“A fogueira tá queimando/Em homenagem a São João/O forró já começou/Vamos, gente, rapa pé nesse salão” (São João na Roça/1952, de Zé Dantas- Luiz Gonzaga).
Em poucas palavras, a revista Continente, diz muito sobre a tradição da cultura junina praticada no Nordeste Brasileiro: “Mais do que uma festa, o São João de Pernambuco é uma grande tradição. Através do forró, da culinária, das crenças, costumes e folguedos, o povo ganha as ruas de Caruaru, do Recife e de todas as cidades do Estado para se divertir com alegria. E é essa manifestação espontânea e contagiante que faz do São João de Pernambuco o melhor do mundo”.

Corroborando com a citação acima, pode-se dizer, sem exagero, que “o Brasil pega fogo no frio”, isto é, “em pleno inverno, quando esfria na maior parte do país, as festas juninas esquentam nossos corações. Tem muita fogueira, quadrilha, forró, fogos, tradições, crendices e as comidas bem brasileiras” (1), inclusive, os seguintes versos populares dizem muito sobre o tema aqui abordado: “São João está dormindo,/não acorda, não./Acordai, acordai, acordai, João”.
Segundo a tradição, a alegria dos arraiais brasileiros vem de 440 anos. Hoje, “tem forró, vanerão, baião, xaxado. A quadrilha trazida pela corte real portuguesa, no século 19, tornou-se atração máxima. Damas e cavalheiros, façam os pares. A festa vai começar”. E começa com muita música e dança contagiando a todos os presentes à folia. Tem mais. Há comidas típicas para todos os gostos e todas as idades durante todo o festejo.
Reza a lenda que João Batista, primo de Jesus Cristo, nasceu no dia 24 de junho, devido a um milagre, haja vista que os seus pais, Izabel e Zacarias eram pessoas de idade avançada. Aliás, foi João quem batizou Jesus no Rio Jordão. Vem daí, portanto, o termo “Batista”, ou seja, “aquele que batiza”. Interessante fato religioso que tem se perpetuado no tempo.
No Hemisfério Norte era verão. Por lá, os povos comemoravam as colheitas acendendo fogueiras para afastar espíritos que impediam a fertilidade do plantio. Quando João nasceu, sua mãe acendeu uma fogueira, para avisar a prima Maria, mãe de Jesus, a tão esperada chegado da criança.
Essa prática festiva é comemorada em vários outros países. No Brasil, por exemplo, de Norte a Sul, independente da localidade, a tradição está mantida, dentro das suas proporcionalidades, é claro. Isso bem antes da “visita” dos portugueses os silvícolas já tinhas as suas práticas, do seu modo, é óbvio. “Os índios já cultivavam gengibre, mandioca, amendoim, batata-doce, cará, abóbora, inhame, etc, presentes nas festas das comunidades. De Portugal veio o forno de farinha, mais os diferentes temperos e modos de prepará-los. Cada região contribuiu, do sulista pinhão às nortistas castanhas de caju e castanhas-do-pará. E pé-de-moleque, cocada, beiju, bem-casado, bolo de macaxeira (mandioca ou aipim), entre outros” (1).
“Alimento tipicamente indígena, o milho – símbolo culinário da festança – se colhe em São João, no Nordeste. Dá pamonha, canjica ou mungunzá, pipoca, espiga assada ou cozida, farinha, bolo, biscoito, broinha, manuê, pudim, curau, cuscuz. Dá fubá, que dá angu, pão, broa, mingau, cubo. Canjica é milho cozido com leite de coco, amendoim torrado e leite condenado. Canjiquinha é milho cozido quebradinho em água” (1).

Ainda sobre a cultura indígena, consta que a lenda do milho nasceu assim: o chefe da tribo Pareci, chamado Ainotoré, pressentindo a morte, chamou seu filho Kabitoé e ordenou que enterrasse seu corpo no meio da roça. Avisou-o que em três dias brotaria da cova a planta que rebentaria em espigas com grãos. Mas que sua gente não comesse; que as sementes fossem guardadas para serem replantadas; a tribo ganharia, para o resto da vida, precioso recurso alimentar. Daí, nasceu o milho, originário do Continente Americano.
Para melhor enfatizar, citamos alguns versos do magistral poema Oração do Milho, de Cora Coralina (1889-1985), que dizem: “Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito./Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante./Sou a farinha econômica do proletário…/Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde/Sou o milho”.
Outro elemento característico dos festejos é o balão. É comum os brincantes soltarem balões. “O balão leva promessas a São João e traz saúde ou dinheiro. Há quem faça pedidos ao santo. Se o balão estourar, o desejo não foi realizado. Desde de 1998, vender, transportar ou soltar balões é crime ambiental” (1).
Lamartine Babo (1904-1963), cantor e compositor carioca, autor de muitas canções populares, nos deixou a dançante Chegou a Hora da Fogueira: “Chegou a hora da fogueira/É noite de São João/O céu fica todo iluminado/Fica o céu todo estrelado/Pintadinho de balão/Quando eu era pequenino/De pé no chão/Eu cortava papel fino/Pra fazer balão/E o balão ia subindo/Para o azul da imensidão” (1).
Por fim, desejamos a todos em todo país, ótimos festejos. Repletos de muita alegria, harmonia e paz. Aqui no Amazonas, mas precisamente em Parintins, está ocorrendo o 58º Festival da Floresta, com as apresentações dos Bois Garantido e Caprichoso; em Caruaru (PE), no Alto do Moura, continua o movimentado Festival Junino; em Campina Grande (PB), as festividades prosseguirão até o dia seis de julho. É a manifestação da nossa cultura popular que ocorre Brasil afora.
Notinha útil – No próximo dia 1º de julho, o nosso Heitor estará completando mais um mês de vida. Ao mesmo desejamos muita saúde e que, juntamente com os seus pais, continuar participando das belas e organizadas festinhas infantis que estão ocorrendo em toda grande Recife, mais ainda, no arredores da Jaqueira, no bairro Graças.
Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.
Fonte consultada: 1. Andreato, Elifas. Almanaque Brasil de cultura popular. SP: NS & A/TAM, 2005.