Ferrarini: “É preciso respeitar a identidade da Amazônia”

Nós, do Facetas, estamos sempre dinamizando as nossas publicações para melhor comodidade de leitura dos nossos seguidores. No mês passado, anunciamos que a partir deste mês, faríamos, mensalmente, um artigo especial (tema livre), um de poemas, um de composição musical e um tour, sem ser necessariamente esta ordem. Tudo dependerá do conteúdo pesquisado. Assim estamos escrevendo e, tudo está sendo bem aceito pelo nosso público. Hoje, por exemplo, são dois poemas sobre dois elementos geográficos amazônicos: rio e lago.

Desde os anos 80 que o irmão Irmão Ferrarini (como é bastante conhecido nos meios acadêmico e religioso) o premiado professor, pesquisador, historiador, escritor, amazonôlogo, etc, o marista Sebastião Antonio Ferrarini, publica as suas obras, principalmente sobre a Amazônia. O seu livro “Cenários Amazônicos”, ora em análise, é indispensável ao conhecimento de toda aquela pessoa que tem interesse em conhecer e aprender mais sobre esta região. São 19 temas abordados como: As inquietações da floresta, A suavidade da…, As forças da…, Os recursos da…, O futuro da…, entre outros. Além, é claro, de um excelente prefácio, assinado por Dom Moacyr Grechi.

Confesso que há muito tempo não lia um prefácio tão bem alinhado com o bojo da obra (quem é dado à leitura com frequência, sabe que algumas apresentação, introdução e prefácio, às vezes, não são feitos em consonância com o contexto do trabalho apresentado.. Mas, essa é outra temática. Fica, portanto, esse questionamento para outra oportunidade). Sabiamente Dom Moacyr substitui a palavra Amazônia pelos termo “jardim e “paraíso”. Sem, no entanto, diminuir a importância da região universalmente, em todos os sentidos. Por exemplos: “A imagem do jardim nos atrai, nos fascina, e também nos espanta!”; “O jardim vem a ser a nossa casa primeira”; “O ser humano sente saudades do jardim;” “O jardim, é pois, nossa casa comum e eterna: o paraíso!”; “Nesse cenário ambiental destaca-se a Amazônia”.

O livro deixou de fora as teorias mirabolantes regionais. Seu conteúdo é bem simples, pedagógico e educativo. Porém, “o autor não esconde sua preocupação com a Amazônia. É preciso conhecê-la mais e melhor para tanto mais amá-la e preservá-la. O grito deve ser todos e todas. As atitudes também”. Ou ainda, “os sinais de morte estão por todo lado, mas a força da vida e pela vida nos animam a ser defensores e restauradores das paisagens-jardins que ainda existem em nosso planeta” (1).

Por fim, Dom Grechi exclama: “Oxalá as formas simples e atraentes que o Ferrarini encontrou para nos falar das flores, das águas, das florestas e dos animais provoquem o compromisso solidário de todos nós em valorizar toda essa realidade ecológica indispensável à plena realização do humano e possibilitar melhor qualidade de vida para todos do planeta Terra-Água!” (1)

Por sua vez, diz Ferrarini: “A imensa Amazônia aí está com seus enormes recursos naturais para serem desfrutados com equilíbrio, com respeito, de modo inculturado (?), para o benefício de todos”. Porém, “A Amazônia é uma das marcas mais conhecidas hoje do mundo” (1). Neste artigo, abordamos dois elementos geográficos bem comuns por aqui, em forma de versos: O Rio Amazonas, como “Estrada Real”, e “Lago”, como braço d’agua como serventia dos povos amazônicos, e fonte de locomoção, de fornecimento de alimentação e de contemplação. Vamos à íntegra dos dois poemas:

ESTRADA REAL. “Águas imensas, esparramadas;/Águas por toda a superfície,/Jamais esgotadas em versos e em prosa/Destas plagas e exuberância e a meiguice. // Por muitos povos palmilhados/De Orellana tempos imemoriais./Disputadas, dilaceradas, aviltadas,/Por dezenas de homens mui brutais. // Tornou-se logo presa dos portugueses,/Ignorando o Trata de Tordesilhas,/Pois as especiarias ali existentes/Fizeram do comércio uma maravilha! // Na impossibilidade de aminhos terrestres,/Os portugueses da época de Pombal/Denominaram o Rio Amazonas/De majestosa Estrada Real” (1).

LAGO. “Mansas águas, serenos mares/Perdidos, atirados na imensa Amazônia;/Em harmonia com a floresta,/Vivificando, umedecendo os ares. // Abrindo uma fauna prodigiosa/Paraíso das aves ictiófagas;/Bordejados de densa Canarana,/Numa paisagem luxuriante, misteriosa. // Tomado de inopino pelo mururé,/Invadido no inverno pelo rio colossal;/Percorrido com avidez pelo mariscador,/Águas singradas por velozes igarapés. // Escondido em meio à floresta,/Abrigado por densa vegetação; // Vai perdendo hoje sua beleza original,/De sua fauna já pouco lhe resta. // Entre os inúmeros espécimes florísticos/Esconde a vitória-régia,/Que vai perdendo a sua pujança/Descaracterizando o aspecto paisagístico. // Findo o inverno as águas escoam;/O lago recebe outra vida./Retoma a calmaria e a vida própria:/animais, aves, ervas novamente o povoam” (1).

É deveras fascinantes, senhores leitores. O Rio Amazonas é mesmo colossal. A sua família de lagos, igarapés, ilhas, paranás, furos, igapós, etc, é algo gigantesco em tudo. Na vida, principalmente. Quer saber algo mais ainda, leia o poema Amazonas Pátria D’agua, do LP “Mormaço na Floresta”, do saudoso poeta amazonenses Thiago de Mello. Se o lago poético do Irmão Ferrarini, em nós abriga tanta imaginação/contemplação, mais ainda abriga em mim as lembranças do real “Lago do Veneza” – nome do seringal onde moramos -, lá longe, dentro do rio Pauini, distante dezenas e mais dezenas de quilômetros do rio Purus, e centenas de quilômetros de Manaus (AM), onde realmente vivi com os meus pais e irmãos e um tio, quando remávamos, de volta pra casa, no final de tarde, naquelas águas serenas repletas de peixes e quelônios. Aqueles verdes anos são os anos maduros de hoje, meio século depois. É como, “Vida, minha vida”, de Chico Buarque. A vida segue com estas perguntas: Qual é o lago da tua vida, leitor? Quais são as águas mansas do teu rio, do teu viver, da tua paz, da tua felicidade?

Notinha útil – Que amanhã, dia 20 de novembro, consagrado ao Dia da Consciência Negra, não seja apenas mais uma data do calendário anual, mas de conscientização mesmo, de respeito, de igualde racial e de direitos individuais assegurados. Esta frase é de significado universal: “O PRETO E O BRANCO SÃO SUPORTES PARA TODAS AS CORES” (da contracapa do LP Martinho da Vila, por Martinho da Vila/1990).

Por Angeline, Francisco e Winnie.

Fonte: 1. Ferrarini, Sebastião Antonio. Cenários Amazônicos. – Porto Alegre, CMC Editora, 2006.

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