Djavan: o poeta das cores

Já homem feito, com a sua carreira de cantor e compositor reconhecida pela crítica e pelo público, como um dos maiores nomes do mundo artístico brasileiro, ele “sabe que está muito distante da infância pobre de Maceió, das noites passadas em claro como cantor de boates, das discriminações. Djavan sorri. Sabe que venceu” (1).

“As lembranças lhe parecem remotas. A mãe na lida, os violeiros e repentistas na rua, os discos de Luiz Gonzaga emprestados vez ou outra por algum vizinho. Cenas de um filme antigo, perdido no espaço”. Por exemplo -ainda sobre aquela época -, quando era adolescente, em Maceió, queria ser jogador de futebol, mas saiu de casa para não seguir a carreira militar, pois a música já corria em suas veias.

“No entanto, para ir das primeiras notas tiradas do velho violão à consagração foram anos de dureza financeira e paciente trabalho de lapidação de um estilo próprio”. Tem mais. “Sem educação musical formal, teve de inventar seus acordes e soluções harmônicas. Isso – somente à sua poesia lírica e de imagens contundentes – o transformou em um compositor inusitado, dono de uma criação peculiar. Poeta cuidadoso, fala de emoções extremas. Músico que catalisa todos os estilos, unindo Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro a Beatles e Chopin” (1).

No mês passado, ele comemorou os seus 75 anos de vida. Claro que estou falando do cantor, compositor e produtor musical alagoano Djavan Caetano Viana, mais conhecido como Djavan, nascido em Maceió no dia 27 de janeiro de 1949, que, apesar de ser a capital do Estado de Alagoas, vivia-se “um tempo que demorava passar”, devido ao sossego do lugar e a simplicidade da gente que ali habitava em medos do século XX.

Porém, o jovem preferiu rumar para o Sudeste com o intuído de realizar o seu sonho de cantor profissional. Agora sim, meio século depois, cabem bem estas palavras da nossa diva Nana Caymmi (82 anos), sobre ele: “Voz d’agua/Um grande pássaro cantando/O som que vem da natureza”. É isso mesmo. É esse som que ouço de sua voz e canto com ele, sempre. O poeta da vida, das cores. “O amálgama de todos os sons. Dono de um lirismo incomparável e criador de imagens poéticas inusitadas e contundentes. Um compositor movido por poderoso combustível: a procura de perfeição, sem seguir estilos, mas na busca de novos caminhos a trilhar” (1).

Ouço Djavan desde criança. Aprendi a praticar este hábito com o meu pai. Lembro-me dele colocando o disco para tocar e ao mesmo tempo ficava acompanhando a execução das músicas com o encarte nas mãos lendo cada letra, cada composição. Por exemplo, estes são alguns versos de alguns LPs que ele os canta até hoje: “Sabe lá/O que é morrer de sede/Em frente ao mar”; “Eu quero ver o pôr do sol/Lindo come ele só”; “Porque seu coração é uma ilha/A centenas de milhas daqui”; “Vem me fazer feliz porque eu te amo”; “As pedras, catedrais, coração”; “Eu quis lutar/Contra o poder do amor/Caí nos pés do vencedor…”, entre outros.

Esse encantamento pelo trabalho do artista, fez nosso pai – da minha irmã Angeline também, a qual tem colaborado muito com a formatação e inserção de fotos nos artigos, inclusive deste -, fê-lo reunir excelente acervo de LPs, CDs, DVDs e documentários impressos de Djavan. Só lembrando: há algum tempo, não muito distante, eu quis saber quando ele o ouviu pela primeira vez e de quis músicas mais gosta? Disse-me que em outubro de 1982, lá se vão mais de 40 anos, quando ainda morava na cidadezinha de Lábrea (AM),ouviu pelo rádio Samurai. Logo mandou buscar o disco “LUZ” em Manaus. A partir de então, não deixou mais de adquirir as obras do alagoano; quanto as canções preferidas, disse-me que são muitas. A começar por Pétala. Depois tem uma lista, como: Tanta Saudade, Água, Faltando um Pedaço, Meu Bem Querer, Álibi, Saudade, Sina, Esquinas, Soweto, a imperdível Milagreiro (com Cássia Eller), entre outras.

“LUZ” solidificou de vez a carreira de Djavan, dentro e fora do Brasil. Isso é fato. São 10 canções inesquecíveis, todas: letras e melodias de sua autoria, como Samurai, Pétala, Açaí, Sina, Luz, etc. todo gravado e mixado no estúdio Yamaha, Los Angeles, no período de 19 de julho a 20 de agosto de 1982. Tem a participação especial dos músicos norte-americanos: Stevie Wonder, Ernie Watts, Hubert Laws, Harvey Mason e Ronnie Foster. Aliás, o multi-instrumentista Foster, faz o seguinte comentário sobre o disco em questão e o cantor brasileiro: “Este trabalho não pode expressar o amor e a felicidade que Djavan e eu sentimos. A experiência com ele não só me comoveu, como seu amor e calor emocionaram todas as pessoas envolvida neste trabalho (e como são muitas. Vide foto do encarte). Eu espero que o Brasil e o mundo se deem conta do que eles têm em Djavan” (2). E, cantor assina esta dedicatória: “Eu dedico este disco ao amor. Quero dizer: Ao amor de Jackson, Vinicius, Elis, Bob Marley e John Lennon… Ó amor, enquanto puderes não te percas de mim”.

Em 50 anos de carreira (e 41 anos do lançamento de “LUZ”), Djavan imortalizou vários sucessos da sua vasta discografia; detém uma legião de fãs e admiradores dentro e fora do meio artísitico pelo reconhecimento do seu trabalho. Teve muitas de suas composições regravadas por grandes nomes da MPB, como Gal Costa, Maria Bethânia, Dori e Nana Caymmi, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Chico Buarque, e muitos outros.

Para finalizar, cito novamente Nana, que disse: “Entre as músicas de Djavan, a que toca mais fundo na alma é Oceano”. Para meu pai, Pétala. Eu, Samurai. Por isso, reproduz aqui a segunda estrofe: “Crescei, luar/Pra iluminar as trevas/Fundas da paixão/Eu quis, lutar/Contra o poder do amor/Caí nos pés do vencedor/Para ser o serviçal/De um samurai/Mas eu tou tão feliz!/Dizem que o amor/Atrai…”

Ufa! Espero, de coração, que os nossos fiéis leitores aprovem esta minha singela homenagem ao admirável Djavan Caetano Viana. O poeta do amor, que toca fundo às nossas certezas de viver; o poeta das cores e imagens do nosso olhar. O “lilás, o “seduzir”, o “desejo”, o “mar da paixão” das nossas vidas. Que o mesmo tenha muita saúde e existência longa para continuar com a sua bela arte de compor e de cantar.

Por Winnie Barros.

Fontes: Pesquisa e redação de Márcia Blasques, do livreto nº 25 (DJAVAN), da col. MPB Compositores, SP: Editora Globo, 1997; 2. LP “LUZ” de Djavan, RJ: 1982.

Um comentário em “Djavan: o poeta das cores

  1. Alguém bastante inteligente, criou a frase ” tal pai, tal filho” e ” “filho de peixe, peixinho é”.
    Parabens Winnie, pela belíssima exposição Bibliográfica, desse monstro da MPB. Uma de suas canções que marcou muito a minha adolescência é Faltando um pedaço, pois na época perdi minha namorada, cujo namoro ja fazia 6 anos.

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