O lado amazônico de Euclides da Cunha

O engenheiro, historiador e escritor carioca Euclides da Cunha (1866-1909) não ficou famoso no Brasil e fora dele apenas por ser autor da extraordinária obra Os Sertões. Mas, também, pela sua peregrinação pela inóspita Amazônia brasileira e internacional. E, principalmente, pela tragédia familiar que fez tombar o seu corpo assassinado no Rio de Janeiro, em 15 agosto de 1909, aos 43 anos de idade. Fato esse que até hoje, 115 anos depois, ainda faz parte da História Viva do Brasil.

No final do século passado e início deste, o professor e historiador amazonense – nascido em Manaus, em 14 de agosto de 1951 -, Roberto Braga, não poupou esforços para pesquisar a longa estada de Euclides da Cunha, no Amazonas na Amazônia, enfim. Seu inegável esforço resultou no excelente livro ora em análise pelo Facetas: “Euclides da Cunha No Amazonas”

Segundo a editora, trata-se de “um trabalho singular de investigação sobre a passagem do autor de Os Sertões pela região, suas impressões sobre a mesma, tendo o mérito ainda de oferecer ao leitor fontes histórico-documentais, a partir das correspondências, emitidas em Manaus, pelo próprio Euclides, o que concede a este livro uma maior relevância. Embora seja mais conhecido como o cronista de Canudos, dedicando-se à compreensão da lida do sertanejo, Euclides da Cunha volta-se também para a Amazônia, empenhando-se igualmente na compreensão do drama amazônico, recortado pela experiência do caboclo, do seringueiro e do nativo, encantando-se ainda com a diversidade e vastidão da natureza. A reconstrução desse encontro entre Euclides e, mais detidamente, o Amazonas, é o objeto central desta obra” (1).

Referendando o excelente estudo do mestre Robério, outro gigante da historiografia amazônica, o cientista social, Pontes Filho, é preciso quando diz nas “orelhas” do livro em pauta: “Há homens que por onde andam não apenas passam, mas marcam. Esse é o caso de Euclides da Cunha, que deixou a impressão de sua presença também no Amazonas, e cuja trajetória é agora reconstituída em Euclides da Cunha no Amazonas, de autoria de Robério Braga”.

“Homem de um tempo de transição, impulsionador de transformações profundas, Euclides é identificado, juntamente com Augusto dos Anjos, Lima Barreto, Monteiro Lobato e Graça Aranha, com o pré-modernismo, provocando rupturas com passado trazendo à baila realidade brasileira, denunciando as condições de vida a que foi submetido o homem nordestino, em Os Sertões, como também realizando estudos sobre a Amazônia, por ocasião de seu ingresso a Comissão Brasileira encarregada de tratar dos problemas de limites nas fronteiras do norte do país”.

Embora seja mais conhecido como o cronista de Canudos, dedicando-se à compreensão da vida do nordestino, Euclides esteve no Amazonas não apenas voltado para as suas investigações técnico-científicas, “bem como de sua relação com a cidade de Manaus e a Academia Amazonense de Letras”. Nesse contexto, o livro do pesquisador Robério, “é um trabalho singular de investigação sobre” a passagem de Euclides pela nossa região. Euclides da Cunha no Amazonas tem o “mérito ainda de oferecer ao leitor fontes histórico-documentais, a partir das correspondências (cartas, principalmente) emitidas de Manaus (onde permaneceu de janeiro a abril de 1905), pelo próprio Euclides”, o que torna o livro em pauta de relevância histórica inigualável sobre esse vulto brasileiro.

Euclides tinha enorme familiaridade com a escrita. Pois, além dos seus volumosos relatórios, cujos alguns manuscritos resultaram em livros, mantinha intensa via de correspondência com autoridades e amigos. Sem perder de vista a imprensa. Pois escrevia para vários jornais. Por exemplo, além de Os Sertões, sua obra máxima, outros livros como Contrastes e Confrontos (1907), publicado em Portugal. À margem da história (1909), sobre a Amazônia, entre outros trabalhos. Tratava-se, portanto, de homem voltado para a História, no sentido sociológico e geográfico, principalmente.

O notável médico Djalma da Cunha Batista, o qual editou toda a sua vida em prol do bem estar da saúde da sociedade amazonense, disse: “os reveladores da Amazônia – seus intérpretes – contam-se por dezenas. Dentre todos, sobressai, pelo seu porte majestoso, um nome que ocupa a primeira plana nas letras nacionais: Euclides da Cunha”

Nos relata o incansável historiador Robério, que, mesmo antes da virada do século XIX para o século XX, 1898, Euclides “manifestava seu interesse e conhecimento sobre os problemas da região amazônica, tal como fizera, tempos antes, com “Fronteira Sul do Amazonas – Questão de Limites”. Esse interesse fica evidente nesta carta por ele enviada de Manaus (dezembro, 1904) a Afonso Arinos, quando diz: “daí minha ânsia de partir – buscando a forte distração do meu duelo com o deserto, nesta majestosa arena de quinhentas léguas que me oferece o Purus (um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, onde estão os municípios de Boca do Acre, Pauini, Lábrea, Canutama e Tapauá)”.

Entre janeiro e novembro de 1905, Euclides enviou quase 20 cartas – a maioria delas feitas em Manaus – ao Barão de Rio Branco e, em todas, o emitente diz, fosse no Purus, no Juruá ou outro ponto da imensidão amazônica, que a sua missão é fazer um estudo técnico hidrográfico.

Senhores leitores, o livro em questão é muito interessante. Se puder adquiri-lo, não se decepcionará.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte consultada: Euclides da Cunha no Amazonas/ Robério Braga – Manaus: Editora Valer, 2002.

Deixe um comentário