Sebastião Salgado: A Humanidade em Preto e Branco

Desde que eu tinha cerca de 18 anos, quando me deparei pela primeira vez com uma fotografia de Sebastião Salgado, sua obra nunca mais saiu da minha vida. A partir dali, tornei-me fã incondicional desse artista que, com sua câmera, transcende a fotografia para tocar profundamente as questões humanas, sociais e ambientais.

Nascido em Aimorés, no interior de Minas Gerais, em 1944, Sebastião Salgado é um dos maiores fotógrafos documentais da história contemporânea. Embora formado em Economia, foi na fotografia que encontrou sua verdadeira vocação. Sua trajetória é marcada por uma sensibilidade ímpar na representação das lutas, dores e resistências da humanidade, sempre com um olhar poético e profundamente ético.

Salgado percorreu mais de 120 países, muitas vezes enfrentando situações extremas, para registrar trabalhadores, migrantes, refugiados e populações esquecidas pelo mundo. Sua fotografia é marcada pelo uso do preto e branco, que, longe de ser uma simples escolha estética, aprofunda as emoções, ressalta os contrastes e universaliza as experiências humanas.

O fotógrafo não se limita a ser um mero observador. Ele se compromete com as causas que fotografa. Suas imagens são denúncia, poesia e, muitas vezes, um grito silencioso em prol dos que vivem à margem.

Em 2014, sua história e sua missão ganharam as telas no documentário “O Sal da Terra”, dirigido por Wim Wenders e por seu próprio filho, Juliano Ribeiro Salgado.

O filme não apenas apresenta a trajetória profissional de Salgado, como também revela sua transformação pessoal. Após décadas testemunhando guerras, fome e miséria, o fotógrafo chega ao limite emocional. Essa crise o leva a se reconectar com a natureza, dando origem ao projeto “Gênesis”, um registro poderoso das belezas intocadas do planeta.

“O Sal da Terra” é mais do que um documentário sobre fotografia. É uma reflexão profunda sobre o ser humano, sua capacidade de destruição e, ao mesmo tempo, de regeneração e esperança.

O esgotamento emocional o levou de volta às raízes. Ao retornar à fazenda da família em Aimorés, devastada pela degradação ambiental, ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, decidiram começar um projeto de restauração florestal, que mudaria suas vidas e a história da região. Assim nasceu o Instituto Terra.

Fundado em 1998, o Instituto Terra é uma organização ambiental sem fins lucrativos que promove a restauração da Mata Atlântica na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais.

Quando Sebastião e Lélia retornaram à fazenda da família, encontraram um cenário desolador: uma terra árida, degradada, sem vida. Movidos pela crença de que era possível regenerar aquele ecossistema, deram início ao que se tornaria uma referência mundial em reflorestamento e recuperação ambiental.

O que o Instituto Terra já realizou:

– Mais de 2,7 milhões de árvores nativas plantadas.

– Restauração de mais de 600 hectares de Mata Atlântica.

– Recuperação de dezenas de nascentes e cursos d’água.

– Formação de milhares de profissionais e agricultores em educação ambiental e manejo sustentável.

O Instituto não apenas planta árvores. Ele forma pessoas, gera conhecimento, recupera biodiversidade e inspira o mundo a acreditar que a regeneração é possível.

Obras Icônicas: As Fotografias que Marcaram o Mundo

Aqui estão algumas das imagens mais emblemáticas da carreira de Sebastião Salgado, verdadeiros marcos da fotografia documental:

Serra Pelada, Brasil (1986)

Uma das imagens mais famosas de Salgado. Milhares de trabalhadores, como formigas humanas, escalam uma gigantesca mina de ouro a céu aberto na Amazônia brasileira. A fotografia é um retrato chocante da desigualdade, da exploração e da busca por sobrevivência.

Refugiados no Sahel, África (1984-1985)

Parte do projeto “Sahel: O Fim do Caminho”, documenta a seca devastadora que assolou a região. As imagens são comoventes: crianças subnutridas, mulheres exaustas e famílias deslocadas que lutam pela vida em meio ao deserto.

    Kuwait, Campos de Petróleo em Chamas (1991)

    Após a Guerra do Golfo, Salgado fotografou os trabalhadores tentando apagar os incêndios nos poços de petróleo provocados pelas tropas iraquianas. O contraste do preto da fumaça e do branco das roupas de proteção cria imagens de apocalipse industrial, surreal e poético ao mesmo tempo.

      Êxodos (1993-1999)

      Resultado de sete anos percorrendo o mundo, este trabalho retrata os fluxos migratórios causados por guerras, perseguições, fome e pobreza. São imagens que dialogam profundamente com a atual crise humanitária global, mostrando que a busca por dignidade é uma constante na história humana.

      Gênesis (2004-2013)

        A obra de Sebastião Salgado é, para mim, fonte inesgotável de inspiração desde minha juventude. Seu trabalho me ensinou que a fotografia não é apenas uma técnica, mas um instrumento poderoso de transformação, empatia e resistência.

          Salgado não apenas registra o mundo — ele nos obriga a olhar para ele. Suas imagens são convites, às vezes dolorosos, às vezes sublimes, para que reflitamos sobre quem somos, o que fazemos e, sobretudo, sobre o que ainda podemos fazer para tornar o mundo mais justo e mais sustentável.

          Para Saber Mais:

          Instituto Terra – Conheça e apoie o projeto de reflorestamento de Sebastião e Lélia.

          Amazonas Images – Galeria oficial das obras de Salgado.

          “O Sal da Terra” – Disponível no Globoplay, Mubi, Amazon Prime e YouTube.

          Livros recomendados: Trabalhadores, Êxodos, Sahel, Gênesis.

          Winnie, Gomes e Angel

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