O escritor amazonense Márcio Souza (78 anos), desde muito jovem – escreveu seu 1º livro aos 20 anos de idade -, tem ocupado o seu tempo, também, como pesquisador, historiador, teatrólogo e diretor, entre outros afazeres literários. Em 1969 interrompeu seus estudos de Ciências Sociais na USP, por perseguição do regime militar. Época em que deu início às atividades como crítico, roteirista e diretor de cinema. Na dramaturgia escreve várias peças, entre elas As Folias do Látex.
De lá para cá publicou muitos livros. Por isso sua bibliografia é vasta. O ato de escrever fê-lo ser um dos maiores escritores brasileiros dos últimos 40, 50 anos. Principalmente depois que duas das suas obras foram convertidas em minisséries de grande repercussão nacional: Mad Maria e Galvez: O imperador do Acre. Por exemplo, o livro Um Teatro na Amazônia, de sua autoria, é todo voltado para peças teatrais. Cuja edição por nós pesquisada vem escrita em português, inglês e francês.

A obra ilustra as principais apresentações cênicas na capital amazonense. Tudo começou, segundo o próprio Márcio, no final dos anos 60 e atravessou as décadas seguintes, no Tesc (Teatro Experimental do SESC/Manaus), por mais de meio século, obtendo aplauso da crítica e do público, tais como: Eles Não Usam Black-Tie (19690, de Gianfrancesco Guarnieri; Pastum (1970), de Aldisio Filgueiras; A Paixão de Ajuricaba (1974), As Folias do Látex (1976), Tem Piranha no Pirarucu (1978) e A Resistível Ascenção do Boto-Tucuxi (1982), de Márcio Souza; Hamlet (2004), de William Shakespeare; Marx na Zona (2004), de Howard Zinn; Dessana, ou o Começo Antes do Começo (2005), de Márcio Souza, Aldisio Filguieras e Adelson Santos; Francisca (2009) e Isabel do Brasil (2012), de Maria José Silveira; e O Fiscal Federal (2013/2014), baseada na obra do escritor russo Nicolai Gugol, entre tantas outras. Tem mais: em 1973, ocorreu o Concerto de Música e Poesia com o Grupo Gente – Espinhos do Coração; e em 2004, exibição do Espetáculo de Humor, Poesia e Música – Sábados Detonados.
Márcio Souza, com muita propriedade, apresenta um resumo para cada peça, elenco e contexto sócio e histórico, etc. Todas ensaiadas e apresentadas no Tesc ou outros teatros, ou seja, “uma atividade do Serviço Social do Comércio (SESC) com sede no centro de Manaus”. Aliás, o Tesc foi “fundado em 1968. O grupo logo se tornou um dos mais importantes movimentos teatrais do Brasil, encenando espetáculos em duas vertentes de pesquisa de linguagem cênica” (1).
A primeira, voltada “para uma visão crítica do processo histórico da região amazônica”; e a segunda, “traz para o palco o universo dos povos indígenas amazônicos”. As duas contêm peças magistrais que logo caíram no gosto do público, como As Folias do Látex e A Paixão de Ajuricaba, com sucessivas apresentações. Assim, a partir de 2003, o Tesc se tornou um grupo profissional. E, em 2014, sua direção passa a ser do poeta e escritor Aldísio Filguieras, figura indispensável ao meio artístico.
O SESC é uma entidade cultural e educacional sem fins lucrativos, criado nos anos 40. Ao longo dessas décadas, solidificou uma marca de inovação e transformação social. Intensificando suas ações em “diversos campos da cultura e através de diferentes manifestações, destinadas a todas as audiências e aos grupos sociais, etários e de classe social, ou seja, uma diversidade de eventos. Dessa maneira o SESC em todo o Brasil põe em prática ações de educação não formal, permanentes, que busquem valorizar e estimular o desenvolvimento das pessoas, encorajando a autonomia, contato e interação como as diversas formas de expressões e maneira de pensar, atuar e sentir” (1).
Salienta o escritor: “desde o começo o Tesc promoveu diversas oficinas no campo das artes cênicas, oferecendo gratuitamente a possibilidade de conhecimento aos interessados. Atualmente estudantes e o público em geral podem se inscrever em ciclos de palestras e cursos que vão da história do Teatro à cenografia, da dicção teatral à dramaturgia” . Sua importância cultural foi tamanha, que ao completar 40 anos de atividade profícua, no dia 11 de novembro de 2008, o Congresso Nacional realizou em Brasília, sessão de honra para oficialmente celebrar o aniversário desse Teatro, com Márcio Souza, coreógrafos, atores e a bancada legislativa do Amazonas (foto ao lado).
Um Teatro… traz várias notas de diferentes críticos. Aqui, apresentamos duas delas: sobre “A Resistível Ascensão do Boto-Tucuxi”, Otávio Ianni (1982), diz: “A peça de Márcio Souza é uma paródia de muitas gargalhadas. Tantas que de repente o espectador percebe que ri também de si mesmo. Ao rir das personagens e situações, levado pela inventiva do autor, logo se dá conta de que a gargalhada não é inocente…” (1). E, sobre “Tem Piranha no Pirarucu”, o francês Pierre Restany (1978), assegura: “Uma peça estava em cena neste momento no teatro de bolso de Manaus. Ela foi escrita por um jovem autor amazonense, Márcio Souza, cuja formação marxista aliviou seu senso crítico. (…) Decidimos ir ver a peça ao mesmo tempo que mais 50 pessoas tiveram a mesma ideia de se aboletar numa minissala apertada” (1). A ação se desenvolve em torno de um empresário americano… O francês finaliza seu relato dizendo: “A realidade em contato com a lenda se faz cruelmente crítica e brutalmente explosiva” (1).

Esta é a nossa síntese do livre em questão. O qual, cuidadosamente foi bem elaborado por Márcio Souza sobre o tema que se propôs a apresentar: a arte cênica de autores regionais ou não. Esperamos pela aprovação dos nossos fiéis leitores. O livro, per si é o espetáculo!
Notinha de pesar – O manuscrito deste artigo estava feito desde 20 de maio de 2024 para ser publicado oportunamente. Por isso, fala do escritor na ativa. Porém, no dia 12 deste mês a tristeza se fez presente entre seus familiares, fãs e admiradores, após a notícia da morte repentina de Márcio Gonçalves Bentes de Souza, aos 78 anos de idade. Nascido em Manaus no dia 4 de março de 1946 e falecido em Manaus na data acima. Aqui, portanto, a nossa homenagem ao notável escritor.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: 1. Souza, Márcio. Um Teatro na Amazônia. 3 ed. rev. e ampliada. – Manaus: editora Valer, 2014