“A gente também fala tupi” (2)

Com este artigo, vamos continuar o interessante assunto sobre expressões originárias do tupi, e que fazem parte do nosso cotidiano, em qualquer das cinco grandes Regiões geográficas brasileiras. Aliás, recebemos aprovação de leitores que contataram conosco, pela iniciativa desse resgate histórico-literário, cujo primeiro artigo foi publicado na semana passado.

IPANEMA: “Do tupi ypanema, água ruim. O famoso bairro carioca que tem este nome, responsável pela disseminação de novidades em palavras, em modos, em ideias, e em comportamento, chamou-se nos primeiros tempos Villa Ipanema. Foi fundado em 1894 pelos herdeiros de José Antônio Moreira, conde de Ypanema (1797-1879). Mas o Ipanema do conde tinha outra origem: o Rio Ypanema. nas cercanias de Sorocaba, São Paulo. A água ruim, portanto, não era do mar do Rio, mas a de um rio paulista. Os nomes das ruas do bairro repercutem o fundador. Três delas foram batizadas com os nomes dos genros dele: Alberto de Campo, Dr. Farme de Amoedo e Manuel Pinto de Almeida Montenegro. Este último, porém, mudou de nome há pouco tempo, passando a homenagear o poeta Vinicius de Moraes (1913-1980). Porém, continuam com a mesma denominação a 28 de Agosto e a 20 de Novembro, que lembram, respectivamente, as datas de nascimento do conde e de sua esposa Luiza Rudge”.

MARACUTAIA: “Provavelmente do tupi, pela formação marã, confusão, ku, língua, e taya, pimenta, designando fraude, negociata, ato ilícito. A palavra tupi seria o equivalente a expressão, tão cara ao português coloquial, língua venenosa. A pimenta arderia na boca do falante pelo ato reprovável. Maracutaias vigem no mundo sobre outras designações, já que o tupi e o português não são correntes no mundo globalizado. Mas os atos denunciados pelo famoso Deep Throt podem ser identificados como maracutaias americanas de Richard Nixon, para quem valia tudo desde que servisse seus propósitos políticos. “Não fui eu e não sou eu”, negou o informante por três décadas, até 31 de maio último (2005), quando revelou a identidade, surpreendendo até os que guardavam o célebre sigilo. Felt pode ter tido também motivação pessoal para começar a conversar com o repórter Bob Woodward, preterido que foi na chefia do FBI, para a qual Nixon nomeou um de seus homens. Ex-promotores federais americanos declararam que Felt violou as Políticas do FBI e do Despertamento de Justiça, mas, se alguns dos vazamentos fossem caracterizados como crimes, já estariam prescritos, pois se passaram mais de 30 anos. O caso Watergate teve tamanha influência no mundo que até a imprensa brasileira, quando foi aberta a CPI que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor, batizou o caso como Collorgate”.

MURIQUI: “Do tupi myra’ki, aquele que balança. É o maior macaco das Américas. Vive principalmente mas matas de São Paulo, Bahia e Minas Gerais, mas o Município de referência é Caratinga (MG). Ali funciona, desde 1982, a Estação Biológica de Caratinga, pioneira na preservação desse macaco que é para o Brasil o que o urso panda é para a China, o tigre para a Índia e o orantango para a Indonésia. Os macacos, claro, não dirigem a estação, pois além do mais são anarquistas pacíficos, e certamente apreciam o comando do pesquisador Eduardo Marcolino. Em reportagem da revista Ícaro (out/04), o jornalista Carlos Moraes informa que os muriquis são mansos, solidários, generosos e não brigam por comida nem pelas fêmeas. Restam só 1300 muriquis espalhados pelo que ainda existe de mata atlântica”.

TINHORÃO: “De origem controversa, provavelmente do tupi taynharô, erva de folhas grandes manchadas de vermelho, vistosa e bonita, utilizada como vermífugo e anticatarral. Tinhorão é também sobrenome. Um dos mais conhecidos é José Ramos Tinhorão. Jornalista e musicólogo brasileiro, pesquisador de nossas modinhas e autor de vários livros de referência sobre MPB, entre eles Pequena história da música popular – Modinha do Tropicalismo e Música Popular, Cinema e Teatro. Polêmico ele jamais aprovou bossa nova”.

PIPOCA: “Do tupi pi’poka, estalando a pela. Provavelmente veio daí a denominação  da guloseima vendida às portas dos cinemas, feita com um tipo especial  de milho estalado, a popular pipoca. Muitos flertes e namoros não dispensam as pipocas”.

Senhores leitores, eis aqui, mais uma reunião de palavras originárias da língua tupi e, incorporadas ao português que falamos continuamente. Esperamos que gostem do significado desses vocábulos pátrios.

Notinha útil – A mais nova integrante do Facetas, Angeline Gomes, aniversariou ontem na sua cidade natal: Manaus (AM). À mesma, as nossas felicitações. É a linda juventude. Que tenha muita saúde e vida longa. No mesmo ritmo, na próxima segundo, dia 1º de setembro, o jovem Heitor, fará um tour no Marco Zero, no Recife (PE), com os seus pais, é claro, para comemorar mais o mês de vida. Parabéns! (www.facetasculturais.com.br).

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte consultada: 1.Coluna “Etimologia”, do professor Dionísio Silva, revista Caras, nºs 564, 578 e 608, de marco e julho de 2004; e agosto de 2005, respectivamente; 2. Foto do artigo: capa da revista Sala de Aula, nº 19, ano 3, abril/1990, fundação Victor Civita.

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