Os escritores e poetas russos são mesmo uma marca registrada na literatura universal. Basta a gente consultar as obras de Maiakovski, Tolstói, Tchekhov, Gogol, Dostoiévski e tantos outros. Por exemplo, em fevereiro de 2009, a revista CULT publica espetaculares reportagens (da página 42 à 65), de escritores brasileiros, sobre os citados acima, ou seja, “A Literatura Russa do século 19”.

Como já publicamos um excelente artigo sobre Dostoiévski em 06.05.2023 sob o título “O prefácio de Dostoiévski”, contido na obra Os irmãos Karamazov, hoje, no entanto, o nosso foto está voltado para Tchekhov, mas precisamente para obra As três irmãs.
Anton Pavlovitch Tchekhov (1860-1904). Apesar de filho de camponeses, com muito empenho conseguiu se formar em Medicina, mas pouco exerceu a profissão. Logo logrou prestígio como jornalista com as suas famosas crônicas tornando-o, posteriormente, escritor muito conhecido.
É vasta a sua bibliografia. Citamos aqui, algumas de suas obras: A Ilha de Sakhalina (1891) é um trabalho magnífico, o qual é resultado da viagem do autor a Sibéria em 1890, onde está o relato de suas pesquisas com prisioneiros condenados a trabalhos forçados. Outras publicações: O Duelo (1892); O Monge Negro (1894); Os Camponeses (1897), etc. Para o tetro escreveu as peças: A Gaivota (1896); Tio Vânia (1900); As Três Irmãs (1901); e O Jardim das Cerejeiras (1904), ano de sua morte.
Segundo Elena Vássina, in “Um clássico contemporâneo da literatura russa”, o escritor em questão escrevia com “humor sutil e alto grau de condensação formal na formação da linguagem tchekhoviana” eram as suas marcas inconfundíveis. “Por isso, não é de estranhar que as obras completas do escritor, cujo credo literário era (“a brevidade é irmã do talento”, como dizia o escritor), incluem 30 volumes” (1).
Anton tinha uma capacidade incrível na “transfiguração poética de vida corriqueira”. Assim, ele “é um daqueles escritores que detestam colocar os pingos nos “is“, acreditando que a liberdade da interpretação de texto é um privilégio sagrado de cada leitor, participante ativo no ato da criação literária” (1).
Nas suas peças teatrais nada é mais importante que o tempo. O tempo “estabelece a ligação entre o cotidiano da vida humana e a eternidade. O dramaturgo irrompe no tempo teatral para abrir a ação dramática à eternidade da vida. Como são importantes, por exemplo, as estações do ano (o tempo cíclico da natureza) para o desenvolvimento da ação de As três irmãs” (1).
O primeiro ATO começa na primavera: “Meu Deus! Esta manhã despertei, vi todas as luzes, senti a primavera e a alegria estourou em meu coração” (fala de Olga). “É o despertar da natureza e o despertar das esperanças das três irmãs Prósorov – Irina, Olga e Macha – depois de um ano de luto pela morte do pai”. O último ATO, o 4º, passa-se no outono: “A neve pode cair a qualquer momento… Os pássaros já começam a emigrar… – fala Macha -, como se esses pássaros de arribação levassem consigo todos os sonhos e a esperança de felizes mudanças na vida das três irmãs” (2).
Prosseguindo, diz Elena: “Para Tchekhov, a vida do homem não é iluminada pela busca da verdade e da beleza não tem sentido”, como fala Macha no seu famoso monólogo: “Parece-me que todo homem deve ter uma fé, sem a qual sua vida torna-se vazia, vazia… Viver sem saber por que as cegonhas voam, por que nascem as crianças, por que há estrelas no céu… Não! Ou sabemos por que está vivendo, ou tudo é bobagem e nada importa…” (2).
Irene fala: “O homem deve trabalhar, trabalhar até a última gota de suor…Cada homem, sem exceção. Está nisso o objetivo e o sentido de sua existência, sua felicidade, sua alegria”. Seja ele um operário, um pastor, um professor, um maquinista… Contrapondo, fala Verchinin: “O que nos parece importante, grave, pesado de consequência, um dia será esquecido e deixará de ter importância. E o curioso é que não podemos saber hoje o que um dia vamos considerar grande ou importante, medíocre ou ridículo. As descobertas de Copérnico, as de Colombo, não terão parecido, de início, inúteis, sem sentido, enquanto se tomavam as elucubrações de um fenômeno qualquer pela própria verdade? É bem possível, portanto, que esta nossa vida de hoje, à qual emprestamos tanto valor, talvez seja um dia considerada estranha, desconfortável, sem inteligência, insuficientemente pura e – quem sabe ? – mesmo culpada…” (2).
E assim a peça chega ao seu fim, com esta fala de Olga: “Ah! Se pudéssemos saber, se pudéssemos saber!…” CAI O PANO.
Fantástico! Fantástico! Fantástico! Sabemos, que o nosso leitor está atento a todos os fatos. Porém, en passant, lembramos que palavras como vida humana, liberdade, esperança, trabalho, fé, criança, inteligência, etc, contidas na peça e atualíssimas aos dias atuais, tem mais de 120 anos. As três Irmãs, foi publicada em 1901, três anos antes da morte do teatrólogo em 1904, aos 44 anos de idade. Esperamos que os nossos seguidores, aprovem mais este artigo. Tirando, cada um, as suas próprias conclusões.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Gomes.
Fontes: 1. Revista CULT, ano 12, nº 132, fevereiro de 2009; 2. Tchekhov, Anton. As três irmãs. Trad. Maria Jacintha. – SP: Nova Cultural, 2003.