Vinicius & Drummond. Drummond & Vinicius

No início dos anos 80, para quem adquirisse a coleção “Literatura Comentada” composta por 25 volumes de Bilac, Lygia Fagundes, Lima Barreto, Camões, Castro Alves, Pessoa, Gullar, entre outros, ganhava grátis, o disco “Drummond e Vinicius”, onde recitam os seus poemas: Rosário, Poema dos olhos da amada, Soneto de despedida; e Morte do leiteiro, José, Infância, Procura da poesia, respectivamente. Trata-se de um LP excelente, feito pela Abril Cultural.

São, portanto, duas marcas registradíssimas da nossa poesia, da nossa música. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta – o poeta maior -, mineiro de Itabira. Vinicius de Moraes (1913-1980), cantor e compositor carioca, da Gávea, o poetinha, no sentido carinhoso. O mineiro fez da cidade do Rio de Janeiro, o seu eterno recanto, a sua morada (definitiva). O carioca, fez do Brasil o seu mundo continental, seu abrigo nacional, como, por exemplo, Itapuã, na Bahia. Assim, a criação poética dos dois atravessou (e atravessará) o tempo desde então. Geração após geração.

Enquanto o comedido mineiro versa: “O mundo é grande e/ cabe nesta janela sobre o mar./ O mar é grande e/cabe na cama e no colchão de amar./ O amor é grande e/cabe no breve espaço de BEIJAR”, o intrépido carioca compunha: “São demais os perigos desta vida/para quem tem PAIXÃO”. E cada um, do seu modo, é claro, seguiu por mais de meio século, seu ofício, encantando pessoas com palavras.

Drummond morreu sete anos após Vinicius e nos deixou esta profecia poética: “Parece que tudo já foi dito sobre Vinicius. Agora só vale a pena dizer da saudade que ele deixou. Então vamos aguardar o futuro. Daqui a vinte ou trinta anos uma nova geração julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que nós não somos capazes de ter. Eu acredito que a poesia dele sobreviverá, independente de modas e teorias, porque responde a apelos e necessidades de todo ser humano. Vinicius passou a vida preocupado à sua maneira, usando meios próprios de expressão, com o problema do destino e da finalidade do homem. Para ele, a princípio, essa finalidade consistia na identificação com o absoluto. Depois com o tempo e para sempre, com o amor, que compreende uma vida social e individual, fundada na justiça e na paz. A plena realização do amor era a seu ver a razão da vida. E a poesia era o meio de tomar conhecimento e de espalhar essa verdade. Sua vida foi a ilustração do seu ideal poético. Ele queria um mundo preparado para o amor, livre de limitações, pressões e humilhações sociais e econômicas. Ora, um ideal dessa natureza é certamente eterno. E Vinicius defendeu-o com muita eficácia, quer na poesia pura, quer na poesia em forma de música” (1).

Drummond já previa o que poderia vir a acontecer com a nova geração – “daqui a vinte ou trintas anos” -, sobre a arte viniciana. Vieram sim. Tanto novos intérpretes como novos fãs e admiradores da sua arte musical, com novas releituras. Por exemplo, há 20 anos, a talentosa cantora Paula Morelenbaum lançou o disco “Berimbaum” , “dedicado a Vinicius de Moraes”.

Trata-se, no entanto, de um trabalho imperdível ao amante da boa música. O CD é lindo em todos os aspectos (intepretação, seleção musical, produção, fotografias, etc). São 12 canções, as quais foram escolhidas por ela de maneira bem criteriosa. Todas as 12 têm a marca incontestável de seu criador e parceiros como Baden Poweel, Tom Jobim, Carlos Lyra, Pixinguinha, Chico Buarque, em Tomara, Berimbau, Canto de Ossanha, Insensatez, Você e Desalento. Tem também, Luciana Moraes (1956-2011), recitando Ausência, de autoria do pai, Vinicius.

Regina Paula Martins Morelenbaum, artisticamente conhecida como Paula Morelenbaum, tem 62 anos de idade. Casada com o músico Jaques Morelenbaum. Ela canta profissionalmente desde o final dos anos 70; na década de 80, gravou os discos Céu na Boca e Baratotal. A partir de 84 foi integrar a Banda Nova, de Tom Jobim, a convite do próprio maestro, onde permaneceu por mais de 10 anos, como vocalista e solista. Nessa época, participou de várias temporadas no exterior. Porém, ainda lhe restou tempo para participar da gravação de três discos de Tom: Passarim, Antônio Brasileiro e Tom Jobim: Inédito.

Sua trajetória é brilhante. Outro disco seu, também imperdível é Água (2010), em parceria com o saudoso João Donato. Quando Vinicius morrei em 9 de julho de 1980, Paula era uma menina-moça de apenas 18 anos (incompletos, diga-se de passagem). Ela nasceu em 31 de julho de 1962, no Rio de Janeiro (RJ). Mas, tanto a sua maturidade pessoal quanto a musical, fizeram-na dedicar essa gloriosa obra – Beribaum – ao mestre Vinicius, voltada para a “estética e não emocionalmente o poeta”, como decantou Drummond no texto acima.

Finalizemos por aqui, antes que a saudade nos impeça de citarmos estes versos dele: “Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces/Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto ” (Ausência, Vinicius de Moraes). Mais, um artigo do Facetas, aos nossos fiéis leitores.

Notinha útil – No dia primeiro deste mês de abril, o garoto Heitor, completou mais um mês de vida. Ele, juntamente com os seus pais e avós paternos, curtiu muito lá no Recife (PE). Ao mesmo, os parabéns deste blog.

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fonte consultada: 1. Encarte do CD “Berimbaum“, de Paula Merelenbaum. SP: Universal, 2004.

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