“Nos vos pedimos com insistência: não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia, numa época em que o arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se desumaniza, não digam nunca: isso é natural! Para que nada passe a ser imutável”. Palavras certeiras do velho, mas sempre atual, o dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956).

O nosso último artigo de 2023 não poderia deixar de ser uma mensagem de esperança, fraternidade, prosperidade para a humanidade, em 2024. Para tal, vamos de Quintana, Gullar e Pessoa, cujos versos nos façam refletir sobre e possibilitar a PAZ. A paz entre os 8 bilhões de pessoas existentes na Terra.
Se somos racionais, então, por que (ainda) não fomos capazes de defenestrar as contendas, os conflitos entre os homens? Por que mentes belicosas isoladas insistem em se sobrepor às ações pacíficas mundo afora? Há quem diga que desde os primórdios, 5 bilhões de vidas já foram ceifadas pelas guerras! Tanto Euclides da Cunha (“Os Sertões”) quanto Yuval Noah Harari (“Sapiens”), fazem com veemência sombrias análises sobre as guerras. E dizem: Chega!
A poesia é capaz de nos mudar, para melhor. Por exemplo, o poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994), em Ano-Novo, deixou esta lição: “Agora nesta margem do Ano-Novo/Me sacudo todo como um cão molhado./No meio do parque há uma letreiro: ANO-BOM.O povo acredita,/O povo tem um sorriso que vai de orelha a orelha:/Meu Deus, até parece degolado!/Toda a rosa-dos-ventos se desfolha/E o ar está cheio de nomes amados/- uns tristes de tão longe…/porém o rastro que eles deixam é sempre azul./Estou só, ó Vida,/Só e livre./Das palmas das minhas mãos brota o voo de um pássaro!/Enquanto/ – lá do fundo da infância que eu não tive -/ Um menino apresta o arco…” (1).
Sobre o mesmo tema, o poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-2016), nos ensina em Ano-Novo, estes versos maravilhosos: “Meia-noite. Fim/de um ano, início/ de outro. Olha o céu:/nenhum indício. // Olha o céu: o abismo vence o/olhar. O mesmo/espantoso silêncio/da Via-Láctea feito/um ectoplasma/sobre a minha cabeça:/nada ali indica/ que um ano novo começa. // E não começa/nem no céu nem no chão/do planeta:/começa no coração. // Começa com a esperança/de vida melhor/que entre os astros/não se escuta/nem se vê/nem pode haver:/que isso é coisa de homem/esse bicho/estelar que sonha (e luta)” (2).
Por sua vez, o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), também versou em Ano-Novo, assim: “Ficção de que começa alguma coisa!/Nada começa: tudo continua./Na fluida e incerta essência misteriosa/Da vida, flui em sombra e água nua./Curvas do rio escondem só o movimento./O mesmo rio flui onde se vê./Começar só começa em pensamento” (3).
A nossa equipe deseja a você leitor (a) um ano de 2024 repleto de realizações, muita saúde e vida longa; e que os desafios sejam vencidos com sucesso, em todos os sentidos. Parafraseando Pessoa, que o rio da vida possa fluir onde deve ser visto. Não fique só: “Ó Vida!”. O novo (re)viver “Não começa nem no céu nem no chão do planeta: começa no coração”.
Obs. num mural/mosaico alguém fixou a palavra “PAX”, ou seja, PAZ. É a foto deste artigo.
Próspero 2024! São os votos de Angeline, Francisco e Winnie.
Notinha útil – Ao belo, saudável e admirável Heitor, que juntamente com os seus pais, avós paternos e demais familiares vai passar o Ano-Novo em Camocim, na região metropolitana de Recife (PE), onde serão comemorados os seus DOIS meses de nascido, o Facetas dedica-lhe este inesquecível poema de Mário Quintana: Canção de junto do berço: “Não te movas, dorme, dorme/O teu soninho tranquilo./Não te movas (diz-lhe a Noite)/Que inda está cantando um grilo… // Abre os teus olhinhos de ouro/(o Dia lhe diz baixinho),/É tempo de levantares/Que já canta um passarinho…// Sozinho, que pode um grilo/Quando já tudo é revoada?/E o Dia rouba o menino/No manto da madrugada…”
Fontes: 1. Mário Quintana: Poesia completa: em 1 vol./org. Tania Franco Carvalhal- RJ: Nova Fronteira, p.764, 2005; 2. Toda Poesia (1950-1999)/Ferreira Gullar. – 12ª. ed. -RJ: José Olympio, 375, 2004; e 3. tomaaiumpoema.com.br.
Caríssimos, “A vida e a morte estão no poder da língua quem bem a utiliza come do seu fruto” ( Pv 28:21 ). A busca incansável pelo sentido, pelo significado é o nosso ofício. Embora as palavras tenham sido afetadas por um “vírus”, nem todos foram contaminados, ainda sabemos a diferença entre um homem pacifista e um homem pacífico.
Que a PAZ do Senhor esteja sobre todos nós.
Um Abraço.
Carlos Novo
CurtirCurtir
O ano novo começa no coração.
CurtirCurtir