Belchior & Zé Ramalho: juntos na arte de compor e de cantar

Livro. Livro, Livro. O padre Antônio Vieira que ficou famoso pelos seus “Sermões”, é o autor desta máxima: “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”. É tudo isso e muito mais. Por meio da leitura imaginamos lugares lá longe; pessoas bem aqui, pertinho da gente; paisagens diferentes, etc. São capazes de deixar o leitor encantado.

Recentemente, a nossa integrante do Facetas Angeline Gomes, adquiriu alguns livros. Entres dois são biográficos: “Belchior: apenas um rapaz latino-americano”, de Jotabê Medeiros e “Zé Ramalho: o poeta dos abismos”, de Henri Koliver. São excelentes, imperdíveis. vamos à pequena síntese das duas obras em pauta.

1. Belchior… Pense numa leitura apaixonante das 237 páginas que o compõe. Seu autor nasceu em 1962 em Sumé, Paraíba. Tem uma larga experiência como jornalista. Como escritor, não deixa nada a desejar. Pelo contrário, a obra em questão deixa os fãs e admiradores de Belchior, satisfeitos com as informações nela contidas.

O cantor, poeta, compositor e artista plástico Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes), nasceu em Sobral (CE) em 1946 e faleceu a 30 de abril de 2017, em Santa Cruz do Sul (RS), aos 71 anos de idade.

“Quando Belchior morreu, em abril de 2017, uma comoção percorreu o país. Mais de 10 mil pessoas foram a seu velório, em Fortaleza. Os jornais dedicaram várias páginas a recuperar a trajetória do artista. Foram organizados diversos shows em sua homenagem. Mesmo com tudo isso, uma pergunta permanece no ar: quem foi, afinal de contas Belchior?(1).

“Este livro é a primeira tentativa de responder a contento a essa pergunta”. Ainda adolescente foi interno num mosteiro de capuchinhos, lá mesmo em Sobral, onde aprende latim e leu os grandes clássicos. Porém, abandonou a batina antes de se ordenar e e foi para Fortaleza, onde passou em primeiro lugar no vestibular de Medicina “. Mas, antes de terminar o curso ele mudou-se para o Rio de Janeiro, pois sonhava em ser músico.

Entre 1970 e 1980, ganhou festivais. Em 76 gravou um disco antológico “Alucinação”, quando então, assumiu ares de estrela pop e até símbolo sexual. Gravou vários LPs e compôs letras memoráveis e conseguiu excelentes intérpretes da MPB para as suas composições. No entanto, “pouco depois deu as costas para a música e passou a se dedicar às artes plásticas (…). Até que, em 2007, deu as costas a tudo mais uma vez. E sumiu do mapa”. Foram 10 anos percorrendo o interior do Rio Grande do Sul e do Uruguaia “fugindo de tudo e de todos” (1).

Por fim, acrescenta o escritor sobre a figura de Belchior: “Um erudito de disciplina monástica. Um hippie vivendo num prédio em construção. Um poeta fã de João Cabral e Bob Dylan. Um místico experimental. Um incorrigível Don Juan. Um pintor de retratos. Um pop star. Um pai de família. Um desaparecido”. (1).

2. Zé Ramalho… Outra obra de tirar o fôlego do leitor (no bom sentido, é claro). São 342 páginas de excelentes perguntas e respostas sinceras. O biografado não esconde nada: da sua infância pobre com a família no Brejo do Cruz à vida sossegada de hoje, com mais de 70, vivendo no Rio de Janeiro.

José Ramalho Neto é paraibano e nasceu na cidadezinha (vilarejo) do Brejo do Cruz, no dia 3 de outubro de 1949 (74 anos). Morou uma temporada em João Pessoa (Capital) onde foi aprovado em Medicina. Mas, antes de concluir o curso, migrou para o Rio de Janeiro, pois queria ser cantor. Enfrentou muitos desafios até gravar os seus primeiros discos. Hoje, indiscutivelmente, é um dos maiores músicos do Brasil.

Henri Koliver (1965), o biografo começou a se interessar pelo trabalho poético/musical de Zé Ramalho ainda na adolescência, até finalmente lançar o livro em observação, que, segundo o referido escritor, “o que distingue o trabalho de Zé Ramalho é a capacidade de retratar a pluridimensionalidade das profundas realidades do ser, sem comprometê-las, preservando sua integralidade. Sua poesia nos conduz a uma viagem interior, com direção a camadas cada vez mais profundas da psique” (2).

Assim sendo, “essa obra revela a intimidade da vida e da obra de Zé Ramalho, um dos grandes nomes da MPB. A trajetória de um dos mais enigmáticos personagens já surgidos no panorama musical brasileiro vem a público, em profundidade, pela primeira vez”, em depoimento até então, inédito.

O livro, aqui em estudo, está dividido em três partes: 1ª – autobiográfica, onde o artista expõe sua vida, sua trajetória musical e a natureza de seu processo criativo. 2ª – contém depoimentos de parceiros de longas décadas como Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, entre outros; e 3ª – o escritor explora, com muito brilhantismo, o simbolismo presente na poesia de Zé, o qual confirma que seu trabalho tem por “função colocar as pessoas para pensar”.

Por favor, leitor. Leia essas duas obras e você não se arrependerá. São fantásticas! Versam sobre dois poetas geniais que dizem muito dos nossos sentimentos pelos seus versos, acordes, palavrase melodia. Aliás, os poetas nunca morrem, como bem o disse García Lorca: “Se a morte é só a morte, o que será dos poetas? E das coisas já não ditas e de que ninguém mais se lembra? O farol das esperança, águas claras, lua incerta, coração dos meninos, ó alma rude das pedras…” (2).

Notinha útil – Por duas semanas, a equipe do Facetas visitou os principais pontos culturais de Recife e Olinda. Portanto, não não deixe de conferir, em breve, os nossos artigos sobre esses dois lugares.

Por Angeline e Francisco Gomes e Dra Winnie Barros.

Fontes: 1. Medeiros, Jotabê. Belchior: apenas um rapaz latino-americano. – 1. ed. – SP: Todavia, 2017; 2. Holiver, Henri. Zé Ramalho: o poeta dos abismos. – SP: Medras, 2013.

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