Você sabe quem foi José Ribamar Ferreira? Uma dica: ele nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930 e faleceu no dia 04 de dezembro de 2016, no Rio de Janeiro (RJ), aos 86 anos. Ainda muito jovem – aos 21 anos -, foi premiado em concurso de poesia pelo Jornal de Letras maranhense, Aos 24 anos, em 1954, publicou “A luta corporal”, considerado por estudiosos, a obra mais importante da carreira. Com o passar dos anos se tornou um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Estamos, portanto, falando daquele que uso o o nome artístico de FERREIRA GULLAR.
Sobre ele, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, disse: “De Ferreira Gullar pôde escrever Vinicius de Moraes que é o último grande poeta brasileiro. E é a última voz significativa da poesia, atalhou o nosso Pedro Dantas. Parece-me a mim, além disso, que, exceção feita de algumas peças de Mário de Andrade e também de Carlos Drummond de Andrade (mormente em Rosa do povo), é o nosso único poeta maior dos tempos de hoje” (1).

Em 1990, o nosso versátil sambista Martinho da Vila (87 anos), lançou o disco “O preto e o branco são suportes para todas as cores” (dedicado a Winnie Mandela, diga-se de passagem). E, na contracapa, consta o poema “A vida bate”, de Ferreira Gullar, extraído do livro Dentro da noite veloz (1975), do citado poeta. Oportunamente, reproduzimos aqui, na íntegra o poema em questão:
“Não se trata do poema e sim do homem e sua vida/ – a mentida, a ferida, a consentida/vida já ganha e já perdida e ganha outra vez./Não se trata do poema e sim da fome de vida,/o sôfrego pulsar entre constelações e embrulhos, entre embrulhos./Alguns viajam, vão a Nova York, a Santiago do Chile. Outros ficam mesmo na Rua da Alfândega, detrás de balcões e de guichês./Todos te buscam, facho de vida, escuro e claro,/que é mais que a água na grama/que o banho no mar, que o beijo na boca, mais/ que a paixão na cama./Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns te acham e te perdem./Outros te acham e não te reconhecem/e há os que se perdem por te achar,/ó destino, ó verdade, ó fome de vida!/O amor é difícil/mas pode luzir em qualquer ponto da cidade./E estamos na cidade sob as nuvens e entre as águas azuis. // A cidade vista do alto/ela é fabril e imaginária, se entrega inteira/como se estivesse pronta./Vista do alto com seus bairros e ruas e avenidas, e é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém./Mas vista de perto,/revela o seu tórrido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm/que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro sangue urbano movido a juros. // São pessoas que passam sem falar/e estão cheias de vozes e ruínas./És Antônio?/És Francisco?/És Mariana?/Onde escondeste o verde clarão dos dias?/Onde escondeste a vida que em teu olhar se apaga mal se acende?/E passamos carregados de flores sufocadas. // Mas, dentro, no coração, eu sei a vida bate. Subterraneamente, vida bate./Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi, sob as penas da lei, em teu pulso, a vida bate./E é essa clandestina esperança/misturada ao sal do mar que me sustenta esta tarde/debruçado à janela do meu quarto em Ipanema/na América Latina” (1).
Senhores é de arrepiar. Nos faz refletir sobre “tantos desencontros na vida”, como versou Vinicius de Morais. Os algozes das guerras estão mundo afora tentando suplantar a “clandestina esperança”. A vida bate, pulsa, e jamais perderá para esses insensatos.
Notinha útil – Dedicamos a essência deste poema a todas as pessoas, principalmente aos nossos leitores. Este é o nosso último artigo deste ano de 2025, e pregamos a paz, o amor, o respeito aos direitos fundamentais da humanidade. “Todos te buscam, facho de vida, escuro e claro” (www.facetasculturais.com.br).
Feliz ano de 2026! São os votos de Angeline, Francisco e Winnie.
Fonte consultada: 1. Gullar, Ferreira. Toda poesia. – 12 ed. RJ: José Olympio, 2004, pp.180/181.