“Para viver um grande amor”

O ano era 1983. Há exatos 40 anos, quando em todo o Brasil, as rádios passaram a executar um novo sucesso: Tanta Saudade (Djavan – Chico Buarque). Logo, o meu irmão Evans, pediu ao nosso saudoso pai que estava em Manaus, que adquirisse o LP de Djavan. Porém, o disco não estava disponível nas lojas de discos e fitas K7 (discolândias).

Como assim, perguntavam todos, se a canção era uma das mais conhecidas naquele momento? Enfim, o Sr. João Sabina descobriu que tratava-se da trilha sonora do filme de Miguel Faria Jr, “Para Viver um Grande Amor”, inspirado no musical “Pobre Manina Rica” de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, com composições de Tom Jobim, Chico Buarque Buarque e Djavan; e estrelado por Patrícia Pillar, Djavan, Glória Menezes, Paulo Goulart, Nelson Xavier, Zezé Motta, Luthero Luiz, Maria Alves, Eduardo Lago e Elba Ramalho.

Em Lábrea, com o disco no prato do aparelho de som 3 em 1 (funcionando em vinil + rádio AM/FM + fita K7) ouvíamos as 10 músicas repetidas vezes como se estivéssemos assistindo ao filme. Era um encantamento! Seus intérpretes? Um time de artistas de peso da nossa MPB como Djavan, Olívia Byington, Dori Caymmi, Elba Ramalho, Sérgio Ricardo e Zezé Motta. Tudo sob a direção musical de Antônio Carlos Jobim. E as músicas que compõem a trilha? Uma seleção impecável, como: Sabe Você? (Carlos Lyra-Vinicius de Moraes), Samba do Grande Amor (Chico Buarque), Desejo (Djavan), Tanta Saudade, já citada, entre outras. Os arranjos e regências são do maestro Eduardo Souto Neto.

O disco “Para Viver um Grande” foi lançado em capa dupla, cuja criação e ilustração são de Fernando Pimenta (capa – foto acima). Na parte interna constam todas as letras das 10 composições e ilustração da orla de Copacabana (RJ), sendo vista por alguém pelas venezianas de um apartamento local. É uma obra espetacular, seja artística, musical ou graficamente – sem dúvida.

Voltemos, portanto, ao conjunto das músicas, propriamente dito. Um pouquinho só. Em Sabe Você? O eu lírico do Poetinha questiona: “Você pode ser ladrão/Quanto quiser/Mas não rouba o coração/De uma mulher/Você não tem alegria/Nunca fez uma poesia/Ha, ha, você não rouba não/Ha ha você não rouba não/Sabe você que é o amor?”

Em Meninos, Eu Vi, Chico Buarque grafa: “Eu vi uma cidade enfeitiçada, e tive medo/Eu vi um coração/Molhando o meu país/Amei mais do que pude, eu fiquei cego de paixão/e acho que enfim eu vi o homem ser feliz // Juro que um dia eu vi o homem ser feliz”. E, numa correlação a esse “ser feliz”, a direção dessa obra fez estampar bem no centro da contracapa citação de 1913, do poeta russo Maiakóvski (1893-1930): “Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz”.

Tanta Saudade (violão e voz de Djavan e piano do saudoso João Donato), é tão linda, tão linda em letra, melodia e interpretação, que, apesar dos seus 40 anos desde o seu lançamento, ao ouvi-la a gente tem a sensação que a mesma fora lançada numa dessas plataformas digitais (novos formatos atuais mundiais), no mês passado e é tocada em todo o país. Por isso, inserimos aqui, a íntegra oficial dessa canção poema:

“Era tanta saudade/É, pra matar/Eu fiquei até doente/Eu fiquei até doente, menina // Se eu não mato a saudade,/É, deixa estar/A saudade mata a gente/A saudade mata a gente, menina // Quis saber o que é o desejo/De onde ele vem/Fui até o centro da Terra/E é mais além/Procurei uma saída/O amor não tem/Estava ficando louco/Louco, louco de querer bem // Quis chegar até o limite/De uma paixão/Baldear o oceano/ Com a minha mão/Encontrar o sal da vida/E a solidão/Esgotar o apetite/Todo o apetite do coração // Mas voltou a saudade/É, pra ficar/Aí, eu encarei de frente/Ai, eu encarei de frente, menina/Se eu ficar na saudade/É, deixa estar/A saudade engole a gente, menina // Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte, é monte atrás de monte, é monte, a fonte nunca mais que seca/Ai, saudade, ainda sou moço, aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro um mundo e dentro um mundo e dentro é o mundo que me leva…” (1).

É isso aí caro leitor, a saudade nos faz bem, sempre. Qual é o apetite do teu coração? Sai por aí, amando a vida, as pessoas, as plantas, os animais, tudo (e todos), enfim. Sustenta o teu desejo… De onde ele vem? Se necessário vai até o centro do teu interior, do teu eu. Se for preciso, vai além. Mas, procura uma saída. Deixa a solidão de lado e segue cercado de muito amor. Amor esse recheado por uma pitadinha do sal da vida, em forma saudade que aperta o peito da gente.

Esperamos que gostem de mais essa nossa publicação do Facetas, às vésperas de completar oito anos, com esse belo poema canção: Tanta Saudade.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte: 1. LP “Para Viver um Grande Amor”, trilha sonora do filme homônimo de Miguel Faria Jr, RJ/SP, gravadora CBS, 1983.

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