde, de índio e peixe, amor de caboclo e pássaro – não será possível impedir que a Amazônia seja violentada, estuprada ou destruída.

“Esta é a grande mensagem de “Tiara de Verde Amor” espalhadas pelas três partes do livro nas quais o poeta canta a floresta os mitos e a água, símbolo profundo do feminino com o qual o autor identifica a própria Amazônia. O poeta ama a Amazônia com o mesmo ardor e com o mesmo êxtase com que ama a mulher amada. (…) O que ele canta no soneto XII de A Coroa da Anunciação: “Eis o verde que eleva, o colo amado por onde a fé e o amor nos rios madrugam. Da selva então sabei primeiramente: pra defendê-la é necessário amá-la”‘(1).

Por fim, assegura/almeja L. Ruas: Tiara do Verde Amor é uma poesia que deve ser lida por todos os verdadeiros amazonidas e que deve estar presente (como reflexão e roteiro) nas estantes de todos os que desejam, de fato, salvar a Amazônia de hecatombe total, porque são cantos que brotam da alma de quem está radicalmente (no sentido vegetal de raiz) identificando com a realidade amazônica” (1). E esperançoso – haja vista que a esperança jamais morrerá -, parte para o plural, para o coletivo, assim: “esperamos que ainda haja quem escute o grito dos profetas ou o canto do poeta. Ou o apelo amoroso do poeta-profeta. Enquanto ainda há tempo e verde” (1).

A Apresentação de Carlos Villaça: “Max Carphentier, a Selva, o Amor, Deus” (que será utilizada para o título deste artigo), endossa, com ênfase, as palavras de Rónai e Ruas: “Tiara do Verde Amor – Tríplice Coroa de Sonetos – nos traz na sua plenitude (existencial e poética) o criador amazônico Maz Carphentier. Ei-lo tal como é, impregnado de amazonidade, humano, universal. Ele é tão simultaneamente da sua província, da sua religião, do seu rio, da sua gente e do seu mundo, vasto mundo (…). O poeta se deixa embeber de esperança. Há um rio de esperança dentro dele (…). O poeta quer transcender as limitações da dor e da morte, do espaço e do tempo, de tudo que é enfêmero, transitório, fugaz (…). Por quê? Porque o amor existe. ” O amor é do universo alma e raiz.” Vejam. Alma e raiz. Não só alma. Raiz também. Tudo em suma é amor. O poeta o sabe. O poeta sabe (…). O mundo só poderá ser salvo pelo amor. A beleza e o amor nos salvam de nós mesmos” (1).

Os poemas são tão belos e cheios de luz, e verde da esperança, que nos foi difícil escolher apenas este (XIX, A Coroa de Anunciação):

“Com os olhos do céu iluminou/ a mata esta manhã/ de cor de pupunha/ em que assistes e tens por testemunhas/ as dores que o teu passo sepultou. // Já reflorescem os troncos abatidos; noivam-se os rios com novas cachoeiras./ Ouvem-se as lendas como em tempos idos/ vinham o sonho na língua das fogueiras. // As caboclas que foram antigas Musas/ te reconhecem em teu poder que sara, pelo brilho do amor e da tiara, // do condão de sonetos que tu usas./ Pois vem por teu amor toda essa vida/ na selva e no meu peito repartido” (1).

Eis aqui, senhores leitores, a “poesia esplêndida” de Max para que todos os que nos seguem por este blog, possam conhecer a arte desse escritor tão brilhante.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros

Fonte: Carphentier, Max. Tiara do Verde Amor. Manaus: Imprensa Oficial, 1988.

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