Em 2002, para comemorar os seus 80 anos (1921-2001) de educação e evangelização, o tradicional colégio salesiano Dom Bosco, cuja sede fica bem no centro histórico de Manaus (AM), decidiu envolver os 2,2 mil alunos da escola, com Oficina de Livros, no segundo semestre daquele ano, para estimular entre os educandos o hábito de leitura, é óbvio, e envolver os pais e responsáveis com a boa formação dos mesmos.
Para a execução do projeto, o Portal Educacional, com atividades de impressão de livros em Curitiba (PR), entra como parceiro, por meio do qual “os alunos foram autores de uma história ilustrada pelo cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto, autor do livro infantil O Menino Maluquinho”. De forma bem pensada, a direção resolveu dividir as atividades que seriam praticadas.
“Dois temas foram trabalhados pelos estudantes. Amizade, para os alunos da educação infantil e na 1ª série do ensino fundamental, e os Meus Direitos, para os estudantes da 2ª série do ensino fundamental ao último ano do ensino médio”. Assim, “cada aluno produziu a sua própria história a partir de ilustrações criadas por Ziraldo. Os textos que deram origem aos livros, eram enviadas via Internet ao citado Portal, onde as pequenas obras foram editadas”.
“Atividade inédita na região Norte”, de acordo com o diretor do CSDB, padre Gilberto Theodoro Cucas (65), “que foi muito bem recebida por todos os alunos do colégio”. Ainda segundo ele, apesar da aceitação de todos “no projeto de criação do seu próprio livro, a surpresa ficou por conta dos estudantes do ensino médio que, pelo fato do Ziraldo ser o ilustrador, despertou o interesse dos jovens que “trabalhavam” nos seus relatos, até nos finais de semana”.
Até que, as expectativas de toda a comunidade salesiana – direção, professores, pais e alunado -, foi atendida na manhã de 27 de novembro de 2002, quando “todos os jovens escritores estiveram presentes no auditório da escola para o lançamento de seus livros, que contou com a participação de Ziraldo, para quem tal experiência é uma forma de incentivar não só a criança como o adolescente a adquirir o gosto pela leitura, principalmente em um país como o Brasil, as pessoas leem pouco”.
O contentamento de todos os presentes era visível. O aluno- escritor, Amadeu Amâncio de Oliveira (12), da 6ª série, disse: “foi divertido participar da experiência da criação de um livro, todos os alunos se dedicaram em escrever e também recebemos incentivo de nossos pais e professores”. Disse ainda, “que por conta desses incentivos lê cinco a seis livros por ano”.
Auditório lotado. Tudo se resumia numa festa. O Ziraldo autografou os livros de todos os alunos presentes ao evento. Eu estava lá acompanhando a pequena Winnie. Conversou com o escritor sobre o Pasquim. E o parabenizei pela iniciativa junto aos infanto-juvenis do Colégio Dom Bosco. Ele ficou deveras impressionado sobre o que eu sabia dos integrantes daquele periódico “subversivo” que perturbou muito o regime militar. Fantástico Pasquim! Fantásticos jornalistas!
Ao todo, o livreto tem 32 páginas e para cada um 14 desenhos, o(a) autor(a) deveria criar um texto condizente com as personagens ilustradas. Por exemplo, a charge exibida aqui, e menciona artigo 71 da lei 8.069/90 (ECA), diz: “A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculo e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Lembro-me que Winnie ficou muito empolgada com a “obra”. Ela mesma tomou a inciativa de pesquisar a lei acima citada, a CF/88, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, entre outros dispositivos legais afins. Vez ou outra, me consultava, se tinha dúvidas, é claro. Ela sempre gostou muito dos estudos, de leitura, de livros, principalmente.
Sobre a figura nº 1, na qual um criança caminha a passos largos, a autora faz esse comentário: “Certo dia, estava passeando pelo bosque, quando, de repente veio em meu pensamento um assunto muito polêmico, que envolve muito muita gente, ou seja, OS SEUS DIREITOS”. Interessante observar que: além da frase ter direta conotação com o nome da cartilha, a abordagem é relevante. Primorosamente feita por uma adolescente de apenas 13 anos de idade, à época.
Passadas duas décadas dessa realização, todos, direta ou indiretamente, vinculados àquele projeto tão nobre, estão de parabéns pela iniciativa, cujo pano de fundo era aprimorar o conhecimento daqueles 2, 2 mil alunos, por meio da leitura, da escrita, da força criativa de cada um. Hoje, são adultos e seguem educando os seus filhos, independente se são: médicos, mecânicos, pedagogos, psicólogos, advogados, comerciantes, professores, jornalistas, portas, escritores, entre outras profissões, ou não. Porém, acima de tudo, que saibam cumprir os seus deveres para obter os seus direitos, valorizando sempre uma ótima amizade, isto é, os dois temas propostos pelo CSDB.
Preparamos esta surpresa para Winnie. Esperamos que os nossos leitores aprovem esta abordagem. Quanto ao saudoso Ziraldo, todos nós perdemos, para sempre, a sua figura humana no último dia 6 de abril de 2024, aos 91 anos de idade. No entanto, o seu legado cultural, há de perdurar por muitas gerações vindouras. Por tudo que nos proporcionou no nosso jornalismo, na nossa literatura, etc.
Notinha útil – Amanhã comemoramos O DIA DAS MÃES. A todas, independentemente de raça, credo, classe social, etc, o Facetas as parabeniza com estes versos do magistral poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994): “Mãe! /São três letras apenas/As desse nome bendito/Três letrinhas, nada mais…/E nelas cabe o INFINITO”.
Por Angeline e Francisco Gomes.
Fontes: 1. Jornal Diário do Amazonas, 28.11.2002; 2. contato@educacional.com.br; 3. Os Meus Direitos: Ziraldo e Winnie, 2ª edição, Curitiba, novembro de 2002.