Lélia Gonzalez: personalidade AFRO brasileira

“Garimpando” aqui e ali para o acervo de livros, LPs, CDs, DVDs e revistas do Facetas vamos conseguindo reunir obras de valores histórico e cultural inestimáveis. Por exemplo, acabamos de adquirir o livro “Personalidades AFRO que mudaram o mundo!”, dividido em duas partes: “Eventos e entidades da CULTURA NEGRA”; e “Grandes personalidades da CULTURA NEGRA”.

Interessante abordagem sobre: realização do 1º Congresso Pan-Africano (1919); 1º Festival das Artes Negras (1966); Criação do Partido dos Panteras Negras – EUA (1967); criação do Conselho Nacional de Mulheres Negras (1950), entre outras entidades. Quanto às personalidades, são 24, entre brasileiras e estrangeiras. Como: Abdias Nascimento, Marcus Garvey, Luther King, Alzira Delfino, Lélia Gonzalez, Mãe Menininha do Gantois, Milton Santos, Clementina de Jesus, etc.

Nesse contexto, a contribuição de cada projeto, entidade ou personalidade é tão valioso, que foi difícil, da nossa parte, escolher apenas um tema para este artigo. E, sobre o Brasil, primeiramente. Como bem o diz a pesquisadora da obra em questão, Morgana Gomes: “O interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pelos muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros, centrados na expressão e evolução histórica desse cultura” (1).

“Muitos estudiosos brasileiros como o advogado Edison Carneiro, o escritor Jorge Amado, o escritor e jornalista João Ubaldo, o antropólogo francês Roger Bastide, o fotógrafo Pierre Verger e o pintor argentino Carybé, dedicaram seus esforços de levantamento de dados sobre a cultura afro-brasileira, a qual ainda não tinha sido estudada em detalhe”. Fala-se da história das religiões afro-brasileiras, que têm recebido notável ajuda de acadêmicos e simpatizantes ou membros dos candomblés.

Diz a citada pesquisadora que “os negros trazidos da África como escravos geralmente eram imediatamente batizados e obrigados a seguir o catolicismo. A conversão era apenas superficial e as religiões de origem africana conseguiram permanecer através de prática secreta ou o sincretismo com o catolicismo” (1). Sabe-se, no entanto, que algumas dessas religiões ainda mantém quase que totalmente suas raízes africanas, como podem ser citadas as tradicionais Candomblé e Xangô do Nordeste. “Segundo o IBGE, só 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de origem africana, embora um número maior de pessoas as sigam de forma reservada”.

“Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileiras só foram (ou são) praticadas abertamente por vários intelectuais e artistas importantes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia (que frequentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa, Mestre Didi (filho da Iyalorixá Mãe Senhora), Antonio Risério, Carybé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste” (1), muito tempo depois da chegada delas em solos tupiniquins.

Uma, entre muitas pessoas que dedicaram suas vidas em prol do cumprimento dos direitos individuais e coletivos dos afrodescendentes, foi Lélia Gonzalez, falecida há 30 anos. Era uma intelectual, professora, antropóloga e política brasileira, ou seja, uma “destacada ativista do movimento feminista brasileiro, por sua luta em defesa da mulher, em especial contra a violência sexual e doméstica” (1). Lélia nasceu em 1º de fevereiro de 1935 em Belo Horizonte e faleceu em 10 de julho de 1994, no Rio de Janeiro, vítima de problemas cardíacos. “Filha de um ferroviário negro casado com uma moça de origem indígena, foi a penúltima dos 18 filhos do casal” .

Em 1942, Lélia foi morar no Rio de Janeiro, dando início aos seu estudo primário, o qual fê-la chegar a universidade, onde graduou-se em História e Filosofia. “Seguiu a academia fazendo mestrado em Comunicação Social e doutorando-se em Antropologia Social e Política, tendo por base pesquisas sobre as relações de gênero e etnia” (1). Como professora de Cultura Brasileira na PUC/Rio, chegou à chefia do Departamento de Sociologia e Política. Em plena ditadura militar, foi mestra de Filosofia no ensino médio, “privilegiando o espaço de debates e resistência política, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento crítico e ações de seus alunos” (1).

Lélia, ajudou a fundar importantes instituições como o Movimento Negro Unificado, o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, o grupo baiano Olodum, entre outros. De 85/89, atuou no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher; 1ª suplente como deputada federal e estadual em 82 e 86, respectivamente. Esteve no Congresso Paulista do SOS MULHER; ajudou a criar a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher no Brasil, em São Paulo, entre outras vitórias brasileiras.

Em mais de 30 anos lecionando nas universidades brasileiras, “aliou as pesquisas à atuação política e ainda buscou espaços para difundir, incentivar e valorizar as tradições afro-brasileiras”. Da sua produção escrita, nos deixou dois livros: “Lugar de Negro” e “Festas Populares no Brasil”. Além de farto material de seminários e panfletos político-sociais divulgados pela imprensa nacional e internacional. O reconhecimento pelo seu inquestionável legado, veio como homenagem ao seu nome: Nome de escola no Rio, de centro cultural em Goiás e Aracajú; homenageada pelo carnaval baiano nos anos de 97 e 98. Em 2010, o governo da Bahia criou o Prêmio “Lélia Gonzalez”, oferecido para incentivar políticas públicas voltadas para as mulheres baianas, etc.

Senhores leitores, o nosso relato aqui sobre essa incrível mulher, é apenas um pouquinho dos seus grandiosos feitos em favor do ensino, da cultura, do brasileiro, enfim; do direito individual e coletivo das pessoas, dos valores sociais e antropológicos, da pátria amada Brasil. Leiam mais sobre ela, por favor. Vale (muito) a pena.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte consultada: 1. “Personalidades AFRO que mudaram o mundo!” (Almanaque brasileiro da cultura negra), nº 01, SP: Discovery Publicações, 2018.

Deixe um comentário