“O adeus do poeta” Drummond

“Quando nasci, um anjo torto/desses que vivem na sombra/disse: Vai, Carlos! ser guache na vida”. (POEMA DE SETE FACES, 1930).

Passados 121 anos do nascimento do menino Carlos (31.10.1902), em Itabira (MG); e de 36 anos do falecimento do poeta, cronista e contista Carlos Drummond de Andrade, no Rio de Janeiro (RJ), em 17 de agosto de 1987, ele continua sendo uma das figuras mais proeminentes da literatura brasileira do século XX. A sua arte continua vivíssima entre os seus fãs e admiradores. Sempre sendo um dos mais citados nos livros didáticos, nas escolas, nos vestibulares, etc.

Um dos artigos mais acessados do nosso blog – isso nos deixa muito orgulhosos -, é o conto “Assalto” desse autor, e por nós publicado há alguns anos. Depois, foi “O recalcitrante”, do mesmo cronista. Agora é a vez, também dele, “Verdade”, como o poema do mês. Poderia ser “Para Sempre”, “As Sem Razões do Amor”, “José”, ou “No meio do Caminho”. Porém, “Verdade” ilustra melhor a nossa índole de brasileiro que promete dizer “somente a verdade”, sempre.

O título acima não é nosso. O emprestamos da Veja. Ele foi estampado na capa da edição semanal da data da morte do poeta em agosto de 1987. Em 10 páginas, “E agora, poesia?, Mário Sérgio Conti, consegue, brilhantemente, sintetizar as 8,4 décadas de vida e de arte do mineiro, cujo início é este: “Em seu mais amargurado verso, Carlos Drummond de Andrade rima a perda da filha única com a desilusão pela vida e morre aos 84 anos” (1).

À época, o Brasil sentiu, com o poeta, um pouco de sua dor. Como se fosse um drama de cada um de nós. E Sérgio Conti confirma esse ocorrido assim: “Em apenas doze dias, o poeta esteve duas vezes no Cemitério São João Batista, em Botafogo (RJ). Na primeira, enterrou a pessoa que mais amava, a filha Maria Julieta, de 57, vítima de um câncer generalizado. Cabeça baixa, olhos secos e atônitos, Drummond segurou a mão do ex-chanceler Antônio Azeredo da Silva, um amigo de muitos anos, e disse: “mão tenho mais futuro, acabou tudo para mim”. O poeta não conseguiu percorrer a alameda até a sepultura da filha. Estava cansado. Doze dias depois, na tarde de terça-feira passada (dia 17), o poeta morto percorreu a alameda, conduzido no caixão pelos seus três netos e amigos. Silenciosas, 800 pessoas acompanharam o féretro e sepultaram Drummond da maneira que ele pediu – sem orações e discursos, na cripta 19.099, ao lado da de Maria Julieta” (1).

Mas, “a vida prossegue”, como consta um verso seu. Assim como hão de prosseguir atualizados as suas ideias transformadas em literatura, em poesia. Seja decantada, ouvida, lida, declamada ou contada de geração para geração. Abaixo, os belos versos de VERDADE:

“A porta da verdade estava aberta,/mas só deixa passar meia pessoa de cada vez. // Assim não era possível atingir toda a verdade,/porque a meia pessoa que entrava/só trazia o perfil de meia verdade./E sua segunda metade/voltava igualmente com meio perfil./E os meios perfis não coincidiam. // Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta./Chegaram ao lugar luminoso/onde a verdade esplendia seus fogos./Era dividida em metades/diferente uma da outra. // Chegou-se a discutir qual a metade mais bela./Nenhuma das duas era totalmente bela./E carecia optar. Cada um optou conforme/seu capricho, sua ilusão, sua miopia”.

Obs. O quadro acima foi feito pelo nosso pai F. Gomes, há 20 anos para homenagear o poeta.

Qual é, portanto, a nossa verdade? A verdade sentimental. A verdade político filosófica. A verdade do credo. A verdade dos fatos, entre outras. Outro brasileiro, o jurista baiano Rui Barbosa é o autor desta máxima, o qual comunga com as palavras de Drummond: “O princípio dos princípios é o respeito da consciência, o amor à verdade”. Assim sendo, fica a critério de cada de nós respeitar a sua consciência e apegar-se à sua verdade, “conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia”.

Notinha de felicitações – Nesta semana, entre os nossos familiares, tivemos aniversariantes: Padroína, Priscila e Evans. Aos mesmos, os parabéns da turma do Facetas. Parabenizamos também o belo Heitor que está passando uma temporada natalina em Camocim de São Félix (PE), junto aos avós Cida e Gidelson. A ele dedicamos os seguintes versos, do poeta brasileiro, Ricardo Silvestrin, contidos em “Quieto no meu Canto”: “(…) há dias adiando a alegria/aproveite antes que acabe/a emoção não é todo dia.”

por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte: 1. Revista VEJA, nº 990, Editora Abril, 26 de agosto de 1987, páginas 76/85.

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