Com a recente divulgação – eu particularmente não sabia -, da demência frontotemporal que vem, gradativamente, afetando a saúde do jornalista e escritor carioca Maurício Kubrusly (79 ) desde 2019, causando impacto aos seus fãs e admiradores. Segundo a sua esposa Beatriz Goulart ele somente lembra o nome dela.
A doença foi percebida após mudanças repentinas no comportamento dele, que era conhecido como leitor voraz. “Ele parou de usar o celular porque mandava mensagens e fotos para pessoas erradas. Foi difícil entender que ele estava mudando rapidamente. Há menos de um mês, parou de falar. É do que mais sinto falta – dividir suas descobertas do mundo”, relatou Beatriz (1).

Vamos então, ao que me motivou a fazer este artigo em homenagem a esse notável repórter. Lembro bem que o meu pai havia comentado que Maurício viria a Manaus, em breve, para lançamento e palestra de seu livro. Ele veio sim. Isso ocorreu em 15 de dezembro de 2005, há exatos 19 anos.
Como papai era professor à noite, não poderia comparecer ao evento. Mas, fui de carona com ele até a Sede da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus), onde seria realizada “a noite de autógrafo”, amplamente divulgada pelos meios de comunicação local.
Lá, conforme percebi, eu era a única adolescente – ainda menor de idade – de interesse tal qual tantas outras pessoas presentes àquele acontecimento literário: autoridades, escritores, profissionais da imprensa (falada, escrita e televisionada) e muitos leitores. Muitos. A palestra consistiu na temática sobre o turismo na televisão. Por exemplo, “Como um programa pode influir positivamente para divulgar destinos até então desconhecidos? Através do “Me Leva Brasil”, muitos lugares do interior do país passaram a ser conhecidos internacionalmente” (1), avalia o palestrante.

Confesso que sempre gostei muito de prosa e poesia, de biografias, de livro enfim. Com a obra em questão autografado nas mãos, foi, para mim, sem dúvida, um acontecimento maior, não somente como leitora, mas também por ser fã de Kubrusly, cujo trabalho revela as diferentes manifestações culturais: hábitos e costumes no nosso povo, que acima de tudo, é um forte como assegurou Euclides da Cunha.
“A viagem é longa: 150 cidades e mais de 4 mil quilômetros em cinco anos, colhendo “causos”. Entre eles, o costume de dar uma surra no morto, o caixão especial para as mulheres virgens, o homem que aprendeu japonês dormindo, o primeiro descobrimento do Brasil, o padre ginecologista, a casa com uma avenida dentro, o cineasta que anda com uma sela de cavalo nas costas, o motel Rapidinha, e o motel para boi, viúvas de maridos vivos e uma conversa com Já Morreu, criadores de sacis, a santa que é uma cabeça, Miaí de Cima, Miaí de Baixo, quatro irmãos casados com cinco irmãs. Bem-vindo ao Brasil de mil e duas histórias. Todas as que estão aqui são reais” (2), garante o autor.
Alberto Villas, coordenador (TV Globo para a Série Fantástico), diz: “Senhores passageiros, boa viagem! O destino é um país chamado Brasil. Brasil com “s”, um “Brasil brasileiro”, como cantou um dia Ary Barroso. Um país cheio de personagens e muitas histórias que o repórter Maurício Kubrusly – me desculpe “seu” Cabral – descobriu o Brasil.
Quando o quadro estreou no Fantástico no primeiro domingo do ano 2000, tínhamos certeza de que estávamos colocando no ar um produto 100% jornalístico. Com o passar do tempo, fomos percebendo, a cada domingo, que um país se faz com homens, livros (para lembrar Monteiro Lobato) e suas histórias maravilhosas. Todos os personagens que estão aqui nestas 409 páginas ficam muito felizes em contar suas histórias. E nós em ouvi-las. E agora transformá-las em livro. Um livro chamado Me Leva Brasil” (2).

Para aqueles que ainda não o conhecem, saibam um pouco mais: Maurício Kubrusly, jornalista por acaso, começa no Jornal do Brasil, no Rio. Já em São Paulo, pula para o Jornal da Tarde e transforma uma paixão – a música – em trabalho: vira crítico. Cria a Somtrês primeira revista de áudio e música do país. Outro amor – o rádio – também vira trabalho. Dirige a Excelsor FM, com o lema: “a única rádio que nunca toca a mesma música duas vezes”. Lança um livro de ficção (13 pontos) e é como crítico que começa na TV Globo. Mas logo atua como repórter em todos os jornais e grandes eventos da rede. Daí, o grande prêmio: fazer parte do time do Fantástico, e o privilégio de viajar o Brasil adentro. E como o Brasil é outra paixão… Carinha de sorte, não?!
Maurício, você parou de falar por causa da doença que afeta o seu privilegiado cérebro. Mas, nós, os seus leitores continuaremos a falar pela vossa pessoa, lendo os seus “causos”. Me Leva Brasil nos levará onde quer que você tenha ido produzir essa obra tão original da nossa gente. Viva Kubrisly!
Notinha útil – amanhã o nosso amado filho Heitor completará mais UM mês de linda vida. Agora já são 13. Parabéns! Tem mais: a expectativa é grande para passarmos o réveillon 2025, com a tia e os avós maternos em Manaus, no coração da Amazônia. Vamos lá garoto!
Por Winnie Barros.
Fontes consultadas: 1. “Maurício Kublusly pensou em eutanásia…” por Augusto de Souza, DCM, 24.11.2024; 2. Kubrusly, Maurício. Me Leva Brasil: a fantástica gente de todos os cantos do país. – SP: Globo, 2005.