“As origens do carimbó”

Na década de 1990, o filósofo e professor da Educação da Universidade do Amazonas (hoje UFAM), João Ribeiro, publicou importante artigo com o título acima, sobre o mestrado de Antônio Francisco Maciel, da Universidade do Pará (hoje UFPA), referente ao Carimbó “como um bem cultural não perecível”, daquele Estado, com expansão para outras unidades federativas do Brasil.

No estudo, o mestrando admite, que até então – de lá para já foram publicados novas pesquisas -, não havia material suficiente para melhor delinear a sua tese “sobre as origens, histórico e desenvolvimento do Carimbó”, isto é, “os documentos existentes sobre todos os elementos constituintes do carimbó – música, dança, poesia, etc – não vão além do corpus descritivos com base na mera observação dos fatos ou da dedução de testemunho de informantes” (1).

Como não poderia deixar de ser, o estudioso foi consultar folcloristas de peso como Vicente Salles, Luiz Câmara Cascudo, Maria Brígido, entre outros. Por exemplo, nos idos de 1958, Tó Teixeira, já assegurava que o Carimbo (do instrumento à música) foi dançado pela primeira vez pelos negros no bairro de Umarizal, em Belém do Pará, no início do século XIX. Para Brígido, da Comissão do Folclore Paraense, “as origens do Carimbó estão ligadas ao processo de aculturação das raças formadas no lugar. Com o passar do tempo, tornou-se uma dança típica do Pará; dança dos mestiços, dos mamelucos, dos mulatos e dos cafuzos” (1). Isso não se sustenta seguramente – do ponto de vista científico – que tenham sido os negros que deram origem instrumento, gênero musical e dança na citada região geográfica. Admite-se, portanto, que seja “realmente de origem africana, ficando o índio com o mero papel de elemento influenciador ou transformador deste fenômeno” (1).

Etimologicamente o termo “carimbó” vem do Tupi koribó quer dizer “pau que produz som”, ou melhor, a junção de “curi” (= madeira) e “mbó” (=oca) que, no correr dos anos passou a se chamar carimbó. O mestre Câmara Cascudo é, ainda, mais específico quando assegura que “Carimbó é um instrumento africano de percussão que domina uma dança de roda, popular na Ilha de Marajó, e arredores de Belém do Pará “, isto é, “principal instrumento musical utilizado nessa manifestação folclórica; é uma espécie de tambor feito com um tronco escavado e que é tocado com as mãos”. Também fazem parte: pandeiro, reco-reco, maricá, afoxé, banjo, flauta e ganzá.

Assim sendo, “o Carimbó é uma dança de roda típica do noroeste do Pará, situado no Norte do Brasil. Realizado em pares, tendo como marca registrada os movimentos giratórios e as coloridas saias rodadas das mulheres” (2). O Carimbó também é popularmente chamado de pau de corda, samba de roda e baião típico marajoara.

Suas principais características são: dança de roda em pares; o homem convida a mulher para dançar batendo palmas diante dela; saias coloridas; damas com adornos no pescoço e pulsos; cabelos enfeitados com flores. A vestimenta masculina é formada por camisa branca com detalhes coloridos; calças curtas e dobradas; pés descalços, entre outros detalhes.

“Em 2014, o Carimbó foi declarado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. E, em 2015, a dança recebeu oficialmente a mesma titulação pelo Instituto dos Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”, ao lado de manifestações como o Marabaixo e a arte kusiwa dos indígenas waiápi do Amapá; o maracatu, de Pernambuco; o tambor crioula, do Maranhão, etc.

“Nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos 70, o Carimbó ressurge, não só como música regional, mas na Região Nordeste – e por que não no Brasil? – como uma das principais fontes rítmicas (matriz tradicional) de gêneros contemporâneos, como a lambada, o tecnobrga, etc além de associar-se às festividades religiosas” (2).

Essa manifestação cultural popular obteve tanta notoriedade que, a cidade de Belém comemora 26 de agosto como o Dia Municipal do Carimbó, em homenagem ao nascimento de Augusto Gomes Rodrigues (1916-2009), mestre Verequete, cantor e compositor paraense, chamado de “Rei do Carimbó”, pela sua notável atividade artística no gênero e ritmo tradicionais com o grupo O Uirapuru .

Independentemente das controvérsias citadas no início, sobre as origens do Carimbó, entre esse ou àquele pesquisadores, a cultura popular paraense quer mesmo é cantar, dançar, declamar, tocar, esse contagiante gênero musical tão envolvente. Tudo é tradição. É arte. É dança. É do Pará. É do Norte. É do Brasil. Nos últimos 50 anos da nossa era, muitos cantores foram lançados como interpretes desse música. Em breve, escreveremos sobre um deles: Pinduca. Aguardem.

Notinha útil – Nesta semana, mas precisamente no dia 15, o Facetas foi honrosamente convidado pelos formandos de Farmácia, da UFAM, para participar da apresentação do TCC das acadêmicas Angeline, Indra e Kallena. Entre os professores presentes, estavam as doutoras Ellen Regina, Keyla Emanuelle, Patrícia Danielle, e a doutoranda Karin Krystina. Somos gratos pelo convite! A todas, muito sucesso. (www.facetasculturais.com.br)

Por Angeline e Francisco Gomes e Winnie Barros.

Fontes consultadas: 1. Ribeiro, João. As origens do carimbó. -Manaus: A Crítica, 10.04.1994; 2. Brasilescola.uol.com.br.

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