Brasil: “Carnaval, igual por toda parte”

O meu carnaval” e “carnaval, igual por toda parte“, são temas de crônicas de Lima Barreto. Hoje, ficaria melhor assim: “o nosso carnaval” que é mesmo grandioso, seja em Manaus, Salvador, Recife, São Paulo, e principalmente no Rio de Janeiro, ou ainda em qualquer cantinho do Brasil. Aliás, vem do próprio Barreto, está definição: “O carnaval é a expressão da nossa alegria. O ruído, o barulho, o tantã espancam a tristeza que há nas nossas almas, atordoam-nos e nos enchem de prazer”.

O interessante livro “Histórias de carnaval”, organizado por Adilson Miguel, apresenta contos de Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto, João do Rio, Marques Rebelo e Clarice Lispector, no qual diz Miguel: “Para além do estereótipo do Brasil como o “país do carnaval”, é impressionante observar como essa festa importada da Europa se adaptou e se expandiu em nossas terras. A literatura, decerto, não ignorou o fato e registrou a forte presença do carnaval na cultura brasileira”.

O carnaval, portanto, consegue reunir distintas classes sociais; gêneros musicais como samba, marcha-rancho, batucada, frevo, axé, etc com um só objetivo: festa. Numa manifestação popular centenária, proporcionalmente, é claro. Não queremos, com isso, comparar os ritmos dos anos 30 e 40 com as marchinhas das décadas de 50, 60 e 70, nem com os recursos tecnológicos das escolas de samba disponíveis na atualidade, como danças, melodias, músicas, equipamentos, entre outros.

Por falarmos em música, o pesquisador, cordelista e jornalista cearense Edgar de Alencar (1901-1993), escreveu o seguinte: “A música de carnaval custou a aparecer, mas surgindo não demorou a tornar-se contingente de valia da música popular brasileira. Durante anos seguidos foi, na verdade, sua força maior. No Rio chegou a haver a distinção “música de carnaval” e “música de meio de ano”.

O samba, a mais famosa modalidade música-popular do pais, nasceu no carnaval. Pelos aspectos vários de que se reveste, plenos de graça e colorido, a música de carnaval foi sempre contagiante, de extraordinária capacidade no transmitir-se e empolgar multidões. Através da cantiga de carnaval será possível reconstruir-se algumas fases da vida brasileira, mormente da vida da antiga metrópole, tão caracterizada pela sua vibração e alegria. Magnífico é o potencial do cancioneiro carnavalesco, sem dúvida o ponto alto da música ligeira do Brasil. Embora a canção carnavalesca se destinasse especialmente à grande festa do ano, certo é que tão prestigiada foi sempre como manifestação do povo para o povo, que perdia seu caráter efêmero para se perenizar na lembrança e na saudade.

Os carnavais passavam e suas canções revivesciam todos os anos, menos pela nota nostálgica do que pela carga de alegria que delas transbordava. Aqui vão algumas dessas canções (A Baratinha; Até Amanhã; História do Brasil; Mamãe, Eu Quero, entre outras), numa seleção na verdade feita pelo povo que as cantou e não as esqueceu” (1).

Tem mais esse tema correlato: “No princípio, o carnaval brasileiro era uma festa que não se celebrava com um ritmo próprio: dominós, pierrôs e colombinas dançavam quadrilhas, valsas rodopiantes, xotes, habaneras e a badalada polca com tal animação que se esqueciam de que essas músicas eram as mesmas dos bailes do resto do ano. A folia momesca só começa a adquirir sua individualidade musical a partir das primeiras décadas do século XX” (2). E, assim, perdura e perdurará sempre.

O também jornalista e pesquisador das atividades carnavalescas e “agitador cultural”, o carioca Albino Pinheiro (1934-1999) escreveu em contracapa de disco esta opinião: “Se alguém perguntar a qualquer folião se pratica a melhor música de carnaval carioca, a resposta será forçosamente: no CORDÃO DO BOLA PRETA (um dos blocos mais antigos do Rio. Existe até hoje e vai muito bem). Se, por acaso, e eu duvido, houver opinião em contrário, será de quem nunca pisou no BOLA ou nunca tinha ouvido o som mais alegre e carnavalesco da cidade carioca.

Tradicional reduto de nossa maior festa popular, é lá que se exibe a quentíssima BANDA DO SODRÉ, com um conjunto de metais e ritmos, que este disco em boa hora apresenta (…). A música que desce às ruas é de tal natureza vibrante, que as calçadas  e as vias vizinhas transformam-se em verdadeiros bailes populares” (3). E a festa, por toda cidade, segue no período momesco.

O disco traz 27 canções de mestres como Noel Rosa, Paulinho da Viola, Heitor dos Prazeres, Lamartine Babo, entre outros, “do que melhor se fez no gênero da música carnavalesca”, magistralmente quando se ouve Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida ou Jurar Com Lágrimas, soladas “pela extraordinária cantora que é a nossa querida ELIZETH CARDOSO”, no LP que foi lançado há 55 anos, o qual toca uma seleção de pura alegria. Sem, no entanto, deixar a desejar nada à produções fonográficas digitais atuais. O que importa é uma coisa só: a música, a folia, a festa…

Amigo (a) leitor (a), esperamos que você goste do assunto que abordamos neste artigo. A nossa equipe também está na torcida por uma festa momesca cheio de alegria, de paz, de respeito entre todos, Brasil afora. Se puder ouça os discos citados abaixo. VIVA O CARNAVAL BRASILEIRO DE 2025!

NOTINHA ÚTIL 1 Hoje, o jovem Heitor está completando mais um mês de idade. Ao mesmo desejamos muita saúde e vida longa. Como pernambucano da gema e já adepto do irretocável carnaval-frevo do Nordeste, far-se-á presente, juntamente com os seus pais Winnie e David, na ala infantil do Galo da Madrugada, cujo cordão vai passar sobre a ponte Duarte Coelho, que atravessa o rio Capibaribe, no centro do Recife-PE (www.facetasculturais.com.br).

NOTINHA ÚTIL 2 – Ontem à noite a leitora do nosso blog, senhora Odaiza Garcia Barroso, reuniu na sua casa, no bairro do Coroado, Manaus (AM), familiares, amigos e “irmãos” da Paróquia do Divino Espírito Santo, onde se congrega, para celebrar os seus 60 anos de vida. Ela fora saudada pelas palavras abençoadas do padre Ângelo, num ambiente típico de fraternidade familiar. À aniversariante, a nossa equipe deseja muita saúde e vida longa (www.facetasculturais.com.br).

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes consultadas: 1. LP Carnaval – I, col. Nova História da MPB, SP: Abril Cultural, 1979; 2. LP Carnaval – II, col. Nova História da MPB, SP: Abril Cultural, 1979; 3. LP “Elizeth no BOLA PRETA com a banda do Sodré”, ao vivo, SP: gravadora Copacabana, 1970.

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