A genialidade de Giorgio Vasari

Em 2011 a Fundação Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro (RJ), realizou a exposição “Giorgio Vasari, 500 anos – A invenção do artista moderno”, no período de 21 de novembro de 2011 a 17 de fevereiro de 2012, com “quase 200 abras selecionadas”. Entre elas, um exemplar datado de 1568 contendo mil páginas divididas em três volumes, considerado o principal trabalho desse pintor: “VIDAS dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos”. Que, segundo a curadora do evento, Elisa Byington, esse livro, de meados “do século XVI, sistematiza a consciência histórica da arte”. Há uma edição brasileira na FBN que veio para o Brasil com a Família Real em 1808, que pertencera a biblioteca particular do Ourives inglês Guglielmo Dugood , “que viveu diversos anos na Itália a serviço da Coroa Portuguesa”.

Nascido na Itália, na cidade de Arezzo há cinco séculos, “Giorgio Vasari (1511-1574) era pintor e arquiteto famosíssimo em seu tempo. Atendeu a príncipes e papas em suas encomendas, tendo desempenhado papel crucial na construção da imagem do Duque de Florença, Cosme I Médici. Apesar de ser autor de célebres pinturas que decoram o Palazzo Vecchio, sede do governo florentino, e de ter realizado a arquitetura dos Uffizi – principal museu da cidade, entre os mais importantes do mundo – nada o fez tão lembrado pelos estudiosos de arte quanto ter escrito as VIDAS dos mais excelentes pintores, escultures e arquitetos”.

Segundo Ana de Hollanda, à época da exposição, Ministra da Cultura, Vasari foi “o primeiro historiador da arte, principal responsável pela ideia que temos desta base chamada de Renascimento. O movimento cultural batizado com esse nome revolucionou todos os âmbitos da ciência e da técnica, valorizou a filosofia e a literatura antigas, celebrou os feitos terrenos de seus heróis a exemplo da Antiguidade, e se apaixona novamente pela beleza”.

Como, então, esse italiano adquiriu tanto domínio artístico? Consta na biografia dele ser o mesmo dotado de uma genialidade aguçada, ímpar. Também, como pesquisador. Isso ficou mais evidente, quando decidiu “viajar por seu país como pintor que atendia pedidos em diferentes localidades, ele pode ver nas residências, igrejas e mosteiros, obras que lhe pareceram extraordinárias e temeu que o tempo as fizesse desaparecer sem deixar registro”.

Assim, “passou a descrevê-las e a desenhá-las (300 anos antes do advento da fotografia) tanto para conservar a memória da sua existência (da arte), procurando ordená-la segundo à época em que haviam sido feitas. O trabalho meticuloso acabou resultando na construção pioneira de um grande livro de história da arte que não perdeu a validade nem o fascínio até hoje” (1).

Renascentista nato – um dos maiores nomes das artes italianas – , Vasari, cuja identidade, apesar de já passado meio milênio, “se confunde com a da própria história da arte”, além de ser pintor, arquiteto e historiador, como já mencionado, era possuidor de um talento inquestionável de escritor. Isso lhe garantiu uma influência sólida no contexto artístico que transcendeu o tempo e chegou aos dias atuais, em pleno século XXI. Portanto, VIDAS dos mais excelentes… é responsável por preservar a memória da vida e da arte de Da Vinci, Rafael, Michelangelo, entre outros, por exemplo.

“Costumavam os espíritos egrégios, por aceso desejo de glória, não perdoar a fadiga alguma, ainda que gravíssima, para conduzir suas obras àquela perfeição que as tornava estupendas e maravilhosas a todo o mundo, fosse para viverem honrados, fosse para deixar aos tempos futuros a eterna forma de toda a sua rara excelência”. Com esta citação Giorgio começa o seu majestoso livro, descrevendo os princípios que delimitam um período de três séculos da arte italiana – do século XIII ao século XVI -; de Giotto a Michelangelo. Fantástico!

O autor em foco torna explícita a diferença da sua abordagem crítica, isto é, de quem entendia da arte propriamente dita, em relação aquela praticada pelos “letrados” que apenas compilavam listas sem os critérios necessários a diferenciar os artistas segundo épocas e “escolas”, quando diz: “Esforcei-me não apenas a dizer o que eles fizeram, mas também a escolher o melhor do bom e o ótimo do melhor, anotando com zelo os modos, os ares, as maneiras, os traços e a fantasia dos pintores e dos escultores; investigando o máximo que soube, para dar e conhecer aos que per si (por si) próprios não sabem fazer, as causas e as raízes das maneiras e da melhoria das artes em diversos momentos e a diversas pessoas” (1).

Quem ousa, portanto, discordá-lo? Quem tinha conhecimento de causa para negar que esse mestre não foi o inventor do artista moderno, em pelo mesmos três das artes do seu tempo? Foi a partir do seu incansável esforço histórico que se deu “a difusão da maneira moderna” dessas criações. Dos seus criadores, como Vasari declara: “… e os povos, ao vê-la, correram feito loucos atrás desta beleza nova e mais viva, parecendo-lhes que não se pudesse jamais fazer melhor”.

VIDAS dos mais excelentes… é, no entanto, uma obra – um manual de artes – primorosa. A edição por nós analisada, tem 196 páginas, em papel especial e formato de álbum. Seu conteúdo histórico da ERA DE OURO. São mais de 270 desenhos, pinturas e gravuras magníficos. É coisa de gente grande, no sentido da admiração pelas artes. Coisa de gênio. Esperamos, assim, mais uma vez, atender as expectativas dos nosso fiéis leitores. Aos quais somos gratíssimos.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte consultada: 1. Giorgio Vasari – a invenção do artista moderno: 500 anos/curadoria da exposição e redação do catálogo Elisa Byington – RJ: Fundação Biblioteca Nacional (2012).

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