Antonio Candido (de Mello e Souza), nasceu no Rio de Janeiro, no dia 24 de junho de 1918 e faleceu em São Paulo, no dia 12 de maio de 2017, com quase 99 anos. Foi um destacado estudioso: sociólogo, crítico literário, ensaísta, professor e escritor. Figura central dos estudos literários no Brasil. É de sua autoria o fundamental livro: “Formação da Literatura Brasileira”. É autor ainda, “de obras que combinam a interpretação da literatura e sociedade por meio de um método de estudo por ele nomeado como crítica integradora” (1).
Recebeu as primeiras lições em casa com sua mãe Clarisse. Ainda criança, foi com a família, morar na cidade de Poços de Caldas (MG). Mas, concluiu o curso secundário no interior de São Paulo. Aos 21 anos ingressou no curso de Direito do Largo de São Francisco onde estudo até o 5º período. Depois fez Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, concluindo o curso em 1942. Entre seus amigos acadêmicos estavam Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes e Gilda Rocha (futura Gilda de Mello e Souza, casado de 1943 e 2005), cujos nomes se tornaram respeitados no mundo cultural após o advento da Semana de Arte Moderna, de 1922.

A partir de então, o jovem Candido ingressou no magistério como docente da USP, na cadeira de Sociologia. Aos 27 anos conquistou a vaga “de Literatura Brasileira com a tese de livre-docência intitulada, “Introdução ao Método Crítico de Sílvio Romano”. Após graduar-se doutor em Ciências Sociais, jamais se afastou da sala de aula e/ou do universo, tanto da literatura nacional como da estrangeira até o fim da vida, aos 98 anos de dedicação profissional.
“Formação da Literatura Brasileira” é, sem dúvida, um sólido tratado desse ramo do conhecimento. Considerado, portanto, por muitos estudiosos, como o principal trabalho do mestre em análise. Esse estudo foi inicialmente lançado em 1959, quando o autor “ensinava Literatura na recém-criada Faculdade de Filosofia de Assis, integrada à Universidade Estadual Paulista, onde esteve de 1958 até o fim de 1960” (2).
No prefácio da 1ª edição, o mestre diz que Formação… “foi preparado e redigido em 1945 e 1951. Uma vez pronto, ou quase, e submetido à leitura dos meus amigos Décio de Almeida Prado e Sérgio Buarque de Holanda, e, principalmente, outros, foi, apesar de bem recebido por eles, posto de lado alguns anos e retomado em 1955, para uma revisão terminada em 1956, quanto ao primeiro volume, e 1957, quanto ao segundo volume” (3).
Nessa mesma edição, acrescenta ele: “Cada literatura requer tratamento peculiar, em virtude dos seus problemas específicos ou da relação que mantém com outras. A brasileira é recente, gerou no seio da portuguesa (galhos secundários daquela árvore) é dependeu da influência de mais duas ou três para se constituir. A sua formação tem, assim, caracteres próprios e não pode ser estudada como as demais, mormente numa perspectiva histórica como é o caso deste livro, que procura definir ao mesmo tempo o valor e a função das obras” (3).
O livro ora em observação, traz interessante síntese da própria editora OURO SOBRE AZUL, cujos trechos reproduzimos a seguir dada a essencialidade/riqueza histórica sobre as origens da literatura brasileira, assim: “Este livro estuda dois períodos de nossa Literatura, Arcadismo e Romantismo, considerados pelo autor decisivos para a formação do que denomina sistema literári, isto é, a articulação de autores, obras e públicos de maneira a estabelecer uma tradição. Esta gera a continuidade, que dá à produção literária o caráter de atividade permanente, associada aos outros aspectos da cultura. Este modo de ver diverge da historiografia tradicional, porque adots como critério classificatório a constituição da literatura como atividade regular na sociedade, não como expressão de algum sentimento nacional”.
Sabe-se que desde Anchieta, no século XVI, que o Brasil produz textos importantes. “No entanto, segundo o autor, só a partir de meados do século XVIII começa a ser possível falar não de obras isoladas, e, sim, do esboço de uma literatura propriamente dita”. Por assim dizer, seu estudo é voltado para “os períodos”, quando a literatura adquiriu o caráter de “sistema”, acima definido, quando “passou a ser uma instituição da sociedade, não simples ocorrência de textos”, sem demérito aos produzidos por Gregório de Matos, padre Antônio Vieira, ou os de Rocha Pita, no século XVII.
“Mas a concepção de sistema literário é a moldura, não o essencial do livro, embora tenha sido o que chamou a atenção dos críticos. O essencial é o estudo analítico das obras, que o autor procura abordar em leituras renovadoras para o momento em que o livro foi preparado e redigido, isto é, de 1945 a 1951. Por isso, embora nos pressupostos e no tratamento geral ele proceda como historiador da Literatura, o que lhe interessou mais foi atuar como crítico, de capítulo a capítulo, focalizando cada obra e procurando estabelecer a sua correlação com as demais”.
“Do ponto de vista mercadológico, a sua ambição foi mostrar que a visão histórico-cultural e o tratamento estético podem combinar-se numa concepção integradora, graças à qual são possíveis leituras mais completas dos textos, pois levam em conta a sua singularidade de objetos que devem ser tratados como se fossem autônomos, quanto a sua natureza de frutos de um processo histórico social no qual os homens reconhecem a sua imagem e a imagem do seu universo”.
“Formação da Literatura Brasileira” que abrange dois Momentos Decisivos de 1750 a 1880, o seja, o Arcadismo e o Romantismo, desde o final dos anos 1950, vinha sendo editado em dois volumes, mas no mesmo tomo. “Agora ( a 14ª edição0, sai em um só, tendo seu autor, sabiamente, unificado as informações biográficas e bibliográficas que antes apareciam no fim de cada um”.

Por fim, o professor Candido cita dois de seus colegas escritores, José de Alexandre e Machado de Assis, que respectivamente disseram o seguinte: “A Literatura nacional, que outra coisa é senão a alma da pátria”; e “Esta não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração, nem de duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo”.
Eis aqui, leitores, um pequeno tópico dessa obra primorosa para os que, incondicionalmente, apreciam literatura em todos os sentidos. Aliás, trata-se de um trabalho completo, com notas, referências, etc. E, para tornar mais autêntico o nosso artigo sobre o estudioso Antonio Candido, usamos para o nosso titulo, este belo verso do poeta baiano Castro Alves: “Livro tal, página tal”
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fontes consultadas: 1. http://www.jornal.usp.br; 2. http://www.ebiografia.com; 3. sociologia.com.br.; e 4. Candido, Antonio. Formação da literatura brasileira – Momentos Decisivos, 1750-1880, 14. ed. RJ: Ouro sobre Azul, 2013.